Com um pouco mais de um ano de espera, Marvel – O Justiceiro (The Punisher) retorna à Netflix ainda mais violento. Se a 1ª temporada entrega uma história mais lenta, porém progressiva e atrativa, a 2ª temporada ganha um ritmo mais acelerado com a ajuda de cenas mais agressivas e brutais, dando um tom ainda mais sanguinário à série. No entanto, o roteiro destes novos episódios oscila ao entregar duas grandes tramas, sendo que uma das histórias demora para ser desenvolvida, explicada e contextualizada, o que atrapalha o caminhar do protagonista deixando-o perdido em alguns momentos justamente por não saber qual batalha irá enfrentar.
Com 13 episódios de quase uma hora, O Justiceiro começa seis meses após os últimos eventos da primeira temporada, mostrando um Frank Castle (Jon Bernthal) recluso e disposto a ter uma vida menos agitada. Os dois primeiros episódios mostram Frank em uma rotina amena, tranquila e prestes a iniciar um possível relacionamento ao conhecer Beth, a bartender de um bar de Chicago. No entanto, ao se deparar com a adolescente Amy ameaçada por russos, o instinto de justiça/vingança desperta novamente em Frank, o que o faz agir impulsivamente e lutar a qualquer custo para manter a garota viva.
O início da temporada revela o tom agressivo e rápido, introduzindo o protagonista em uma nova missão que o telespectador demora para tomar conhecimento devido às informações serem entregues pouco a pouco. A narrativa até caminha bem, mas oscila muito com duas tramas completamente diferentes, que somente se conectam pelo protagonista.
Já era de se esperar uma temporada ainda mais forte e, acredito que a série acerta neste ponto ao entregar cenas brutais e sangrentas, como a sequência do ataque no bar e na delegacia – que, por sinal, são as minhas favoritas.
Desta vez, a temporada não entrega nenhum plot twist avassalador que muda o tom da trama, como fizeram na temporada passada. A única coisa que acontece é uma emboscada bem elaborada que surpreende o público.
Outro ponto positivo desta 2ª temporada foi colocar Frank Castle como protetor de uma adolescente, o que gera momentos divertidos justamente por criar uma divergência de personalidades fortes e ainda testar a constante falta de paciência do protagonista. No entanto, Frank prova que sempre foi um ótimo pai e, assim como foi para os seus filhos, ele também é um protetor para Amy. Giorgia Whigham e Jon Bernthal têm boa química e empatia e você torce o tempo todo para que ele mantenha a garota sã e salva.
Trama desnecessária?
Para mim, O Justiceiro peca nesta 2ª temporada pelo mau desenvolvimento da trama dos russos. No começo, o público não toma conhecimento da razão de Amy está sendo perseguida pela gangue (e nem Frank sabe) e, infelizmente, essas explicações demoram a acontecer, tornando este arco dentro da série enrolado, mal justificado e fraco. Quando finalmente a série começa a entregar pistas, tais argumentos se tornam extremamente fracos. O personagem John Pilgram, interpretado por Josh Stewart causa medo e até gosto de suas cenas de luta. Ele é uma pessoa movida erroneamente pela fé e, o pior, ainda é usado pelos russos com o intuito de proteger a sua família. É interessante vê-lo dividido entre a religião distorcida e o pecado da carne e morte. No entanto, por mais que o personagem em si seja interessante, há vários momentos em que você pergunta o porquê dele estar ali naquele momento, sendo que a ocasião não exige a presença dele, muito menos dessa trama.
Crítica do retorno da 2ª temporada de The Resident
Este arco não só oscila como também tira o foco de Frank Castle quando ele está preocupado em reencontrar Billy Russo, o que deixa o telespectador perdido: estamos vendo a trama dos russos ou de Billy? Será que essas duas tramas vão se conectar em algum momento? Faria mais sentido, não é mesmo? A verdade é que O Justiceiro deveria ter entregado uma resolução para essa trama na metade da temporada, deixando os demais episódios focados em Nova York.
A revanche
Mesmo com a trama dos russos atrapalhando tanto o foco do telespectador quanto a de Frank Castle, a gente não se esquece do grande vilão desta temporada: Billy Russo (Ben Barnes). Após o embate com Frank na temporada passada, Billy se recupera lentamente das lesões graves que sofreu, deixando marcas permanentes em seu rosto, memória falha e um psicológico completamente perturbado. É positiva a forma como a série trabalha com o personagem, o seu atual estado lunático e com a realidade distorcida, uma vez que ele se lembra do passado, mas não dos momentos mais recentes, apenas da ‘caveira’ que dilacerou o seu rosto. À medida que Billy vai recuperando suas forças e cria um novo foco em sua vida, ele consegue montar um exército de mascarados para lutar ao seu lado, o que eu acho sensacional, pois isso enfatiza ainda mais a força do antagonista e aumenta ainda mais o desafio para Frank Castle. Mas vamos falar a verdade? Pra quem teve a face toda destruída, esperava-se o personagem mais desfigurado, vocês não acham?
Outro ponto interessante foi o trabalho que fizeram para unir Billy com a terapeuta Krista (Floriana Lima), criando uma dupla ao estilo Coringa e Arlequina. Ao mesmo tempo em que tenta ajudá-lo a lidar com o que aconteceu e compreender os seus próprios demônios para seguir em frente, Krista revive em Billy traumas que a marcam desde a infância. Isso faz com que ela não só se sinta atraída pelo vilão, como também tome medidas destrutivas não só para si, mas para todos que estão na mira do antagonista.
Já assistiu a série New Amsterdam?
Em determinado momento, é possível cogitar a ideia de que Billy venha trabalhar para os russos na caçada contra Amy e Frank, o que seria uma excelente ideia, uma vez que uniria bem as duas tramas. Mas infelizmente isso não acontece, deixando o público mais ansioso com o arco de Billy do que dos russos.
Outros personagens
A agente Dinah Madani (Amber Rose Revah) retorna obcecada por Billy e perturbada devido aos acontecimentos no carrossel na temporada passada. Por estar muito traumatizada, isso afeta em algumas de suas decisões, deixando a personagem perdida em alguns momentos, mas ela retorna aos trilhos, rendendo uma cena muito boa dela com Krista no penúltimo episódio.
O melhor amigo de Frank, Curtis (Jason R. Moore), tem mais cenas de ação desta vez e se envolve mais na missão do amigo ao invés de ser apenas um personagem secundário. Além dele, também temos a introdução do novo detetive Mahoney (Royce Johnson) que, como novato, tenta sempre fazer a coisa certa, mas nunca obtém muito sucesso. Aliás, algo que frustra bastante na série é a incompetência da polícia. Talvez isso seja proposital para dar ênfase nas ações de Frank Castle? Sim, mas mesmo assim, a polícia poderia funcionar um pouco melhor na história.
Considerações finais
O desfecho desta temporada é bom e satisfatório, com finais felizes para alguns e tristes para os que mereciam. Aliás, o desfecho não deixa pontas soltas para o caso da série ser cancelada.
A 2ª temporada de Marvel – O Justiceiro é mais ágil e dinâmica, com um tom ainda mais violento e agressivo, com melhores sequências de luta e ataque e sem nenhum plot twist que muda o tom da trama. No entanto, o roteiro oscila muito com duas tramas distintas, unidas apenas pelo protagonista, um elo que mais atrapalha o foco do personagem do que ajuda. O público fica dividido com os arcos, mas se sente mais atraído pela trama de Frank e Billy, enquanto a trama com os russos se torna quase desnecessária, salvando-se apenas pela introdução de Amy.
O que vocês acharam da 2ª temporada de O Justiceiro? Deixem nos comentários!
Ficha Técnica
Marvel – O Justiceiro
Criação/showrunner: Steve Lightfoot
Produção executiva: Jeph Loeb, Jim Chory e Steve Lightfoot
Direção: Jim O’Hanlon, Jeremy Webb, Jet Wilkinson, Jamie M. Dagg, Alex Garcia Lopez, Stephen Kay, Iain B. MacDonald, Meera Menon, Michael Offer, Stacie Passon e Salli Richardson-Whitfeld.
Elenco: Jon Bernthal, Ben Barnes, Amber Rose Revah, Giorgia Whigham, Floriana Lima, Jason R. Moore, Josh Stewart, Deborah Ann Woll, Royce Johnson, Alexa Davalos, Tony Plana, Samuel Gomez, Maria Elizabeth Mastrantonio, Corbin Bernsen, Jordan Dean, Annette O’Toole, Jimi Stanton, Teri Reeves, Todd Alan Crain, Allie McCulloch, Charles Brice, Henry Boshart e Zell Steele Morrow.
Duração: 13 episódios (50min a 60min aprox.)
Nota: 7,0