A nova animação da Disney e Pixar, talvez, não chame tanta a atenção à primeira vista. Mas Elio é o tipo de filme que te cativa por atingir com a emoção, fazendo o público se identificar não só com os personagens, mas também com as mensagens que o filme trabalha. É uma trama sobre solidão, perdas, relacionamentos, encontrar um espaço que aceite quem você é, além de dar chance ao já conhecido.
Elio se torna original ao trabalhar estas questões com sensibilidade, criando com uma conexão e conversa especialmente com pais e filhos e crianças no geral que, em algum momento, já se sentiu ou se sente como protagonista. É uma animação divertida, fofa e tocante que vale a pena conhecer.
Com direção de Madeline Sharafian, Domee Shi e Adrian Molina, Elio acompanha o garotinho – que carrega o título do filme – apaixonado pelo espaço e alienígenas. Obcecado por este assunto e com a imaginação fértil, ele acredita que a humanidade não está só e que o universo está repleto de seres e segredos nas quais, um dia, ele sonha em poder vivenciar tudo isso.
Mas é na vida real que o espectador passa a conhecer o protagonista. Elio mora com a tia Olga, uma brilhante major da Força Aérea, cujos planos era integrar o programa de astronautas. Mas ela deixa este sonho de lado quando o sobrinho perde os pais, o que traz mudanças radicais para os dois.

É aqui que vemos o quanto Elio nutre uma solidão dolorosa, o que o faz não ter amigos e acreditar que não pertence aqui. É por esta razão que seu amor pelo espaço cresce ao ponto de desejar obcecadamente em ser abduzido, confiante de que possa se encaixar em algum lugar fora da Terra.
E tal desejo se torna realidade quando uma mensagem do espaço é detectada e Elio responde. Assim, o seu sonho é realizado e o garoto é teletransportado para o Comuniverso, uma organização interplanetária com representantes de galáxias distantes.
Identificado acidentalmente como o líder da Terra, Elio precisa formar novos laços com formas de vida alienígenas excêntricas, navegar por uma crise de proporções intergalácticas e lidar com a vilania de Lord Grigon.
É nesta aventura que o garoto começar a mergulhar em uma autodescoberta doce, sobre quem é e qual lugar pertence, enquanto faz novas amizades improváveis e divertidas.

Elio pode não ter os mesmos requintes como DivertidaMente, mas te cativa ao desenvolver uma história que consegue apontar e discutir sentimentos e dores que permeiam a humanidade, especialmente crianças e jovens. O filme retrata sobre a perda dos pais, figura de grande importância em uma época crucial do crescimento de uma criança, e como o luto destrava e aumenta a solidão e a sensação da falta de pertencimento.
A relação de Elio e Tia Olga é estremecida inicialmente pela falta de ajustes não só na rotina de cada um, mas na comunicação e nos sentimentos. E a animação consegue retratar isso com leveza ao trazer uma atmosfera divertida nas brigas entre os dois, mas também dor, ternura e amor quando ambos passam a enxergar os problemas e como podem melhorar para que esta relação se torne cada vez melhor.
Claro que o drama, as poucas conversas, teimosia, discussões e as sensações afloradas faz Elio se sentir excluído pelos demais, incluindo sua tia, em que ele acredita que ela não o aceita por sua essência.
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Quando a animação leva o público para o espaço, vemos uma sensação de alívio e liberdade do protagonista ao encontrar o que ele reconhece ser o seu lugar de pertencimento.

A partir daqui a história ganha um patamar aventureiro com cenas e ambientações coloridas e lúdicas, que faz o próprio espectador sentir na pele o mesmo que Elio, o encanto, a admiração e inspiração.
Claro que a animação injeta subtramas para trazer movimento e ação à história, como o fato de Elio se intitular erroneamente como líder da Terra, tendo como missão, estabelecer uma trégua com Lord Grigon para que não ocorra transgressões e a destruição do Comuniverso por parte deste vilão.
Neste meio tempo, Elio introduz a amizade entre o terráqueo e o alienígena Glordon, filho de Grigon, uma parceria que dá gosto de acompanhar. A grata surpresa se encontra no bom desenvolvimento do pequeno alienígena, desde o seu jeito doce e ingênuo até o momento em que descobrimos a saudade que sente de sua mãe e o desejo de ser mais próximo do pai, sem se tornar uma máquina de destruição.
Assim como Elio, Glordon também nutre a sensação de exclusão por querer seguir passos diferentes que o pai projetara para ele. E isso faz Elio não só ajudá-lo, quando as coisas saem do controle total, como também esta situação caótica reconecta o garoto com a Tia Olga, colocando esta dupla em sintonia no espaço.

Outro ponto positivo da animação são os personagens coadjuvantes, como o garoto que se identifica com Elio, com a mesma paixão pelo espaço; os alienígenas que comandam o Comuniverso e a personalidade divertida de cada um; a doçura de Glordon, a firmeza e o amor de Tia Olga; e até mesmo o vilão Grigon, especialmente quando ele deixa a armadura e vilania de lado, revelando um grande amor ao filho, maior do que qualquer destruição.
Elio conta com uma dublagem bem agradável, com as vozes de Juliana Paiva como Olga, Lorenzo Tironi como Elio, Zeca Rodrigues como Lord Grigon, Júlia Ribas como Embaixadora Questa, Marcio Marconato como Helix, Danylo Miazato como Glordon e mais. Assista ao filme dublado tranquilamente, pois nada fica a desejar e ainda conta com piadinhas adaptadas para o Brasil.
Considerações finais

A reta final de Elio eleva o ápice da emoção, ajustando o caos no espaço, mantendo a pacificidade no universo, reconectando os relacionamentos de pai e filho, tia e sobrinho.
Elio não é nenhuma genialidade, mas é uma animação doce sobre a história de um garotinho perdido em si mesmo à procura do seu espaço no mundo.
E se a Disney ainda quiser fazer um “grande mousse”, há possibilidade de fazer uma série sobre as aventuras de Elio no espaço para o Disney+.
PS: O filme tem uma cena pós-créditos.
Ficha Técnica
Elio
Direção: Madeline Sharafian, Domee Shi e Adrian Molina
Elenco: Zoe Saldaña, Yonas Kibreab, Remy Edgerly, Brandon Moon, Brad Garrett, Jameela Jamil, Young Dylan, Jake Getman, Shirley Handerson e Kate Mulgrew.
Duração: 1h39min
Nota: 3,2/5,0