Que tipo de amor você merece? Quando este sentimento ganhou entendimento entre o homem e a mulher? O que te complementa em um relacionamento? Estes são apenas alguns dos questionamentos levantados em Amores Materialistas (Materialists), que se distancia do gênero comédia romântica e faz a sua jornada em um drama romântico que traz um lado agridoce sobre se relacionar.
É um filme que merecia mais energia, ainda assim, consegue atingir no âmago do espectador que, em algum momento, se identifica e questiona os próprios pensamentos sobre o que é o amor na relação. Talvez Amores Materialistas não caia no gosto de todos à primeira vista, por não ser o típico clichê romântico cuja expectativa fora criada, mas traz uma conversa singela especialmente como o amor é visto nos dias atuais. Vale a pena assistir e vou te dizer o porquê.
Com direção de Celine Song – conhecida pelo ótimo filme Vidas Passadas – Amores Materialistas acompanha Lucy, uma jovem ambiciosa que trabalha em uma empresa de relacionamentos. Seu objetivo como casamenteira é encontrar o par ideal para os seus clientes, preenchendo as lacunas que cada um deseja, desde altura, corpo, tipo de cabelo, até idade e status financeiro. Com a lista do check preenchida, o match se torna perfeito, levando ao casamento e, consequentemente, o objetivo alcançado no trabalho.
Comemorando o seu 9º match perfeito que dá em casamento, Lucy comemora o amor de sua cliente. Durante a cerimônia, ela conhece Harry, irmão do noivo, que tem o potencial para ser o par perfeito que atende os gostos da protagonista. No entanto, ela reencontra John, seu ex-namorado cujo relacionamento no auge dos 20 e poucos anos foi marcado por muito amor, mas também por imaturidade, discussões, falta de ambição e comprometimento e, é claro, o lado financeiro que falou mais alto. Mas o sentimento ainda permanece e ambos não escondem isso.

Mas agora, Lucy precisa fazer a grande escolha entre o par perfeito que atende as suas expectativas; ou o amor imperfeito, cuja bagagem é conhecida, profunda, caótica e aconchegante à sua essência?
Crítica: Quarteto Fantástico: Primeiros Passos
Enquanto este triângulo amoroso se desenrola, Lucy lida com reviravoltas assustadoras no trabalho, em especial com sua cliente Sophie, que se transforma em uma grande virada de chave para a protagonista.
Amores Materialistas é um filme que foi vendido como comédia romântica, mas em se tratando de Celine Song, o lado cômico praticamente é inexistente. Quem já assistiu Vidas Passadas, conhece a vibe da diretora e já cria certa noção do que pode vir. Sendo assim, este novo longa nada mais é do que um drama romântico que conversa perfeitamente sobre como o relacionamento é visto nos dias atuais. E talvez isso seja um incômodo, mas bom para alguns, pois fará com que cada um reflita sobre si mesmo e como enxerga o significado disso tudo.
Em um mundo que exige tanto do material, o filme mostra como as pessoas priorizam o lado financeiro, físico e superficial, ao invés da conexão real, profunda e verdadeira com alguém. Isso não significa que temos que aceitar qualquer pessoa ou qualquer coisa, pois cada um tem as suas preferências. No entanto, a história questiona o quanto essas superficialidades podem cegar e, até mesmo, custar o lado emocional de alguém.

Nas entrevistas que Lucy faz com os seus (suas) clientes, o público assiste essas exemplificações, em que um candidato não segue com os encontros, porque a parceira ou parceiro não atendeu suas expectativas, revelando uma linha tênue entre sentimento, gostos e o lado materialista que fala mais alto (verdade seja dita). É compreensível que cada um tenha o ‘tipo de pessoa’ que gostaria de se relacionar (e está tudo bem), mas até que ponto certas exigências te impedem de engrenar em um relacionamento saudável?
Esses questionamentos são pontuados e válidos, pois vemos que tais ‘matches’ poderiam ser incríveis, mas são interrompidos por questões ora relevantes, ora muito inválidas. E isso é ainda mais destrinchado quando acompanhamos o plot de Sophie e as consequências amargas que um par supostamente perfeito traz.
Além disso, Amores Materialistas faz o espectador assistir, analisar e identificar o quanto podemos nos autossabotar em uma relação, seja de superioridade, inferioridade e ou a falta de reconhecimento do próprio valor.
E é pelo trio principal que esta perspectiva é desenvolvida. E apesar do elenco de peso, é possível notar uma energia abaixo do esperado, o que afeta a entrega nas atuações em certos momentos. Mas nota-se que o esforço existe, especialmente pela performance da Dakota Johnson, que te surpreende em momentos específicos, o que é um saldo positivo.
Lucy é profissional, ambiciosa, inteligente e trabalhadora, sustenta sua performance como casamenteira, assim como mulher. Inicialmente, ela quer uma relação que atenda as suas expectativas materialistas, uma vez que este já fora o seu maior problema na relação anterior. Mas isso supri o que realmente Lucy deseja para si?

No entanto, ao mergulhar em uma relação, a personagem se autossabota, criando uma barreira que diminui a sua essência e o seu valor. O diálogo no jantar entre ela e Harry expõe perfeitamente isso, uma vez que ela questiona o interesse dele, pois ela não é suficiente para sua superioridade, ignorando a visão e o sentimento de Harry.
A química do trio é boa, mas poderia ser ainda melhor com uma entrega mais forte de cada um, ao ponto de fazer o público torcer para os dois lados e sentir felicidade e melancolia diante da escolha de Lucy. Entendem o que quero dizer?
Dakota Johnson e Chris Evans têm química, e isso é fato, mas falta uma entrega maior da parte do ator que, parece não querer estar ali. Ambos demonstram sentimento um pelo outro diante de problemas do passado que permeiam a relação e como isso pode ser reconstruído ou não. Mas o público cria mais conexão por parte da Lucy do que do John, que deseja uma nova chance, mas demonstra fracamente.
Já Pedro Pascal e Dakota Johnson também seguem com química, mas com um lado mais truncado por parte da atuação de Pascal. Ainda condiz com a proposta do filme, especialmente quando fazemos descobertas sobre Harry e o seu lado materialista que fala alto.

Harry quer um amor e, para isso, ele é capaz de realizar desejos materiais para ter o amor que merece, sem questionar o sentimento. Isso é extremamente interessante e complexo de ver na tela. E poderia ter sido ainda mais prazeroso se a atuação saísse mais da zona de conforto, a fim de atingir o público com mais força, como Vidas Passadas fez.
No entanto, a energia é muito mais vista no plot de Lucy e Sophie, que é um dos momentos emblemáticos e o grande ponto de virada em Amores Materialistas. É com esta subtrama que o público enxerga a dor, os conflitos e a mudança acontecer em Lucy, cuja perspectiva sobre o amor sofre uma transformação assertiva e fundamental para a escolha que a protagonista fará no final.
Considerações finais

A reta final de Amores Materialistas nos leva à decisão de Lucy, que nos mostra que, no fim das contas, não é somente sobre quem ela vai escolher para ficar, e sim, sobre os riscos que ela toma para ter o amor que realmente deseja e se encaixa à sua essência.
Amores Materialistas é um filme que pode não cair no gosto à primeira vista, mas entrega uma conversa singela e tocante sobre o amor e o material dos tempos atuais.
Ficha Técnica
Amores Materialistas
Direção: Celine Song
Elenco: Dakota Johnson, Chris Evans, Pedro Pascal, Zoe Winters, Marin Ireland, Louisa Jacobson, Sawyer Spielberg, Eddie Cahill, John Magaro, Emmy Wheeler, Dasha Nekrasova e Joseph Lee.
Duração: 1h56min
Nota: 3,2/5,0