A Marvel inicia 2025 dando continuidade a fase 5 do MCU com Capitão América: Admirável Mundo Novo (Captain America: Brave New World), com Anthony Mackie assumindo oficialmente o escudo e encarando sua primeira missão como Capitão. Posso dizer que é um filme de herói genérico bem feito, simples e explicativo, conecta-se com obras, até então, meramente esquecidas neste universo, e introduz novos personagens que chegam para se estabelecer.
Capitão América: Admirável Mundo Novo diverte com muita ação, está mais inclinado a envolver o espectador pelas questões políticas do que as atitudes do vilão, que apenas transforma a chama acesa em fogaréu. Há algumas ressalvas a se fazer sobre o roteiro e vou explicar quais são e porquê.
******CONTÊM SPOILERS******
Com direção de Julius Onah, em Capitão América: Admirável Mundo Novo, vemos os EUA receber Thaddeus Ross como o presidente recém-eleito, cuja tarefa não será fácil, pois ele precisa limpar a imagem autoritária cujo rastro deixado não fora nada positivo, nem mesmo aos Vingadores. E ele encara a missão com determinação, pronto para fazer a coisa certa e iniciar tratados que favoreçam o país, além de mostrar que é uma nova pessoa para sua filha, Betty.
Inicialmente, quem trabalha a favor do presidente é Sam Wilson, nosso Capitão América oficial, que recebe uma proposta interessante de Ross: reconstruir a equipe Vingadores. Enquanto pensa sobre o assunto, Sam acompanha o tratado que os EUA fizeram com o Japão para tomar posse sobre o Adamantium, uma liga metálica conhecida por ser indestrutível, ainda mais poderosa que o Vibranium (de Wakanda), que se encontra na Ilha Celestial, que surgiu no filme Eternos quando o Celestial Tiamut fica petrificado no Oceano Índico.
Enquanto tal tratado ainda está em andamento, os primeiros percalços surgem, como o confronto entre Capitão América e o Coral, que tenta roubar um item valioso do governo para seu comprador, até então, anônimo.

Mas é na Casa Branca que o caos se instala quando tentam derrubar o presidente Ross, acusando duvidosamente as pessoas responsáveis pelo tiroteio, entre elas, Isaiah (Carl Lumbly), o primeiro Capitão América esquecido e amigo de Sam.
Ao descobrir que os atiradores foram controlados mentalmente para executar tal feito brutal, Sam Wilson e Joaquin Torres iniciam uma investigação para saber a identidade do verdadeiro responsável e a razão para querer atacar o Presidente Ross.
Capitão América: Admirável Mundo Novo é o tipo de filme que você pode apreciar e se divertir, caso não tenha criado expectativas, muito menos se empolgado e criado teorias com os materiais divulgados. Caso você assista ao filme sem saber de nada, pode até se surpreender pelas conexões que esta história faz.
Obviamente, pressupõe-se que o espectador esteja acompanhando as produções do MCU. Ainda assim, o filme surpreende ao fazer conexões com produções temporariamente esquecidas, como é o caso dos filmes Eternos (2021) e O Incrível Hulk (2008), seguindo com a narrativa apresentada na série Falcão e o Soldado Invernal, que vemos Sam dar os primeiros passos como Capitão América.
O Incrível Hulk, de 2008, ressurge para construir o background de Thaddeus Ross, interpretado por Harrison Ford, a fim de entendermos quem ele era e é agora, o distanciamento da filha Betty – que namorava Bruce Banner – a intermediação radical que ele fez entre a briga de Hulk e Abominável e os efeitos colaterais que respigam nos dias atuais.

O ator Harrison Ford encarna bem um personagem esquentado e disposto a provar que sua postura mudou, estando apto a ser um presidente respeitado e querido ao público, com tratados e a reconstrução dos Vingadores. Mas o passado retorna para se vingar, colocando-o em uma postura inimiga, em que todos acreditam que sua mudança é falsa. E este é um ponto interessante.
Anthony Mackie carrega bem este escudo e um ponto que o filme faz questão de tocar são os conflitos internos que Sam Wilson ainda tem diante de sua nova responsabilidade, como o fato de não ser o Steve Rogers, muito menos ter tomado o soro. Mesmo sendo um herói, Sam é humano e, junto com a cor da pele, a pressão redobra em suas costas para fazer tudo dar certo, ser o herói perfeito, o que nem sempre vai acontecer.
Há uma participação especial de Sebastian Stan como Bucky Barnes, que chega para apoiar Sam neste momento sensível. Além disso, temos uma prévia sobre o rumo deste personagem que irá retornar em Thunderbolts.
As cenas de ação são bem executadas e dá gosto de ver o protagonista lutando contra os oponentes, sem hesitar, mas sabendo a hora de parar. Ainda assim, há momentos em que ele não se sente suficiente, questionando a escolha de Steve e comparando seus atos com os atos do capitão anterior.

As discussões entre Sam Wilson e Thaddeus Ross dentro da atmosfera política prendem mais a atenção do público do que, de fato, acompanhar a execução do plano de vingança do vilão apresentado. Infelizmente, o filme desenvolve a segunda opção, sendo que uma intriga maior entre Capitão América e Presidente dos EUA seria muito mais instigante de acompanhar.
O protagonista não está sozinho e o ator Danny Ramirez forma esta dupla, cuja química é divertida e parceira na tela. Mais do que apenas um soldado, Joaquin Torres é a escolha certa para ser o novo Falcão, cuja oficialização vem ao final e acredito que ele vai conseguir carregar esta responsabilidade com satisfação. Na torcida para que o personagem tenha mais oportunidades de aparição no MCU.
Agora, vamos falar do antagonista de Capitão América: Admirável Mundo Novo? O vilão da vez é Samuel Sterns (Tim Blake Nelson), que apareceu em O Incrível Hulk e, agora, retorna para realizar a sua vingança. A verdade é que Sterns é o responsável por arquitetar e manipular todo o caos que vemos, com a finalidade de prejudicar exclusivamente Thaddeus Ross.
No passado, para controlar os danos da briga entre Hulk e Abominável, Ross coloca a culpa em Samuel Sterns, um biólogo celular, que se torna efeito colateral da situação. Em O Incrível Hulk, ele é o responsável por dar vida ao Abominável. Além disso, a gota de sangue de Hulk é o que transforma Sterns. E tal mutação cerebral vemos agora em Capitão América 4.
O filme dá a entender que a mutação de Sterns foi alimentada por Ross e, para não perder o talento do biólogo, ele o manteve preso todos estes anos, acrescentando mais um motivo: Sterns era o único que podia ajudar Ross, já que sua saúde se encontrava bem debilitada. Com isso, a sua liberdade sempre fora adiada, aumentando o ódio do vilão.

Por conta disso, Sterns aproveitou-se da saúde debilitada de Ross para fazê-lo ingerir comprimidos alterados, o que faria o atual presidente mostrar quem ele é de verdade. Com isso, o público descobre que Samuel Sterns é o responsável pela criação do Hulk Vermelho, um plano para destruir por completo a imagem de Thaddeus Ross.
Acredito que se o filme apresentasse Samuel Sterns como aliado de Ross, especialmente para a transformação no Hulk Vermelho, teria sido bem mais interessante. Mas tudo não passou de um plano de vingança inflado e um pouco medíocre.
O ator Tim Blake Nelson não entrega aquele carisma maléfico na pele de Samuel Sterns. Apesar da inteligência e a boa sacada de controlar as pessoas mentalmente, não é um antagonista nocivo e forte quanto se espera. A opção mais favorável seria uma parceria entre Ross e Sterns com um presidente vilanesco como oponente à altura do Capitão América.
Aliás, um dos momentos mais esperados do filme, sem dúvidas, é o confronto entre Hulk Vermelho e Capitão América. De fato, a briga entre os dois é boa e o Hulk dá trabalho ao herói. Ainda assim, devido ao andamento da história, não se deve criar expectativas para esta sequência, que acontece apenas na reta final.

Outra participação que engana é de Giancarlo Esposito como Coral, contratado pelo comprador (Samuel Sterns), apenas para executar um roubo e, consequentemente, tirar o Capitão América de cena. Assim como Harrison Ford, a imagem de Esposito usado nas divulgações faz o espectador acreditar que ele será um dos oponentes fortes do protagonista, mas o resultado decepciona.
Liv Tyler faz uma aparição de 10 segundos como Betty Ross, filha de Thaddeus Ross, surgindo na reta final apenas para fazer as pazes com o pai. Já a atriz Shira Haas surpreende no papel da chefe de segurança do presidente, Ruth Bat-Seraph, uma ex-viúva negra que dá a entender que está do lado inimigo e surpreende quando revela sua verdadeira postura diante da situação.
Cena pós-créditos

Capitão América: Admirável Mundo Novo tem uma cena pós-créditos. Depois de tudo pacificado, Isaiah livre das acusações e Thaddeus preso por conta do seu alter-ego vermelho, Sam Wilson visita Samuel Sterns na cadeia.
A conversa é simples e direta. Sterns avisa Sam sobre a existência de outros mundos. Ele provoca dizendo se o Sam Wilson realmente está preparado para o que está por vir. Ele questiona se o Capitão América está pronto para defender o seu planeta quando os ‘outros’ chegarem. Não se sabe especificamente quem são estes ‘outros’, mas é uma ampla referência ao multiverso e o que está por vir pela frente.
O filme se encerra confirmando que Capitão América retornará. Até porque, ele precisa reunir os Vingadores, né?
Considerações finais
Capitão América: Admirável Mundo Novo é um filme de herói genérico simples e com uma narrativa sempre explicativa para que o espectador não perca o fio da meada. Há boas cenas de ação que poderiam ser mais ousadas na violência, mas é Marvel né?
Todos os personagens entregam satisfação, com exceção do vilão apático, a participação decepcionante de Giancarlo Esposito e a rápida aparição do Hulk Vermelho que, por conta das decisões de roteiro, fica um pouco a desejar.
O filme dá uma continuidade satisfatória à fase 5 do MCU e não chega a ser ruim igual Homem-Formiga: Quantumania.
Ficha Técnica
Capitão América: Admirável Mundo Novo
Direção: Julius Onah
Elenco: Anthony Mackie, Danny Ramirez, Harrison Ford, Shira Haas, Xosha Roquemore, Carl Lumbly, Giancarlo Esposito, Liv Tyler e Tim Blake Nelson.
Duração: 1h58min
Nota: 2,9/5,0