Cadáver (The Possession of Hannah Grace) tinha tudo para ser mais um filme de terror previsível, batido e ruim. Porém, o longa surpreende ao entregar uma história simples e bem desenvolvida em cima de elementos do horror bem utilizados, com jump scares que funcionam e uma edição de som ensurdecedora que faz o público ficar angustiado em meio à atmosfera sombria e fúnebre do filme.
Na trama dirigida por Diederik Van Rooijen, um exorcismo chocante foge do controle. Meses mais tarde, Megan Reed (Shay Mitchell), uma policial que tem lutado contra vícios, começa a trabalhar em um necrotério quando recebe um cadáver desfigurado. A partir daí, ela passa a ter visões horripilantes e a suspeitar que o corpo pode ter sido possuído por uma força do mal implacável.
No filme, quase tudo funciona: a protagonista, os personagens secundários, os elementos de horror e a antagonista macabra. Tudo fica bem alinhado do começo até quase o fim. O roteiro não dá rodeios, revelando logo de cara o que acontece durante o exorcismo – uma cena forte e boa, e a razão que leva Megan a aceitar um trabalho tão mórbido e solitário.
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Devido a uma tragédia que marcou sua rotina como policial, a personagem fica extremamente traumatizada com as circunstâncias, levando-a a ter sérios problemas com remédios. Para evitar recaídas e atitudes imprudentes, ela aceita o trabalho no necrotério a fim de focar em uma vida mais equilibrada, especialmente para a sua saúde mental, ficando longe de decisões erradas e tentadoras.
Com as personagens apresentadas e as subtramas engatadas, o público acompanha o desenvolvimento da trama em um único cenário amplo que, por coincidência, ganha regras e condições que vão facilitar e dificultar toda a situação, além de contribuir para um clima mais assustador.
A princípio, certos elementos parecem ser bobos e clichês demais, mas à medida que eles se tornam repetitivos e gradativos, cria-se um bom fundamento, além de apontar que o mal está mais próximo do que se imagina. Como exemplos, temos as luzes que funcionam manualmente ou pela percepção de movimentos; corredores longos e escuros; câmeras que brincam com a mente da protagonista e do próprio espectador; portas rangendo; elevadores abrindo e fechando repentinamente; a regra falha de não sair e não deixar estranhos entrarem no necrotério; procedimento de admissão e avaliação de cadáveres, entre outros. Todos esses itens funcionam satisfatoriamente, criando um clima angustiante, claustrofóbico e amedrontador.
Outro ponto interessante é que o filme apresenta uma protagonista que não toma decisões estúpidas e expressa o medo e a coragem paralelamente. Shay Mitchell está bem em todas as cenas e entrega uma Megan em fase de retornar aos trilhos, mas que ainda cambaleia sob seus traumas. Em meio ao terror que se instala no local, a personagem caminha entre a realidade e ilusão, colocando em dúvida a sua sanidade e a decisão de trabalhar no necrotério. Esses e outros questionamentos são respondidos de imediato, o que faz a trama ser ágil, dinâmica e direta ao ponto.
Se de um lado temos uma protagonista com falhas e qualidades na medida certa, do outro lado temos uma antagonista de dar calafrios. Culminada e morta por um grande mal, Hannah é repleta de mistérios. Como o exorcismo não vai até o fim, seu corpo fica à mercê de uma força demoníaca, o que faz o filme estabelecer respostas plausíveis ao público a respeito deste cadáver, o que ele quer, como ele age, os resultados de suas atrocidades e, o principal, o que ele deseja fazer com Megan. As cenas são horripilantes, especialmente pela forma medonha como o cadáver se movimenta, além do seu estado deplorável, tornando-se uma espécie de ‘zumbi demoníaco’.
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Os personagens secundários têm pequenas participações, mas que funcionam bem junto com a protagonista.
Considerações finais
Infelizmente, o último ato é corrido demais e entrega cenas ‘atropeladas’ e um final desleixado. No entanto, a última cena dá um desfecho sugestivo e intrigante.
Cadáver tem pequenas falhas, mas tem boa protagonista, uma história simples bem desenvolvida e bons elementos de horror. É um filme de terror clichê que funciona, agrada e o melhor: assusta.
Ficha Técnica
Cadáver
Direção: Diederik Van Rooijen
Elenco: Shay Mitchell, Kirby Johnson, Grey Damon, Stana Katic, Nick Thune, Maximillian McNamara, Adrian M.Mompoint, Jacob Ming-Trent, Louis Herthum, John Sarnie e James A. Watson Jr.
Duração: 1h25min
Nota: 7,5