Se é exagero dizer ou não, direi do mesmo jeito: A Hora do Mal (Weapons) é um dos melhores filmes de terror que você vai assistir este ano. A satisfação se encontra nesta mistura de terror e suspense, que apresenta uma história enigmática, crescente e intrigante, cujo ápice traz aquela reviravolta inesperada, podendo dividir opiniões.
Por conta disso, talvez o filme não caia no gosto de todos, mas dê uma chance para conhecer esta trama quebra-cabeça original e instigante até a última cena. Vale a pena assistir e vou te dizer o porquê.
Com direção de Zach Cregger, que já havia surpreendido em Noites Brutais, ele acerta novamente em A Hora do Mal, cujo mistério se inicia em uma quarta-feira, quando a professora Justine Gandy chega à escola para dar aula e se depara com a sala vazia, com exceção da presença de um único aluno. Na noite anterior, exatamente às 2h17 da manhã, todas as crianças da turma da Sra. Gandy acordaram, levantaram da cama, abriram a porta de suas casas e saíram correndo pela rua escura, em uma posição de ‘voo’ esquisita e não voltaram mais.
O desaparecimento em massa gera uma comoção desesperadora dos pais, do corpo docente e das autoridades da cidade em busca por respostas. Por que essas crianças saíram de casa, sem sinal de violência, no mesmo dia e horário? Qual a razão para apenas os alunos da professora Justine desaparecerem? Por que apenas um aluno desta sala não sumiu? O que aconteceu com estas crianças? Quem realmente é o responsável por este sumiço misterioso?

A Hora do Mal é o típico filme que quanto menos você souber, melhor é a experiência a cada cena e descoberta. O que posso dizer é que esta produção constrói uma atmosfera de suspense maior, enquanto o horror se encontra em momentos específicos que geram desconforto e nervoso, no sentido positivo. A narrativa é a chave de ouro deste filme, dividida em blocos na qual o espectador acompanha o desenvolvimento pela perspectiva de cada personagem que se encontra no miolo deste enigma.
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Cada ponto de vista revela o desenrolar dos acontecimentos para entendermos como o personagem foi colocado naquela situação, enquanto outra perspectiva nos mostra o outro lado que acontece simultaneamente, como é o caso de Justine e Archer, por exemplo, professora e pai que se encontram em posturas de preocupação e anseio por respostas.
Enquanto Justine é colocada como principal suspeita, ela não hesita em investigar, mesmo que isso custe a sua segurança. Já Archer é o pai inquieto, triste e inconformado com o sumiço repentino do filho. Sua ansiedade e tormento o fazem enxergar pistas que a própria autoridade ainda não alcançou.

Além desses dois, há outras perspectivas bem instigantes, como é o caso de James, um jovem viciado das ruas; e do diretor da escola, Andrew (Benedict Wong), que é assustador e nos entrega uma pista importante que encaminha para a explicação definitiva. Também há perspectivas um pouco desinteressantes, como é o caso do policial Paul, que demora para cativar o público, mas quando bem amarrado, torna-se essencial à trama.
E quando cada fio condutor se conecta e a história é parcialmente montada, o filme prepara o público para o grande momento em que a explicação vai acontecer, colocando a peça principal neste quebra-cabeça.
Enquanto o suspense se concentra na construção da história, o terror é aplicado em momentos específicos, seja em alucinações; pontos obscuros na montagem que vemos em cena; poucos e bons jump scares; circunstâncias que alimentam o medo no espectador, como a cena em que Justine dorme no carro; e a escuridão que, em determinado momento, torna-se o complemento ideal que faz o público temer por aquilo que é suspeito ou não é visto nitidamente.

A Hora do Mal também acerta no elenco, com as ótimas atuações de Julia Garner e Josh Brolin nos papéis principais. Austin Abrams sabe roubar cena e sua caracterização como James é lastimavelmente bem feita (no bom sentido da palavra). O espectador se irrita com ele, mas ao mesmo tempo, teme que algo aconteça com ele em um dado momento. Alden Ehrenreich chama a atenção no terceiro ato em uma performance desesperadora aos nossos olhos.
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Quem também surpreende é o ator Cary Christopher como Alex, o único aluno da sala que não desaparece. Quando o seu ponto de vista é desenvolvido na tela, o garoto brilha, deixando o público com um mix de sentimentos entre medo, desespero e possível esperança.
Claro que a grande explicação para este sumiço em massa acontecer chega até o público, e é neste momento que A Hora do Mal dá uma virada de chave, que pega todos de surpresa quando a resposta é jogada na tela.
Quando a explicação ganha forma, o espectador toma conhecimento sobre a temática do filme, o que me agrada justamente por não vermos mais com tanta frequência em filmes de terror.

No entanto, talvez este seja o momento em que a história dividirá a opinião do público, uma vez que o último ato cai em uma atmosfera cômica desconfortável, fazendo o público dar a famosa ‘risada de nervoso’ diante das consequências finais, e conter tal riso diante dos efeitos colaterais em todos que foram afetados por este mal.
Devo ressaltar que há dois detalhes a serem levados em consideração aqui: o primeiro é que o roteiro decide em não mostrar uma polícia ativa na investigação, retratando uma autoridade relapsa e quase inútil; o segundo detalhe é que vemos a comoção dos pais diante do sumiço de seus filhos, mas apenas Archer é quem mostra disposição a buscar por respostas. Os demais pais demonstram levar a vida normalmente, como se nada tivesse acontecido. Digo isso, pois é preciso relevar esses dois pontos para mergulhar no mistério do filme, que é o mais importante.
Considerações finais

A Hora do Mal mistura suspense e terror em uma história quebra-cabeça enigmática, curiosa e intrigante que, quando bem costurada, entrega uma reviravolta boa de apreciar na tela, além de um final saborosamente desconfortável.
Talvez A Hora do Mal não seja para todos, mas sem dúvida, é um ótimo filme de terror/suspense por fugir do óbvio e entregar algo diferente que sacia a paixão dos fãs deste gênero.
Ficha Técnica
A Hora do Mal
Direção: Zach Cregger
Elenco: Julia Garner, Josh Brolin, Alden Enrenreich, Austin Abrams, Benedict Wong, Cary Christopher, Justin Long, Amy Madigan, Toby Huss, Whitmer Thomas e Callie Schuttera.
Duração: 2h08min
Nota: 4,5/5,0