Homem-Aranha no Aranhaverso (Spider-Man Into The Spider-Verse) é uma das grandes apostas no gênero animação para 2019 e, sem dúvida, já é um grande acerto, desde a narrativa no formato de quadrinhos e excelentes personagens até o visual excêntrico que não fica a desejar. Isto são apenas alguns pontos positivos perto de toda ótima produção que vai agradar adultos, crianças e fãs do herói teioso.
Dirigido por Bob Persichetti, Peter Ramsey e Rodney Rothman, o filme acompanha a rotina pacata do jovem Miles Morales, um estudante do ensino médio que tenta encontrar o seu espaço na sociedade, lidar com a adolescência e puberdade, é estudioso, mas não se sente muito confortável com a nova escola. Ele tem um grande amor pelos pais, especialmente o pai, que está sempre exigindo para que Miles dê o seu melhor. Seu enorme carinho também vai para o tio Aaron, com quem divide o segredo de fazer grafites pelas paredes da cidade, até encontrar um espaço no subterrâneo do metrô. Entre idas e vindas do seu dia a dia, Miles é picado por uma aranha radioativa, o que o transforma no famoso Homem-Aranha. Aliás, em mais um herói, uma vez que já existe o lendário Peter Parker.
Mas enquanto tenta lidar com a novidade e a controlar seus poderes, ele se depara com o vilão Rei Do Crime que, propositalmente, abre portais para multiversos, colocando a vida de Brooklyn em risco. Com isso e a morte repentina de Peter Parker, Miles é surpreendido por outro Peter. A surpresa fica ainda maior quando o garoto descobre que ele veio de uma dimensão paralela, assim como outras versões do Homem-Aranha.
Mesmo que a trama seja a mesma, vista em filmes anteriores, Homem-Aranha no Aranhaverso ousa em vários pontos, seja na animação com um estilo visual inovador, personagens carismáticos, um vilão impiedoso com um propósito mais realista e, o principal, fatos modificados dentro do enredo, tornando a história ainda mais atrativa e surpreendente.
Pra começar, a animação utiliza de computação gráfica e o tradicional efeito de HQ, dando a impressão de que o espectador está folheando um quadrinho prestes a saber o que vai acontecer na próxima página. Além disso, o estilo visual muda de acordo com cada herói de seu respectivo universo. De um lado temos Peni Parker, a garotinha-aranha com seu robô ao estilo anime; temos o divertido Porco-Aranha, apresentado no formato desenho animado; o Homem-Aranha Noir ganha traços rabiscados em cores preto e branco para representar as HQ’s dos anos 1930. Ver este cuidado em traçar elementos diferentes para cada personagem e entregar um cenário extremamente colorido e atrativo faz esta animação ganhar muitos pontos.
Junto com a ambientação, o filme entrega um roteiro bem desenvolvido, dinâmico e frenético no timing certo, focando não só em introduzir Miles Morales ao universo Homem-Aranha, mas também apresentar as demais versões do herói e interagir bem com cada um deles, estabelecendo uma conexão entre mentor e aprendiz. Aqui, Peter Parker dá dicas e treina Miles já dentro do problema que eles precisam enfrentar, mas de forma espontânea. O mais interessante é ver que Miles tem falhas, dificuldades em lidar com essa nova responsabilidade, mas mesmo assim, ele quer fazer parte deste novo mundo, onde ele finalmente encontra o seu verdadeiro espaço.
A história também brinca ao usar de um tom mais sarcástico ao se referir como tudo começou com cada homem/mulher-aranha, quando eles começam “fui picado por uma aranha radioativa” e assim por diante. Por mais batida que seja, a premissa fica até divertida de ser escutada mais uma vez. Além disso, o filme tem a ousadia de fazer pequenas modificações, como entregar uma família sólida para Miles – já que na história de Peter Parker, isso não acontece; e uma reviravolta inusitada, mas que dá um ‘tempero’ a mais na trama.
O grupo é um dos mais carismáticos do universo de super-heróis que já conhecemos, devido as suas personalidades serem distintas, mas que faz a química entre eles funcionarem naturalmente. Peter Parker é mais debochado e largado, mas carrega consigo a responsabilidade de ensinar Miles e ajudá-lo a lidar com os problemas em seu universo; Gwen-Spider tem um tom mais sarcástico, é inteligente, perspicaz e está sempre pronta para ajudar o grupo. Peni Parker, Aranha Noir e Porco-Aranha também não ficam para trás e ainda adicionam um ótimo humor dosado. Nenhum dos personagens fica de escanteio e todos têm o seu momento de destaque no filme.
Sessão Pipoca: O Chamado do Mal
Os vilões também não ficam a desejar e Olivia Octopus e o Rei Do Crime dão bastante trabalho para os heróis. Com destaque para o segundo, o vilão é impiedoso, frio e bem violento. O físico do personagem já assusta, mas são suas atitudes que amedrontam mais. A cena dele enfrentando Peter Parker impacta. O mais legal é que o Rei do Crime não é mais um antagonista que deseja abrir uma fenda no meio da cidade para destruir o mundo; pelo contrário, ele tem uma motivação mais humana, real e dolorosa que faz com que ele tome decisões imprudentes. A causa é piedosa, mas a consequência é péssima, o que torna esse vilão atrativo e assustador.
Considerações finais
Homem-Aranha no Aranhaverso ousa em trazer boas alterações em uma história já conhecida, apresenta um roteiro bem desenvolvido e ágil, um grupo de heróis cativantes e carismáticos, um vilão amedrontador e um cenário estiloso, colorido, inovador e com ótimas características da HQ que vão prender a atenção de muitos espectadores.
O filme é mais um acerto do universo cinematográfico Marvel e, é claro, uma excelente animação que vale o ingresso.
PS: Vocês vão se surpreender com a Tia May!
Ficha Técnica
Homem-Aranha no Aranhaverso
Direção: Bob Persichetti, Peter Ramsey e Rodney Rothman
Elenco (dublagem): Shameik Moore, Hailee Steinfeld, Jake Johnson, Mahershala Ali, Nicolas Cage, Brian Tyree Henry, Kimiko Glenn, Kathryn Hahn, Lily Tomlin, Luna Lauren Velez, Liev Schreiber e John Mulaney.
Duração: 1h50min
Nota: 9,5