Uma das adaptações mais esperadas (pelo menos por mim) finalmente está entre nós. A Empregada (The Housemaid) é um suspense ‘farofa’ que surpreende positivamente o público que não leu o livro e deixa os fãs da obra original satisfeitos com o grau de fidelidade e com algumas modificações que encaixam a história melhor na tela.
É um filme perfeito? Não, tem suas pequenas falhas que falarei a seguir, mas A Empregada cumpre o que promete: ser um suspense delicioso, levemente jocoso e impactante na medida certa.
Sob a direção de Paul Feig, A Empregada adapta o primeiro livro da autora Freida McFadden, e acompanha Millie, uma jovem que passa por dificuldades e sente aliviada quando recebe a chance de trabalhar como empregada para os Winchester, uma família rica composta pelo casal Nina e Andrew e a filha pequena, Cece.
Com a chance de ter um lugar para morar (e não mais em seu carro), comer, dormir e tomar banho, Millie segue as regras e faz tudo na casa, desde cozinhar, limpar, fazer as compras e buscar a menina na escola ou no balé. No entanto, com o passar dos dias, Millie se depara com um comportamento hostil e perturbado de Nina, enquanto Andrew tenta apaziguar o clima e manter a paz na casa e a sanidade da esposa.

À medida que Millie se envolve com a família, segredos são revelados, além do perigo rondar a casa, sendo alertada pelo jardineiro Enzo. Porém, Millie também tem um segredo nada agradável: ela está sob liberdade condicional, após ficar presa por anos.
Crítica: Truque de Mestre – O 3º Ato
Para quem leu o livro, irá notar o bom grau de fidelidade da adaptação com a obra original, assim como as mudanças e certas falhas. No geral, o filme agrada bastante por respeitar não só a narrativa, como também colocar um elenco que se encaixa bem com os seus respectivos personagens.
E para quem não leu o livro, A Empregada surpreende com atitudes impulsivas, irrita com certos personagens e choca com as reviravoltas da história, encaixando peça por peça toda a loucura vista até o momento.
O que achei interessante é que, enquanto o livro deixa bem marcado o ponto de vista dos personagens, o filme deixa a troca de perspectivas mais fluída, sem deixar tão demarcado ou dividido em blocos.
Outro ponto positivo é o cenário bem desenhado como imaginamos enquanto lemos o livro. É uma casa linda, ampla, sofisticada e bem iluminada. E tais paredes carregam desconforto conforme a Millie transita pelos cômodos, descobrindo aos poucos o que se passa ali.

Mas a cereja do bolo de A Empregada está tanto no elenco quanto nas reviravoltas que performam. A atriz Sydney Sweeney entrega uma Millie misteriosa, com o seu lado recatado em querer fazer o emprego dar certo, sem poder pisar na bola e, assim, manter o seu passado na surdina.
Mas, ao mesmo tempo, ela se vê recuada com o comportamento hostil da patroa, tendo que ‘engolir certos sapos’ para não sair dos trilhos, enquanto tenta ser uma boa empregada. Além disso, ela sente pena de Andrew por ter que lidar com tudo isso e se sente atraída pelo patrão perfeito.
Porém, senti falta de uma Millie mais pretensiosa como vemos no livro, em que, em um dado momento, ela acredita e confirma que merece ter a sua felicidade dentro daquela casa. A atriz até consegue expor isso na tela, mas poderia ser mais.

Amanda Seyfried é o destaque de A Empregada. Ela entrega uma Nina que consegue irritar àqueles que já conhecem a personagem do livro, e irrita mais ainda quem não conhece, o que é algo positivo. Nina é a esposa que, por trás da aparência perfeita, guarda segredos que se dissipam pelo seu comportamento agressivo e impulsivo. E cada movimento desta personagem tem um motivo.
O ator Brandon Sklenar é a escolha ideal para ser Andrew. Ele incorpora o marido lindo e perfeito, causando certa intimidação para quem está perto com o seu charme, doçura e beleza. Ele é a personificação do príncipe encantado, até certo momento.
A atriz mirim Indiana Elle é Cece, filha de Nina e Andrew, uma garotinha meio carrancuda que não aceita muito bem Millie dentro de casa. A personagem é branda, se comparada com a do livro, que é tão insuportável quanto a mãe. Acredito que apaziguaram a personagem no filme, justamente por ser uma criança.

Apesar do bom elenco, A Empregada falha drasticamente no desenvolvimento de Enzo, interpretado por Michele Morrone. O jardineiro é um personagem à paisana inicialmente, mas que se torna peça chave no plot twist da história original.
Infelizmente, o filme diminui a sua importância na trama, descartando um personagem que é fundamental. Sinceramente, não tem como entender esta decisão ridícula, pois era possível inseri-lo no miolo do caos, pois havia tempo e espaço de tela. Para mim, erraram feio nesta escolha.
Considerações finais

A reta final de A Empregada traz a reviravolta significativa do filme, revelando as facetas de cada personagem, a real intenção por trás de cada ação e a verdadeira mensagem deste suspense, costurando as doideiras vistas até agora.
O final apresenta pequenas modificações com relação ao livro que, na minha opinião, se encaixaram bem com o objetivo de ser mais impactante na tela e, consequentemente, trazendo justificativas mais plausíveis do que no livro. Arrisco a dizer que o final do filme é até melhor do que a obra original.
A Empregada é uma adaptação que acerta no grau de fidelidade à obra original, apresenta um bom elenco que encabeça muito bem os personagens, têm ótimos plots twists e mudanças que tornam o final ainda melhor. Porém, há pequenas falhas, como o descarte da importância de Enzo. De resto, o filme entrega um suspense bom e gostoso de assistir.
Final Explicado
******CONTÊM SPOILERS******

Em A Empregada, o primeiro plot twist é descobrir que Millie foi presa ainda na adolescência ao matar um colega de escola. Isso acontece porque ela flagra o garoto rico e perfeito estuprar uma amiga. Por ser a garota pobre da escola e a amiga negar a situação, a corda estoura para o lado mais fraco.
Condenada por 10 anos de prisão, Millie consegue liberdade condicional anos depois, em que ela precisa de moradia e emprego, além de comparecer às reuniões para não retornar à cadeia. E o trabalho na casa Winchester se torna na solução, mas também em um grande pesadelo.
Quando acompanhamos a perspectiva da Nina no filme, o espectador descobre que a personagem se encontra em um casamento tóxico e extremamente abusivo e violento com Andrew, fazendo a fachada de ‘príncipe encantado’ ir por água abaixo.
Cada vez que Nina comete um erro, Andrew a tranca no sótão, castigando-a de acordo com o erro cometido. No filme, como ela não retocou a raiz do cabelo, ele a faz arrancar 100 fios de cabelo, além do fato de deixá-la sem comida, água e fazer as necessidades em um balde até cumprir o castigo.
Além disso, Nina ficou conhecida como a mãe psicopata que quase deixou Cece se afogar na banheira, levando-a a internações em uma clínica. A verdade é que tudo isso foi um plano sádico de Andrew para deixá-la cada vez mais presa, vulnerável e dependente dele e de remédios. Ela até tenta fugir com a ajuda de Enzo, mas é sempre pega por Andrew.

Até que Nina percebe que Andrew gosta de ser adorado por outros e de cuidar de quem precisa ser cuidado. Assim, ela arquiteta um plano para que Andrew a abandone e fique com outra, escolhendo Millie a dedo, e ciente do seu passado, para ser a nova vítima.
Mas o que ninguém esperava era que Millie conseguisse dar a volta por cima e fazer Andrew beber do próprio veneno. Depois de ser castigada no sótão, ela o tranca no quarto para torturá-lo e, com o retorno de Nina à casa, os três brigam e Millie mata Andrew, encenando um acidente doméstico. O personagem tem um final ainda mais trágico e brutal que no livro, o que eu gostei.
A policial que investiga o caso, acoberta a situação ao saber de quem se trata, uma vez que sua irmã Kathleen teve um relacionamento com Andrew e conseguiu fugir dele.
No enterro, Nina descobre que Andrew se tornou na pior pessoa por causa da mãe, Evelyn (Elizabeth Perkins). Ela vende a casa e vai embora com Cece para Califórnia. Mas antes, ela entrega um cheque de 100 mil dólares para Millie seguir com a vida, e a recomenda para trabalhar na casa de uma amiga, que também precisa de ajuda com o marido difícil de agradar.
Livro vs Filme

Algumas diferenças entre o filme e o livro A Empregada:
– O livro começa revelando que há um corpo na casa e a polícia está no local. O filme já inicia com Millie indo para a entrevista de emprego com Nina.
– Enquanto que no livro Cece é insuportável com Millie, no filme a garotinha é apenas chata.
– No livro, Enzo é quem ajuda Nina a fugir de Andrew, ao ponto deles terem um romance. Enzo não concorda em deixar Millie à mercê de Andrew e pede para Nina voltar para ajudá-la. No filme, quem tem essa conversa com a Nina é Cece, enquanto Enzo é completamente descartado na trama.
– No livro, Andrew castiga Millie por bagunçar seus livros. Ele ordena que ela empilhe vários livros pesados na barriga por horas, ao ponto de tirar o ar. No filme, ao quebrar uma louça de família em 21 pedaços, Andrew ordena que Millie faça 21 cortes profundos na barriga com o pedaço do prato quebrado.
– Millie ataca Andrew ferindo o seu pescoço e o tranca no sótão. Ela ordena que ele arranque um dente para acabar com o sorriso perfeito da mamãe. No livro, Andrew arranca todos os dentes, o que faz com que ele sangre até morrer.
– No livro, Andrew morre no sótão, Nina chama a polícia e acoberta Millie, indicando que Andrew ficou preso acidentalmente quando ninguém estava em casa. No filme, Nina volta para casa e solta Andrew do sótão, acreditando ser Millie. Os três entram em uma briga e perseguição, e Millie empurra Andrew do último andar da casa, que morre pela queda, tendo uma morte mais brutal.
– No livro, o detetive que investiga o caso é pai de Kathy, que teve um relacionamento com Andrew no passado, e depois disso, ela nunca mais foi a mesma. No filme, o personagem é uma policial que é irmã da Kathy, o que faz mais sentido por aumentar a sororidade feminina e ela acobertar o que aconteceu na casa.
– No livro, Nina vai embora com a filha para Califórnia. Ela recomenda Millie como empregada para uma amiga que também precisa de ajuda. No filme, Nina e a filha também vão embora e ela dá um cheque de 100 mil dólares para Millie, além de recomendar seus serviços para a amiga. Assim, Millie se torna na ‘empregada justiceira’, transformando sua dor em ação.
Ficha Técnica
A Empregada
Adaptação do livro de Freida McFadden
Direção: Paul Feig
Elenco: Sydney Sweeney, Amanda Seyfried, Brandon Sklenar, Michele Morrone, Elizabeth Perkins, Indiana Ellen, Megan Ferguson, Ellen Tamaki, Hannah Cruz, Alaina Surgener, Alexandra Seal e Sophia Bunnell.
Duração: 2h11min
Nota: 3,9/5,0





















