Entre prós e contras, Malasartes e o Duelo com a Morte é mais um passo positivo do cinema brasileiro. Dirigido por Paulo Morelli, a trama gira em torno de Pedro Malasartes (Jesuíta Barbosa), um malandro que, coincidentemente, é apadrinhado pela Morte (Júlio Andrade), um ceifador que já traçou outro caminho para o afilhado. Com a ajuda de seu assistente Esculápio (Leandro Hassum), a Morte deseja trocar de lugar com o jovem rapaz e se livrar do fardo de dar o fim às vidas. Aliás, tal fardo é consequência do roubo do poder das Três Parcas do destino (Cortadeira, Tecedeira e Fiandeira), responsáveis por criar e a dar o ponto final a linha da vida. Paralelamente ao submundo, acompanhamos a vida de Malasartes entre os vivos, em que o rapaz é apaixonado por Áurea (Ísis Valverde), mas tem pânico da palavra ‘compromisso’. Áurea é irmã de Próspero (Milhem Cortaz) que deseja loucamente colocar as mãos em Malasartes e cobrar o tanto de dinheiro que lhe deve.
A trama faz uma adaptação da figura Pedro Malasartes, personagem tradicional da cultura portuguesa e brasileira. É um exemplo de “burlão invencível, astuto, cínico, inesgotável de expedientes e enganos, sem escrúpulos e remorsos”. Assim que comecei a ver o filme, percebi que o estilo lembra o sucesso O Auto da Compadecida, em que o protagonista João Grilo é um rapaz bom, mas esperto e malandro o suficiente para enganar quem estiver ao seu redor, além de correr atrás do prejuízo e ainda descolar uma grana.
Malasartes e o Duelo com a Morte apresenta nitidamente os prós e contras em seu desenvolvimento. O longa se inicia com uma bela introdução animada e narrada por Lima Duarte, dando forma à premissa e contextualizando a trama. É interessante acompanhar a construção da história que ganha trejeitos por meio dos efeitos especiais. O primeiro ato explica a razão de a Morte ter roubado o poder das Três Parcas, o crescente tédio do trabalho exercido há 2000 anos e o funcionamento deste submundo. É aqui que entra o papel dos efeitos especiais, pois tal técnica constrói um mundo fantasioso, surreal e bonito em seu aspecto assombroso. O ambiente obscuro ganha uma iluminação com as milhares de velas que representam as respectivas vidas na Terra. As cordas tecidas pelas Parcas têm, por regra, representar o percurso de cada ser vivo. Pode se dizer que esse elemento representa o significado da frase “a vida por um fio”. Não vou me estender mais para não dar spoilers.
Pode ser que alguns não curtam tanto os efeitos, mas para mim, a técnica agrada e é um passo a frente dentro do cinema brasileiro. Além disso, tais efeitos colaboram na jornada de Malasartes e o ajudam a explorar o mundo dos mortos. Se o primeiro ato é redondo, bem estruturado e contextualizado, o segundo ato faz o filme declinar, tornando-se repetitivo em suas ações. As mortes que ocorrem ao longo da história são previsíveis e não surpreende tanto. Falta algum “elemento surpresa” nessa parte para chamar a atenção de quem está assistindo.
Outro arco que se torna maçante é a perseguição de Próspero. Ele tenta a todo custo colocar as mãos em Malasartes, mas o malandro sempre escapa, seja com a ajuda dos amigos, da Morte ou, até mesmo, com alguma eventualidade causada pelo próprio arqui-inimigo.
Gostei muito da escolha do ator Jesuíta Barbosa para o papel principal. No entanto, o filme poderia ter ousado um pouco mais no seu cinismo, já que as circunstâncias o ajudam mais do que a própria malandragem. Aliás, outro pró desse filme é o elenco de primeira, com destaque não só para Barbosa, mas também para Júlio Andrade e Milhem Cortaz. Apesar de alguns probleminhas já citados, os personagens são bons e o público aprecia em acompanhá-los nessa aventura sertaneja e fantasiosa.
Os que ficam um pouco a desejar são os personagens Esculápio – que se torna um “bobo da corte” tentando tomar o lugar da Morte – e a Cortadeira. A personagem pode ser vista como uma espécie de “vilã”, mas, neste caso, teria funcionado melhor se ela estivesse na posição de “justiceira”.
Considerações finais
Por mais previsível e não tão surpreendente, a cena final é satisfatória. Malasartes e o Duelo com a Morte traça um bom caminho no cinema brasileiro, com uma história fantasiosa, um ótimo elenco e efeitos especiais que não são perfeitos, mas são promissores. Fico feliz de ver que o cinema brasileiro está arriscando mais em outros tipos de gêneros (sem ser só comédia) para trazer conteúdos bons, originais e inusitados ao seu público.
E aí, o que acharam do filme? Deixem nos comentários!
Ficha Técnica
Malasartes e o Duelo com a Morte
Direção: Paulo Morelli
Elenco: Jesuíta Barbosa, Júlio Andrade, Ísis Valverde, Augusto Madeira, Milhem Cortaz, Leandro Hassum, Vera Holtz, Luciana Paes e Julia Ianina.
Duração: 1h50min
Nota: 7,0