Duna (Dune) não é filme de entretenimento e, talvez, não seja possível pensar no longa desta forma. Assistir Duna é proporcionar ao espectador uma experiência audiovisual completamente imersiva, na qual o cenário, a fotografia, a paleta de cores, os personagens e a trilha sonora ajudam a desenhar a narrativa adaptada da obra de Frank Herbert em que o público se sente parte deste universo.
Amplo, deslumbrante, Duna vai chamar atenção por todos estes aspectos aplicados e dirigido por Dennis Villeneuve, mas também pode surpreender pelas longas 2h35min de duração de um roteiro cujo ritmo é lento servindo mais como uma grande introdução a este mundo de ficção científica. Se você gosta deste gênero, do estilo do diretor e de uma história que apela mais ao sensorial e visual do que apenas à ação em si, Duna é a melhor dica e uma das ótimas experiências de 2021 que você terá em um cinema XD ou IMAX.
Neste futuro distante, no ano 10 mil, a Terra é uma vaga lembrança, a humanidade se espalhou pelo universo e esta sociedade é sustentada por pilares: o imperador, que centraliza o poder; as casas nobres que são duas – Atreides e Harkonnen, que lutam entre si por destaque; a Guilda Espacial tem o monopólio da viagem espacial e do banco do império; e as Bene Gessirit que é uma ordem composta por mulheres com poderes e intenções estranhas.
Duna embarca o público em uma jornada de herói mítica e emocional que conta a história de Paul Atreides, um jovem brilhante e talentoso nascido para ter um grande destino além da sua imaginação. Paul é fruto da união de Lady Jéssica – uma Bene Gesserit – com Duque Leto Atreides, levantando as suspeitas entre a ordem Bene Gesseriti de que Paul possa ser o profetizado.
A trama engata a partir de uma armadilha arquitetada para derrubar os Atreides, garantindo que a casa ganhou o planeta Arrakis, um gigante deserto praticamente sem água, habitado pela população conhecida como fremen, que vivem como nômades e sabem exatamente como sobreviver em meio as areias infinitas do planeta. As condições deste local são severas, em que qualquer um pode morrer em pouco tempo no deserto. Para isso, as pessoas necessitam usar um traje preto que reaproveita a água do corpo para não morrer desidratado.
Além disso, Arrakis é a moradia dos vermes gigantes, que habitam o vasto deserto. Eles caçam e destroem qualquer coisa que invada o seu território nas areias mais profundas, dificultando a extração da especiaria, como se vê em algumas cenas do filme que, por sinal, são muitíssimos bem feitas, dando um pequeno ápice de ação na trama.
Por que Arrakis, um planeta com condições tão hostis de viver, chama tanto a atenção dos pilares da sociedade? Outro ponto que ajuda a construir a história de Duna é que tal planeta é responsável por guardar a ‘especiaria’, usada para fazer as viagens espaciais. Sem isso, não há viagem, não há relações entre casas, não há como controlar a sociedade.
Apesar de ter quase três horas de duração, Duna traz apenas a adaptação da primeira parte com o objetivo de apresentar todo o universo, os elementos, a jornada e o propósito de cada personagem em meio a essa experiência audiovisual. É um filme bastante denso e que exigirá atenção e paciência do espectador que não deve esperar por ações alucinantes, afinal, este não é o objetivo.
Quem conhece o estilo de Denis Villeneuve – já visto em Blade Runner 2049 – pode esperar algo semelhante em Duna com relação às técnicas, em que a história ganha cenários vastos, imergindo o espectador para dentro da trama, complementados por uma paleta de cores que vão desde o preto e verde escuro do planeta Caliban e dos oponentes até o amarelo ardente do deserto de Arrakis, instigando o lado sensorial do público com a chuva de um planeta rico e bem liderado, junto à sede e o suor causados pelo calor e pelas areias infinitas e exploradas por grandes vilões que desejam tirar o bem maior daqueles que realmente precisam.
A trilha sonora é outro elemento bem desfrutado de Duna que finaliza a total imersão e contribui para a experiência do público. Assim, sugiro que assistam este filme na maior tela possível do cinema para aproveitar cada técnica e ferramenta utilizada na produção desta adaptação, pois isso fará muita diferença.
Apesar de Duna não se embalar na ação, é normal criar tal expectativa que é moderadamente alimentada quando o filme dá início a guerra entre a Casa Atreides e a Casa Harkonnen, uma vez que a armadilha dá certo e família Atreides é atraída para Arrakis. As cenas de confronto são engrandecedoras com direito a explosões e lutas entre os oponentes, enquanto acompanha-se também o embate frente a frente entre os inimigos. Novamente temos cenas emblemáticas cuja ação tem duração curta retornando ao ritmo lento que acompanha a saga de Paul Atreides de Lady Jessica em busca do grande propósito do protagonista.
Personagens
Duna apresenta nomes de peso em que alguns são os responsáveis por carregar toda a história, enquanto outros fazem participações especiais, pontuais e bem feitas. No entanto, há nomes e personagens que prometem um espaço maior, mas decepcionam com a participação mínima na tela.
O filme tem grande elenco e não há como negar, mas é totalmente protagonizado por Timothée Chalamet e Rebecca Ferguson do início ao fim. Chalamet está formidável na pele de Paul Atreides, carregando o peso de ser o herdeiro da Casa Atreides e filho de uma Bene Gesserit, enquanto tenta desvendar o poder que o torna talentoso e forte, os segredos carregados pela mãe e, é claro, o rumor de ser o profetizado. Em todas as cenas o ator se destaca, especialmente com suas expressões faciais que é o ponto forte do personagem, em cenas mais arriscadas e com decisões cruciais a se tomar.
Rebecca Ferguson não fica atrás em nenhum momento e entrega uma personagem forte, densa e melancólica por conta dos perigos do destino traçado ao seu filho. A jornada desta primeira parte do filme é de Paul e Lady Jessica e isto é incrível de assistir.
Claro que os demais personagens também chamam a atenção como o Duque Leto Atreides, cuja atuação de Oscar Isaac está fantástica, especialmente na reviravolta dada ao personagem em uma cena deslumbrante, agoniante e fatídica.
Jason Momoa é Duncan Idaho, um dos soldados treinadores que luta pela Casa Atreides. Momoa também está ótimo no papel em que entrega lutas muito bem coreografadas e uma química agradável com Timothée Chalamet. Sem dúvida, Duncan é o meu personagem favorito do filme.
Josh Brolin é Gurney Halleck, braço direito do Duque Leto e treinador de Paul. Ele quem comanda o exército da Casa e dá o seu sangue para proteger a família Atreides. Sua participação é pequena e boa.
O ator Stellan Skarsgard é o Barão Vladimir Harkonnen, uma figura terrível, morbidamente obesa que usa do poder da antigravidade para se mover por conta o excesso de peso. É um personagem que aparece pouco, mas é temido por muitos e chama a atenção pela maquiagem e o figurino que torna o ator irreconhecível na tela.
O Barão recebe a ajuda do sobrinho Rabban Harkonnen, interpretado por Dave Bautista, para arquitetar a armadilha para os Atreides, cuja participação é mínima nesta primeira parte.
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Por falar em participações especiais e mínimas, Duna conta também com Javier Bardem como Stilgar e Zendaya como Chani, que fazem parte grupo dos fremen. Barden tem apenas duas cenas no filme, sendo a última a mais importante em que vemos a esperada reunião de Paul e Lady Jessica com os fremen.
Já Zendaya narra o início do filme e faz pequenas aparições com sua personagem nos flashes dos sonhos de Paul Atreides surgindo apenas no terceiro ato do filme, mais precisamente nas últimas cenas. A verdade é que a imagem da atriz foi bem utilizada para promover o filme, no entanto, quem estiver esperando uma participação maior dela na trama irá se frustrar.
Acredito que se o filme Duna ganhar uma segunda parte, os personagens coadjuvantes ganharão uma participação maior e, até mesmo, o posto de protagonismo, como pode ser o caso da personagem Chani. É aguardar e ver como vai ser.
Considerações finais
Duna ganha um final bom e contundente a tudo o que foi visto, mas também fica em aberto, uma vez que a história ainda tem uma segunda parte que, futuramente, veremos a adaptação nos cinemas.
Muito mais do que um filme, Duna é uma experiência audiovisual que imerge o espectador na história em uma narrativa lenta e gradativa, com personagens fortes e elementos técnicos que complementam tal imersão, como cenários deslumbrantes e amplos, fotografia, figurinos, maquiagem e trilha sonora, trabalhando o lado sensorial do público que se vê mergulhado na trama.
Se você gosta do gênero ficção científica e do estilo de Denis Villeneuve, Duna será uma boa experiência. Mas se você não curte nada disso e ainda anseia por cenas de ação e uma história mais dinâmica, talvez Duna não seja a melhor opção. Mas fica a dica de experiência fantástica e sensorial para se fazer em uma sala de cinema.
Ficha Técnica
Duna
Direção: Denis Villeneuve
Elenco: Timothée Chalamet, Rebecca Ferguson, Oscar Isaac, Zendaya, Jason Momoa, Charlotte Rampling, Stellan Skarsgard, Josh Brolin, Dave Bautista, Stephen McKinley Henderson, Javier Bardem, Sharon Duncan-Brewster, Chen Chang, David Dastmalchian, Babs Olusannmokun, Benjamin Clémentine, Souad Faress e Golda Rosheuvel.
Duração: 2h35min
Nota: 8,9
Um superprodução longa e cansativa.