A Netflix prometeu uma vasta lista de lançamentos em 2021 com grandes nomes de Hollywood, em que alguns filmes podem ser bons enquanto outros nem tanto. Desta lista, chega ao streaming a comédia Esquadrão Trovão (Thunder Force) que chama a atenção pelo elenco e pela interessante premissa. Em termos de desenvolvimento, a história ganha até uma boa construção, mas certas decisões, diálogos e cenas ficam aquém do que se espera. É uma comédia até legal e, talvez, alguns vão gostar como forma de passatempo e para desligar o cérebro, mas a trama tem os seus momentos toscos que podem fazer o público torcer o nariz.
Dirigido e roteirizado por Ben Falcone – inclusive, é o marido da Melissa McCarthy – Esquadrão Trovão se passa em um mundo onde meta humanos existem e usam os poderes para o mal. Assim, a trama acompanha Emily e Lydia, amigas desde a infância, mas que, por contratempos, a vida leva as duas para caminhos diferentes. Anos depois, elas se reencontram e se reúnem depois que uma delas inventa um tratamento que lhes dá poderes para proteger a cidade.
Esquadrão Trovão acerta na construção da narrativa em que as explicações são coerentes e as partes importantes não são puladas, ou seja, todo o funcionamento desta ambientação, a razão dos poderes existirem e a motivação das personagens ganham forma com ação e consequência.
Logo no início, o espectador entende como o mundo foi atingido por tal radioatividade que fez as pessoas adquirirem poderes. No entanto, não é qualquer pessoa que se torna meta humano e, sim, aquelas que são propensas a serem sociopatas, sendo intituladas como Meliantes, capazes de usar o poder para fazer o mal em nome de um bem maior ou por simples aproveito.
É com o surgimento dos Meliantes, que Emily tem como grande objetivo, desde criança, em criar uma fórmula para detê-los, uma vez que ela perdeu os pais em um grande acidente causado por estes meta-humanos. Mas no meio deste grande sonho, Emily faz amizade com Lydia, uma garota que sabe se impor, mas que não leva muito a vida e os objetivos à sério. Mesmo uma gostando da outra, elas acabam se afastando pela forma como pensam: enquanto Lydia quer se divertir e viver, Emily está focada em estudar e dar continuidade ao trabalho de seus pais.
Ao compreender o que ocorreu no passado, o filme nos leva para os dias atuais reunindo as amigas depois de muito tempo. Lydia quer tentar uma reaproximação, mas por conta de um acidente dentro da empresa de Emily, ela adquire poderes a partir de uma fórmula criada pela amiga. Agora, Lydia terá que treinar e lidar com o poder para se tornar uma heroína capaz de derrotar os Meliantes.
Esquadrão Trovão acerta ao mostrar o processo de absorção da fórmula e todo o treinamento de Lydia, afinal não se torna uma heroína da noite para o dia. Da mesma forma, Emily também treina, segue à risca o tratamento e continua focada nos objetivos, trazendo momentos até divertidos diante de personalidades tão diferentes das protagonistas. Enquanto Lydia é extrovertida, agitada e impulsiva, Emily é a inteligente do grupo, focada, centrada e metódica, mas que na hora de colocar o que sabe em prática, o medo fala mais alto em certos momentos.
O filme dá o poder da força para Lydia, o que rende cenas de luta até engraçadas e que não se pode levar à sério. Já a invisibilidade de Emily fica bem a desejar, uma vez que a personagem não aproveita o poder que tem. O filme perde a oportunidade de preparar boas estratégias e armadilhas para capturar os meliantes, o que renderia cenas de ação um pouco melhores e um plano mais elaborado da dupla.
Melissa McCarthy e Octavia Spencer formam uma boa dupla e a química das atrizes funciona bem na tela. No entanto, a culpa pela falta de ações mais elaboradas está no roteiro e não nas atuações, em que elas dão o melhor de si.
Crítica: Os Irregulares de Baker Street
Outro ponto que fica a desejar em Esquadrão Trovão são os próprios Meliantes. O filme foca em apenas três personagens e não exploram outros tipos de meta-humanos que poderiam ter na trama. Aliás, esta seria a chance das protagonistas de mostrar o potencial ao capturar os demais vilões até chegar nos principais.
Todo o mal desenvolvido no filme fica por conta de O Rei (Bobby Cannavale), que deseja se tornar o prefeito da cidade; a vilã Laser (Pom Klementieff) que ataca sem dó e nem piedade; e o Carangueijo (Jason Bateman), que lidera ataques pela cidade. Os personagens são bem estereotipados e, em alguns momentos, você vai rir, mas também vai se irritar com eles.
Aliás, o maior destaque vai para o Jason Bateman que protagoniza com Melissa McCarthy as cenas mais toscas do filme. Tais cenas têm o objetivo de ser o grande alívio cômico do filme, mas acaba fugindo do propósito de ser divertido. É possível dar risadas sim, mas cientes de que estas cenas são ridículas. Inclusive, a cena da dança do flerte de Lydia e o Carangueijo é a mais sem noção de todas.
Dos demais personagens, outro destaque vai para Tracy (Taylor Mosby), filha de Emily, que segue os passos da mãe e tem um ótimo entrosamento com Lydia, formando um excelente trio. No entanto, acredito que o filme poderia ter desfrutado mais dessa personagem que tinha tanto potencial.
Crítica: Moxie – Quando As Garotas Vão à Luta
Já Allie (Melissa Leo), braço direito de Emily na empresa, é a que teve o pior desenvolvimento no filme, além de ser a personagem mais chata desta história. Além disso, a reviravolta que o filme dá para Allie é repentina, o que faz a personagem nem ganhar um desfecho decente.
Considerações finais
Esquadrão Trovão se salva com um desfecho condizente e feliz. A nova comédia da Netflix tem boas protagonistas, um bom elenco e uma história com potencial, cujo roteiro não soube aproveitar as melhores chances de entregar um desenvolvimento mais elaborado. Além disso, o filme tenta ser engraçado, mas acaba derrapando com algumas cenas sem noção.
Mesmo com ressalvas, Esquadrão Trovão pode ser uma opção para o público relaxar e desligar o cérebro enquanto assiste, afinal, mesmo com problemas, é um filme até legal.
Ficha Técnica
Esquadrão Trovão
Direção e roteiro: Ben Falcone
Elenco: Melissa McCarthy, Octavia Spencer, Bobby Cannavale, Jason Bateman, Pon Klementieff, Taylor Mosby, Melissa Leo, Marcella Lowery, Melissa Ponzio, Kevin Dunn, David Storrs e Sarah Baker.
Duração: 1h47min
Nota: 6,0