Após 12 anos de construção e caminhada da grande franquia que marcou o novo terror no cinema, Invocação do Mal chega ao fim com um quarto capítulo satisfatório. Invocação do Mal 4: O Último Ritual encerra a saga do casal Warren em uma história bem feita e contada, um elenco aproveitado e carregado de boa nostalgia deste universo. Mas será que isso é suficiente?
A verdade é que o filme é apenas bom – inclusive, é melhor que o terceiro longa – mas carece de uma atmosfera de horror imprevisível e paranoica, dando aquele toque especial que conquistou o público nos dois primeiros filmes. O desenvolvimento vai por um caminho mais premeditado e previsível, diminuindo o fator surpresa do terror, além dos jump scares que poderiam ser maiores.
Sinceramente, a direção dos filmes de Invocação do Mal não deveria ter saído das mãos de James Wan, que acertou duas vezes, provando que “em time que está ganhando, não se mexe’. Ainda assim, o quarto filme tem o seu saldo positivo que vale a pena ser visto.
Com direção de Michael Chaves (Invocação do Mal 3, A Maldição da Chorona), Invocação do Mal 4: O Último Ritual se passa em 1986, cinco anos após os eventos do 3º filme, em que os Warren se aposentaram da carreira, em grande parte, devido ao ataque cardíaco de Ed, sofrido durante os acontecimentos demoníacos no filme anterior. Eles ainda frequentam o círculo universitário apresentando palestras, mas o entusiasmo pelo sobrenatural já não é mais o mesmo, a empolgação para assisti-los diminuiu, assim como as oportunidades de compartilhar as experiências de anos de trabalho.
Mas certo evento faz o Ed e Lorraine voltar à ativa pela última vez. E o caso central de ‘O Último Ritual’ é a assombração da família Smurl, um dos eventos mais famosos do currículo dos Warren.

Janet e Jack Smurl se mudaram com a família para um duplex na Rua Chase, em West Pittston, Pensilvânia, na década de 1970. Nos anos seguintes, os Smurl, incluindo suas filhas pequenas e os pais de Jack, alegaram ter vivenciado ocorrências sobrenaturais que variavam de odores ruins, vozes estranhas, agressões físicas, entre outros.
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Assim como na vida real, o filme também mostra as aparições dos Smurl em programas de TV, como Larry King Live e Entertainment Tonight, que tornaram esse um dos casos mais divulgados de atividade sobrenatural, mas também deram aos céticos munição para dizer que eles se venderam para os holofotes.
O caso da família Smurl é o tema central, mas o filme faz uma conexão deste com o que a família Warren viveu anos atrás. Em 1964, Ed e Lorraine investigavam outro caso envolvendo pai e filha e uma loja de antiguidades. E tal experiência leva Lorraine a dar luz à Judy precipitadamente, algo que deixara uma marca na família até hoje.
O primeiro acerto de Invocação do Mal 4 é mergulhar na dinâmica familiar dos Warren, colocando um holofote maior em Judy (Mia Tomlinson) que, agora, é uma jovem adulta, independente e está comprometida com Tony, apresentado à família quando os horrores de Smurl reaparecerem.

Um ponto positivo é revelar que Judy também tem o mesma sensibilidade e visão que sua mãe, algo que é apontado na sequência inicial do filme. No entanto, este dom de Judy já havia sido introduzido no primeiro filme, além de ser desenvolvido em Invocação do Mal 2 (quando ela vê A Freira) e Annabelle 3 (aventura macabra vivida no museu dos Warren). Não seria algo novo, ou seja, o filme pega o gancho já existente neste universo para colocar Judy em ação ao lado dos pais.
Outro grande acerto é a escolha do tema central, ‘A Assombração dos Smurl’, que se assimila aos casos já adaptados como ‘Família Perron’ e ‘Poltergeist de Enfield’, e se junta ao caso ‘O Diabo Me Fez Fazer’, que se inclina mais para a investigação e bruxaria.
O desenvolvimento deste novo caso repete fórmulas vistas especialmente nos dois primeiros filmes, como o fato da experiência demoníaca acontecer em uma casa, assombrar uma família, envolver a imprensa e dividir a opinião entre céticos e crentes ao sobrenatural.
Quase todas as cenas de assombração com a família Smurl são boas, especialmente quando os Warren ainda se encontram distantes deste caso, desde a caracterização das entidades até as ações demoníacas com os integrantes da família.
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Alguns jump scares se sobressaem positivamente, como a cena em que Janet enxerga a silhueta de um homem alto e corpulento no escuro do porão casa; ou quando ela está no telefone e o fio é puxado, imitando a mesma brincadeira que suas filhas fazem. Aliás, tal sacada é a mesma que acontece no primeiro filme, quando as crianças brincam de esconde-esconde.

Invocação do Mal 4: O Último Ritual tem ótima história, personagens incríveis e elementos sobrenaturais fantásticos de uma boa trama de horror. Mas é o estilo do diretor que diminui tal entusiasmo do espectador diante do que poderia ser mais imprevisível.
Enquanto James Wan desenha perfeitamente bem a sutilidade do terror, sem entregar absolutamente tudo escancarado ao espectador, Michael Chaves faz o oposto. O diretor foge da ousadia e do casual ao deixar tudo devidamente em seu lugar, ou seja, cada susto, cada mal que se aproxima, cada horror que vai acontecer na tela é anunciado, o que tira a expectativa de pegar o público de surpresa.
Assim como há poucos e bons jump scares, há outros que são pré-anunciados desnecessariamente. O maior erro do filme é logo revelar a conexão do espelho amaldiçoado com os Warren e os Smurl na sequência inicial, um ponto que poderia ter sido a maior virada de chave da história, mas que fora desperdiçado.
Outro ponto negativo é a forma como as visões de Lorraine são apresentadas. Enquanto que nos dois primeiros filmes, suas visões são camufladas aos olhos do espectador, revelando o conteúdo do que a personagem vê apenas depois, aqui, o diretor prepara demais o território para que isso aconteça, desde o escurecimento do cenário e a expressão facial de Vera Farmiga mudando instantaneamente como um aviso de que algo está prestes acontecer. Tal tática não funcionou no filme anterior e não precisava trazer para o quarto filme.

Assim como o 3º filme, O Último Ritual também não foge da direção fantasiosa do diretor que, além deixar às claras quase toda manobra do susto, ainda salienta o exagero de algumas cenas, diminuindo o seu propósito de estar ali. De exemplo, temos a cena em que Lorraine lava a louça, o ambiente escurece e a pia se enche de sangue como um aviso de que o mal se aproxima de quem ela mais ama. Acrescenta-se também os efeitos sonoros complementando o pré-anúncio do susto, o que ajuda a minimizar o fator surpresa.
Em compensação, Invocação do Mal 4: O Último Ritual te envolve com afeto, nostalgia e boa dinâmica da família Warren em meio ao terror. Claro que o casal Ed e Lorraine Warren continua com a química formidável, firme e competente de Patrick Wilson e Vera Farmiga, que se despede dos personagens que viveram por mais de uma década. O roteiro acerta ao relembrar não só dos casos vividos em sua juventude, mas reforça como eles lidam com a rotina, os percalços e cuidados com a saúde nos dias atuais.
E tal química da dupla, agora, é compartilhada com Judy, uma vez que sempre víamos apenas quando ela era criança, mas com certa distância. Agora, Judy faz parte do centro da história, e não só compreende as experiências dos pais, como ela também sente e presencia o mesmo, uma vez que herda o mesmo talento sobrenatural de Lorraine.

A dinâmica de mãe e filha é doce, em que poucas palavras são o suficiente para a mãe entender o que Judy carrega e como lidar com este mesmo dom que Lorraine tem. E ao lado de Ed, Invocação do Mal 4 constrói o significado dos medos que os Warren precisam enfrentar.
O núcleo também cresce com a introdução de Tony (Ben Hardy), namorado de Judy, que está ciente de que vai ingressar em uma família incomum, assim como tem a certeza do amor por sua parceira de vida. Este é outro grande acerto, uma vez que na vida real, Tony é um integrante importante que segue e cuida do legado da família ao lado de Judy.
Enquanto o público se envolve nesta dinâmica familiar, o quarteto também fica a mercê do mal, que se torna fundamental para o desfecho da história.
Os demais personagens são bons, com destaque para a família Smurl e a participação de personagens veteranos da franquia como o Padre Gordon (Steve Coulter), que ganha um espaço maior e importante nesta história; o assistente Drew (Shannon Kook), e o policial Brad Hamilton (John Brotherton), que apareceu no primeiro filme.
Considerações finais

A reta final de Invocação do Mal 4: O Último Ritual culmina em um desfecho grandioso para derrotar o mal, seguido de uma sequência feliz com direito a casamento e rostinhos conhecidos deste universo. Quem acompanhou toda a saga, vai reconhecê-los de imediato.
Invocação do Mal 4: O Último Ritual, sem dúvida, é melhor que ‘A Ordem do Demônio’. Traz o filme de volta ao terror em uma história de possessão demoníaca do bom e velho testamento da saga. O elenco ganha ótimas adições, reforçando a dinâmica de Patrick e Vera que encerra seus papeis nesta franquia com satisfação.
A história em si é bem contada e feita, mas carece de sutileza na atmosfera de suspense para deixar o horror mais imprevisível, inclinando toda a narrativa para o premeditado. Mesmo com a preferência pela direção de James Wan, Invocação do Mal 4 encerra a franquia bem.
Ficha Técnica
Invocação do Mal 4: O Último Ritual
Direção: Michael Chaves
Elenco: Vera Farmiga, Patrick Wilson, Mia Tomlinson, Ben Hardy, Steve Coulter, Rebecca Calder, Elliot Cowan, Beau Gadsdon, John Brotherton, Shannon Kook, Kila Lord Cassidy, Madison Lawlor, Orion Smith e Kate Fahy.
Duração: 2h15min
Nota: 3,0/5,0