Após 24 anos do grande sucesso de Gladiador nos cinemas e nas premiações, Ridley Scott retorna com a sequência Gladiador 2, que honra o legado e expande este universo em uma excelente conexão e nostalgia.
O filme apresenta novos personagens em uma produção grandiosa, com uma trama simples e bem feita que, além da busca pela Roma dos sonhos, há um viés político mais forte, rendendo ótimos momentos de sangue em um jogo de poder intenso. Gladiador 2 pode até dividir algumas opiniões, mas é uma continuação respeitosa ao seu original, podendo se tornar um dos favoritos do ano.
Com direção de Ridley Scott, Gladiador 2 se passa anos após a morte do herói Maximus, que deu a vida ao matar o imperador Commodus em um duelo (não totalmente justo), para assim, trazer de volta uma Roma justa e igual para todos.
Infelizmente com a partida de Maximus, o trono foi tomado pela tirania nos anos seguintes, em que acompanhamos os imperadores gêmeos Geta e Caracalla, conhecidos por serem extremamente tirânicos, em que o único caminho do poder e controle é a tomada terras e a dizimação dos povos que não sejam a favor deles.
Com isso, o exército dos imperadores, liderado pelo comandando Marcus Acacius, destrói e empossa todas as terras por onde passa. Mas quando eles iniciam uma batalha na cidade onde Lucius mora, um novo caos se instala. Ao assistir a morte da esposa e de amigos, além de ser vendido como escravo, Lucius é treinado e transformado em um gladiador pelas mãos de Macrinus, que usa deste entretenimento para ganhar dinheiro e se aproximar cada vez mais do que realmente deseja.
Seguindo os mesmos passos de Maximus, Lucius inicia várias lutas na arena não só para conquistar o povo, mas também para vingar sua esposa e cidade, além de tentar retomar o sonho de uma Roma justa. Mas tal caminho o colocará frente a frente às suas origens, um passado esquecido e rostos conhecidos, enquanto lida com um jogo de poder astuto e perigoso.
A narrativa de Gladiador 2 faz uma excelente conexão com o primeiro filme, seja pelos flashbacks, personagens veteranos, referências e objetos. A continuidade prova sua lealdade ao universo construído, reforçado pelos diálogos, em que o espectador compreende a conexão de Lucius (também conhecido como Hanno) com os bastidores do Império, uma vez que ele é filho de Lucilla, o verdadeiro príncipe e herdeiro do trono. Tal afastamento ordenado pela mãe foi justamente para impedir que o filho perdesse a vida com a tirania alheia, logo após a morte de Maximus e Commodus.
Outra informação que a sequência entrega é a confirmação de que Lucius é filho de Maximus, já que o primeiro filme dá fortes indícios da paixão secreta de Lucilla fora do seu casamento. E tal lacuna preenchida faz o público compreender a razão para o protagonista seguir os mesmos passos do pai e avô ao retomar o sonho de uma Roma pacífica e igual para todos.
Mesmo com a explicação inicial e as informações apresentadas dispersamente, Gladiador 2 não deixa minuciosamente claro como e por que os gêmeos imperadores ascenderam no trono. Talvez isso incomode um pouco, mas não é algo que prejudique no andamento da história.
Aliás, o que chama a atenção é a opressão da dupla em usar a violência gratuitamente tanto como entretenimento quanto para resolver os problemas, uma válvula muito bem orquestrada por Joseph Quinn e Fred Hechinger que entregam ótimas e peculiares atuações.
De um lado, Geta é mais racional e difícil, tornando-se mais inflexível de ser controlado. Já Caracalla é o imperador que usa da violência para tudo, se diverte com o sofrimento alheio, é inferior ao irmão, desfavorecido na inteligência e mais fácil de manipular.
Enquanto Gladiador (2000) ganha uma vertente mais humana, de conexão e fortes aliados que reforçam o discurso sobre liberdade, igualdade em uma Roma justa e pacífica, a sequência segue outro caminho para mostrar os bastidores deste Império, apresentando um viés político mais forte, em que o jogo de poder fala mais alto, gerando traições, manipulações e sacrifícios em nome do controle absoluto.
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No primeiro filme, via-se uma aliança crescente e verdadeira entre Maximus e seu comprador/chefe Próximo, que lhe ensinou a arte de conquistar a torcida na arena – chave para a liberdade – e abraçou a lealdade e o propósito do protagonista em fazer o certo.
Já esta sequência entrega uma conexão de influência e dominação entre Lucius e Macrinus que, a princípio, engana bastante o olhar do público que acredita que seguirá os mesmos passos já vistos no filme original. E esta é melhor isca que temos na história.
Mais do que uma história de vingança, Gladiador 2 mostra que o sonho da liberdade já não é o maior desejo de todos. O jogo de poder é articulosamente arquitetado por Macrinus, que caminha pelas margens e manipula nos pontos certos para chegar onde quer.
É impossível negar que Denzel Washington é a cereja do bolo do filme ao entregar um vilão ardiloso, inteligente e manipulador. Ele aplica a lei do mais forte para chegar ao Senado, seja brigando na arena com o seu melhor gladiador (Hanno/Lucius), seja em agradar os seus imperadores, a fim de colocá-los na posição perfeita para derrubá-los; seja no planejamento de tirar do jogo as peças mais fortes, no caso, Lucilla e Acacius.
Macrinus se torna o maior e melhor marionetista deste filme, desenhando uma rede de intriga fenomenal que alimenta este viés político, diminui ainda mais o poder do Senado pelo medo (que já não era forte no primeiro filme) enquanto se aproxima cada vez mais do seu desejo: poder e controle. O personagem não acredita na ‘Roma dos Sonhos’, desdenha da liberdade, fortalece a rede da escravidão, mantendo o ciclo de tirania. Aliás, a manipulação que ele faz com os imperadores gêmeos é genial.
E se o filme estabelece o seu verdadeiro e ótimo vilão, o protagonista não fica a desejar. Paul Mescal entrega um Lucius atordoado, machucado e vingativo por conta de suas perdas, seja da esposa, do seu lar, mas também de sua verdadeira posição. O ressentimento pela mãe Lucilla (Connie Nielsen) é claro e aceitável, no entanto, a aproximação de ambos é um pouco corriqueiro, mas ainda aceitável.
Pedro Pascal é o comandante Acacius que se torna uma caixinha de surpresa. Gladiador 2 faz o público acreditar que ele possa ser um antagonista, mas a verdade logo surge com o fardo e cansaço de acatar as ordens violentas dos imperadores, culminando em uma revolta para derrubá-los, ao lado da esposa Lucilla. A rede de intriga também é alimentada com a infelicidade de Acacius ser o responsável pela morte de Arishat, colocando Lucius contra ele, enquanto a mãe é o elo entre os dois.
Gladiador 2 também acerta por sua coragem em não se apegar aos personagens, além de ser radical em suas decisões, sem arrependimentos. O filme também se torna grandioso por sua produção ser quase impecável em vários aspectos, seja as ambientações da antiga Roma, o Coliseu e figurinos desde os elegantes aos mais sujos.
As sequências de lutas são brutais e viscerais, sem temer com a boa dose de sangue e violência jogada na tela, na qual o espectador não consegue fechar os olhos. Todas as lutas de Lucius são hipnotizantes e, acredito, que a que mais chamou a atenção é o combate com macacos selvagens. Os efeitos são funcionais, mas não perfeitos, o que pode fazer o espectador torcer o nariz diante de algo tão surreal. Além disso, há uma sequência de combate no Coliseu com água e tubarões.
Com relação aos animais, na Antiga Roma, era comum ter lutas com animais selvagens, que quase sempre devoravam pessoas vivas. E sim, nesta época, era possível inundar o Coliseu para batalhas navais encenadas, assim como vemos em Gladiador 2. Só a parte dos tubarões foi firula do diretor.
Considerações finais
A reta final de Gladiador 2 culmina no último e mais importante embate para encerrar o ciclo de tirania, para assim, abrir portas para a tão esperada Roma dos Sonhos, seguindo os passos do verdadeiro príncipe. Lucius finalmente dará continuidade ao que seu pai Maximus e sua mãe Lucilla sempre lutaram.
Gladiador 2 honra o legado do primeiro filme ao trazer uma continuação fiel, primorosa e grandiosa na produção e excelentes sequências de lutas. O roteiro é simples, mas bem feito, encabeçado por um elenco formidável com destaque para Paul Mescal, Denzel Washington e Pedro Pascal.
Pode não ser exatamente igual, mas Gladiador 2 ressuscita o brilho e a lembrança do primeiro filme ser um sucesso nos anos 2000, tornando-se um clássico até hoje. Esta sequência merece ser vista na maior tela do cinema, podendo entrar na lista de favoritos do ano.
Ficha Técnica
Gladiador 2
Direção: Ridley Scott
Elenco: Paul Mescal, Pedro Pascal, Denzel Washington, Connie Nielsen, Joseph Quinn, Fred Hechinger, Derek Jacobi, Rory McCann, Matt Lucas, Yuval Gonen, Lior Raz, Alexander Karim e Peter Mensah.
Duração: 2h28min
Nota: 4,5/5,0