Mesmo sem tanta originalidade, Beckett chega na Netflix e prende a atenção com uma trama carregada de segredos, fugas e perseguições conflituosas, sem se preocupar em entregar respostas imediatas a fim de o público acompanhe o desespero do protagonista em saber a verdade à medida que a atmosfera de suspense aumenta e a situação fica mais acirrada até o esclarecimento eclodir. É um filme que poderia ter ousado um pouco mais em certas ocasiões, mas consegue apresentar uma boa história com os elementos que tem.
Com direção de Fernando Cito Filomarino, o filme acompanha o casal Beckett e April em pleno clima romântico ao passar as férias na Grécia. Ao descobrir que um grande protesto político irá acontecer aos arredores do hotel, eles decidem ir para outra cidade a fim de se afastar do caos que se alastrará. Entre idas e vindas em pontos turísticos e curtindo a viagem, o casal pega a estrada à noite, mas sofre um acidente em que o carro bate em uma casa escondida no matagal.

Ao despertar, Beckett vê uma mulher e um garotinho no local e pede ajuda, mas logo ambos desaparecem. Ao desmaiar novamente, o rapaz já acorda no hospital e pergunta por sua namorada, recebendo respostas entrecortadas e informações estranhas. Ao relatar à polícia o ocorrido e quem ele viu por lá, as autoridades prometem que irão cuidar do cidadão americano para que ele retorne ao seu país em segurança.
Sem saber o que realmente aconteceu na fatídica noite, Beckett retorna ao local do acidente à procura de respostas, mas logo é surpreendido por um tiroteio que o faz chegar à conclusão de que pessoas o querem vê-lo morto imediatamente. Assim, Beckett inicia uma fuga acirrada pelas ruas gregas desconhecidas, em que quanto mais ele corre mais encurralado ele fica, colocando as pessoas que o ajuda em perigo, enquanto tenta entender a razão para tudo isso estar acontecendo e o porquê de querer vê-lo morto.
Como disse, o principal objetivo de Beckett não é entregar respostas rápidas e soluções corriqueiras e, sim, desenvolver a trama sob uma atmosfera de suspense em que o espectador se sente agoniado ao acompanhar o protagonista em meio à situação sombria em que poucas informações são dadas, gerando uma sensação de claustrofobia, afinal, o personagem encontra-se perdido, desesperado e perseguido em um país que não conhece ninguém e, muito menos, fala a língua.

Aliás, um ponto interesse é que o filme não faz questão de traduzir os diálogos gregos, o que pode incomodar alguns espectadores. No entanto, talvez a proposta de não traduzir o idioma seja para deixar o público sem informações e “no escuro” a fim de que compreenda o que realmente está acontecendo somente quando o protagonista descobrir.
Toda a ambientação do filme também ajuda a contar a história, uma vez que vemos o protagonista correr por ruas estranhas, entrar em casas e carros abandonados, andar por espaços abertos e sem nada por perto, o que só faz crescer o medo e a insegurança por não encontrar nenhum local capaz de servir de refúgio e proteção.
O ator John David Washington carrega todo o filme nas costas e sabe segurar bem a trama como também a atenção do público. Sua atuação transmite todas as sensações do personagem para a tela, deixando a história mais instigante de acompanhar. Além disso, o protagonista corre bastante durante a sua fuga, aumentando ainda mais o seu desespero e de quem está assistindo ao filme.

Beckett apresenta poucos personagens, mas relevantes à trama, como é o caso de Lena, interpreta por Vicky Krieps (Tempo). A ativista segue rumo ao protesto político quando se depara com o protagonista perdido e desesperado. No momento em que ela o ajuda, o filme entrega o primeiro ponto de virada do enredo, o que faz o espectador entender a razão para Beckett ter se tornado o alvo destas supostas autoridades. E é esta primeira reviravolta que faz o protagonista encarar tal conflito e confrontar aqueles que o querem morto.

No elenco também temos o ator Boyd Holbrook que interpreta Tynan, do consulado americano na Grécia. Novamente, temos a adição de um novo personagem que promete ajudar Beckett e, consequentemente, traz uma nova reviravolta que faz todas as peças do quebra-cabeça se encaixarem.
A atriz Alicia Vikander interpreta April e logo no início do filme o público sabe qual é o destino da personagem, no entanto, o roteiro poderia ter ousado um pouco mais em sua trama e feito uma conexão maior com a fuga do protagonista. Seria uma sugestão, no entanto, a participação da atriz não afeta em nada negativamente.
Considerações finais
A reta final do filme engata em uma sequência dinâmica e eletrizante na qual o público questiona se tudo acabará razoavelmente bem ou não e entrega um final com um corte brusco, bom e compreensível, sem precisar recorrer a mais explicações.
Beckett não traz nenhuma inovação no roteiro, mas apresenta uma boa história desenvolvida sob uma atmosfera de suspense que sabe prender a atenção, uma vez que as explicações são dosadas e surgem no momento certo, causando desespero, insegurança, medo e certa claustrofobia tanto para o público quanto para o protagonista, que ganha uma boa performance de John David Washington.
Beckett é um filme que não gera expectativa alguma, mas surpreende no final das contas.
Ficha Técnica
Beckett
Direção: Ferdinando Cito Filomarino
Elenco: John David Washington, Alicia Vikander, Vicky Krieps, Boyd Holbrook, Daphne Alexander, Abe Cohen, Marc Marder, Panos Koronis, Isabella Margara, Andreas Marianos, Olga Spyraki, Leonardo Thimo e Yorgos Pirpassopoulos.
Duração: 1h48min
Nota: 7,2