Após quatro filmes Karatê Kid, seguido pelo sucesso da série Cobra Kai, este universo se expande mais uma vez e apresenta um novo rosto para representar a união de dois grandes estilos das artes marciais. Karatê Kid: Lendas te conquista pela nostalgia, personagens carismáticos, trama base satisfatória e sequências de lutas que dão gosto de assistir.
Porém, o filme é corrido em momentos que deveriam ser mais aprofundados, reforçado por uma montagem picotada; apresenta um antagonismo que beira ao desperdício e personagens importantes cuja participação demora e poderia ser maior. No fim das contas, Karatê Kid: Lendas apresenta uma leve montanha-russa de prós e contras, sabe entreter e conquistar pelo carisma, mas poderia seguir a mesmo nível dos demais filmes.
Com direção de Jonathan Entwistle, Karatê Kid: Lendas introduz Li Fong, um jovem prodígio do Kung Fu, que treina na escola do Sr. Han. Após uma tragédia familiar, a mãe não aceita que Li continue treinando, já que ela quer distância de qualquer tipo de violência, depois do que aconteceu em sua família.
Além disso, Li Fong é obrigado a se despedir do Kung Fu e de Pequim para morar em Nova York, após sua mãe receber uma boa proposta de trabalho. A partir daí, acompanhamos a rotina do protagonista em uma nova cidade e sua adaptação na escola, enquanto tenta fazer novos amigos.
Quando Li Fong conhece Victor – dono da pizzaria perto de sua casa – e sua filha Mia, uma amizade surge, mas os problemas também, obrigando-o a se aproximar do Kung Fu novamente. Para ajudar os novos amigos, Li decide entrar em uma competição de luta entre bairros. Assim, ele vai contar com o apoio e o ensinamento de dois grandes senseis, enquanto tenta não só alcançar a vitória, mas também vencer as dores que lhe assombram e anestesiam até agora.

O primeiro ponto positivo de Karatê Kid: Lendas é fazer uma introdução sólida do protagonista, desde sua vida em Pequim, até o chacoalho da mudança e a adaptação em uma nova cidade e nova cultura. O filme acerta ao revelar que Li Fong já tem uma base bem estruturada nas artes marciais, o que dá o direito de trabalhar mais a fundo em suas aptidões. Se fosse mostrar os ensinamentos desde o começo, em um prazo de tempo tão curto, soaria forçado e superficial demais.
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O filme também acerta ao trabalhar nas relações afetivas do protagonista, não só com a mãe, mas também com Victor e Mia, que são bons suportes à história. De um lado, temos a amizade e um affair de Li Fong e Mia, de forma crescente e natural. Do outro lado, temos uma conexão singela entre o garoto e Victor (Joshua Jackson), não só por compartilharem o mesmo amor pela luta, como também por implantar a confiança e cumplicidade desde o começo.
Para falar a verdade, o espectador aprecia mais a amizade dos rapazes, enquanto Mia (Sadie Stanley) poderia ser deixada de escanteio facilmente. Ela é divertida, dá apoio e suporte para Li, especialmente em sua adaptação em Nova York. Mas quando o seu ex-namorado entra em cena, Mia se fragiliza demais com o antagonista e se esquece da má influência que ele é, além dele machucar Li Fong e ainda fazer parte do grupo que quer prejudicar o seu pai. Mesmo que sua postura melhore, tais atitudes fazem o público torcer o nariz para a personagem.
Aliás, Karatê Kid: Lendas peca fortemente ao apresentar antagonistas fracos, quase nulos na história. Assim como vimos lá no primeiro Karatê Kid, aqui também temos uma academia de caratê, cujo sensei e seu pupilo são os oponentes que todos temem. Para complicar, Victor deve dinheiro a eles, alimentando a rivalidade e aumentando os ataques. Porém, o dono da academia mal aparece, tem pouquíssimos diálogos e nem dá para acusá-lo de tratar mal seu aluno, Connor Day, pois isso nem acontece. As atitudes que ele tem são erradas? Sim, mas isso é tão mal trabalhado que nem dá para fazer uma acusação com veemência sobre isso.

Já Connor (Aramis Knight) é aquele personagem babaca, mas excelente na luta. O seu foco é vencer e errado não está, com exceção nas trapaças durante os torneios. Mas ele é outro personagem sem profundidade, servindo apenas como um vilão a ser superado pelo protagonista. Depois de termos vilões como Kreese e Terry Silver e um excelente arco de redenção de Johnny Lawrence, os antagonistas de Karatê Kid: Lendas são genéricos e patéticos.
Outro problema que pesa negativamente no filme é a montagem, com cenas picotadas que dão a impressão de que as ações dos personagens não são finalizadas corretamente. Isso faz com que o desenvolvimento da história fique corrido, mesmo que o filme tenha quase duas horas de duração.
Agora, vamos falar do trio principal? Karatê Kid: Lendas vem chamando a atenção nas divulgações por trazer dois rostos especiais dentro deste universo: Sr. Han e Daniel LaRusso, interpretados por Jackie Chan e Ralph Macchio. Antes de engrenar na história do nosso protagonista, o filme faz questão de explicar a união dos ensinamentos das famílias Han e Miyagi, a fim de que o público compreenda como estes personagens se conhecem e poderão unir seus métodos de luta.

A verdade é que o filme ganha mais força quando o Sr. Han e Daniel entram em cena, o que demora a acontecer. Chan até aparece no início, mas Macchio só é introduzido da metade ao final, o que cria uma expectativa angustiante ao espectador para saber quando o personagem irá dar as caras. Se analisarmos friamente, Jackie Chan e Ralph Macchio são apenas participações especiais no filme, cujos personagens não são recorrentes na trama. Talvez seja algo que faça alguns torcerem o nariz, enquanto outros não darão a mínima.
Mas assim que o trio entra em cena, Karatê Kid: Lendas ganha uma força especial, mesmo que a montagem não contribua nesta parte também. As sequências em que os senseis ensinam seus métodos para Li Fong são divertidas, eficazes e apreciáveis. Dá gosto de assistir Daniel LaRusso e Sr. Han aplicarem golpes nada amadores, afinal, Li Fong está longe de ser iniciante e o filme mantém este nível com satisfação.

O ator Ben Wang é uma grata surpresa e sua atuação é satisfatória e carismática. Ele entrega um Li Fong com boas camadas sendo um filho bom, esforçado, o amigo que sabe apoiar, mas também um garoto ainda anestesiado e ansioso pela dor e culpa diante do luto.
Mais do que lutar para alcançar uma vitória, a luta ajuda Li a recuperar a sua essência, a ter o foco que fora perdido no passado e a seguir em frente para representar o que o seu irmão, um dia, também foi.
Considerações finais

Apesar do campeonato entre bairros ser rápido na tela, os duelos de eliminação para se chegar na final são boas, mesmo o filme não dar a mínima para regras de luta. Claro que a luta final entre Li Fong e Connor Day também é corrida, mas sabe prender a atenção, mesmo que as reações de certos personagens soam estranhas.
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Karatê Kid: Lendas conta com uma participação para lá de especial que é de Johnny Lawrence (William Zabka), que é simplesmente sensacional. Com apenas dois minutos, o personagem rouba a cena com diálogos incrivelmente divertidos, bem do jeitinho Johnny de ser.
Karatê Kid: Lendas não é um filme ruim, mas oscila entre prós e contras, seja pela estrutura sólida do protagonista, a atmosfera nostálgica desse universo, o carisma dos personagens principais e as boas cenas de luta; mas também entrega uma história acelerada, reforçada por uma montagem picotada, antagonistas extremamente fracos e uma participação reduzida dos senseis, cuja imagem é fundamental ao filme.
Entre erros e acertos, Karatê Kid: Lendas é legal de assistir, mas fica abaixo dos demais filmes e aquém da superioridade de Cobra Kai.
Ficha Técnica
Karatê Kid: Lendas
Direção: Jonathan Entwistle
Elenco: Ben Wang, Jackie Chan, Ralph Macchio, Joshua Jackson, Sadie Stanley, Ming-Na Wen, Aramis Knight, Wyatt Oleff e Shaunette Renée Wilson.
Duração: 1h58min
Nota: 2,9/5,0