Cobra Kai retorna à Netflix em sua parte 2 da 6ª temporada que destrincha vários acontecimentos no decorrer do campeonato Sekai Takai, em Barcelona. É de se notar que os novos episódios apresentam um drama mais inflado e pouco foco em um momento importante aos personagens.
Os plots dramáticos se sobressaem e ofuscam o que deveria ser importante para todos, regredindo temporariamente as performances de alguns personagens. No entanto, a reta final desta parte 2 retoma o seu fôlego, com resoluções que se dividem entre eficazes e fáceis para a história continuar fluindo. Ainda assim, a série entrega a maior sequência de briga da produção, culminando em um momento trágico, na qual veremos as consequências repercutirem na parte final, que estreia em 2025.
******CONTÊM SPOILERS******
Muito drama, pouco foco
Era de se esperar ver o desenvolvimento dos dramas iniciados na primeira parte, especialmente com Tory lutando ao lado Kreese e Kim. Este é um dos pontos altos destes novos episódios, que abala os relacionamentos e o objetivo do Myagi-Do de estar ali.
Cobra Kai: parte 1 da 6ª temporada – Crítica
É compreensível ver a mente confusa de Tory com sua decisão, enquanto isso atinge e magoa os amigos, especialmente Robby. Mas tal escolha, juntamente com as provocações do cobra kai e o surgimento de novos oponentes, abalam fortemente o lado emocional do Myagi-Do.
Talvez este seja um ponto negativo nesta segunda parte. O excesso de drama influencia nas ações e reações de cada personagem em um momento crucial. Por um lado, tais dramas fazem alguns regredirem no processo, mas logo retornam aos eixos ao se dar conta de que o resultado deste campeonato pode mudar vidas. Por outro lado, há momentos dramáticos que passaram um pouco da conta, tornando-se desnecessários.
E o que não falta são subtramas acontecendo ao mesmo tempo: todos tentando lidar com a Tory no lado oposto; Robby perde o foco e regride no tatame, levantando a dúvida de sua posição como capitão; as rixas entre os dojos, sendo que alguns deles nem tinham motivos para iniciar brigas; o passado do Sr. Myagi que afeta a cabeça de Daniel, por não aceitar que o sensei possa não ser uma pessoa perfeita; as provocações e disputas entres os dojos inimigos; o retorno de vilões para o confronto final, entre outras coisas.
Em parte, algumas subtramas foram necessárias para alimentar o caos, especialmente para o que viria acontecer no último episódio. Já outras situações apenas duraram tempo demais. Seria apenas uma ‘encheção de linguiça’?
Por exemplo, a briga entre Falcão e Dimitri foi além do limite, causando ações que prejudicaram ambos tanto no tatame quanto fora, como o término de namoro de um deles e a falta de confiança durante as disputas no torneio, para garantir que o Myagi-Do chegue na final. E tudo começou por conta da decisão do Falcão em não ir para a mesma faculdade que o amigo. A briga durou mais que o necessário, mas, pelo menos, ganha um ponto final aos 45 minutos do segundo tempo.
As provocações entre Tory, Robby e Kwon também podem irritar o espectador em algum momento, especialmente durante os desafios do torneio. São momentos importantes em que o público anseia mais pela luta, mas que se reduzem as constantes provocações que fazem os personagens perderem a concentração e determinação, saindo dos trilhos quando não poderiam.
O roteiro desta segunda parte de Cobra Kai ora dificulta, ora facilita as situações para o andamento da história. Realmente, era necessário fazer o Johnny e Miguel voltarem para os EUA para fazerem as pazes? Entendo que foi por conta da gravidez de risco de Carmem, mas ao chegar lá, já estava tudo bem. E aí, fazem a dupla retornarem às pressas ao campeonato.
Tal plot serviu para colocar o Kenny em cena, que descobre que a Devon foi a responsável por sua humilhação. Aliás, Devon trapaceou para estar no campeonato para, no fim, ser um desastre total no tatame. Claro que a Devon é uma garota esforçada, mas não estava totalmente apta para encarar um desafio a esta altura.
Já o Kenny progride nestes novos episódios, não só na luta, mas também internamente, seja no perdão que ele dá à Devon e na credibilidade que ele recebe dos amigos, se sentindo parte de um grupo, de uma família.
Outro plot interessante, mas que se desvia um pouco é de Axel (Patrick Luwis) e Samantha, uma vez que ela descobre a forma como o sensei Wolf treina e trata os alunos com violência. Samantha apenas dá um apoio, algo visto romanticamente por Axel, que entende a situação erroneamente. Com isso, ele passa a ter raiva do Miguel gratuitamente, só por ser o namorado da Samantha. Uma motivação bem fora da curva.
Além de trazer plots que enrolam para preencher as lacunas, há também válvulas para facilitar o cavalgar da história. Nesta parte 2, Cobra Kai explica como e por quê o Kreese não é mais procurado pela polícia, conseguindo participar do torneio como sensei. Tal explicação é rápida e direta, apenas para justificar a presença de uma figura importante à trama.
Novos e antigos inimigos
A parte 2 da 6ª temporada de Cobra Kai apresentou novos dojos, com destaque para o dojo Iron Dragons liderado pelo sensei Wolf, interpretado por Lewis Tan, que faz sua introdução a este universo de um jeito bem interessante, cuja reviravolta surpreende, mas não é uma grande surpresa. Junto a ele, há dois dos seus melhores alunos – Zara (Rayna Vallandingham) e Axel – que são usados como ferramentas também para atacar os integrantes do Myagi-Do.
Junto a eles, era de se esperar também as provocações do Cobra Kai ao Myagi-Do, especialmente por parte do Kwon (Brandon H. Lee), que desfruta do fato de Tory estar no seu time, para mexer emocionalmente com Robby, enfraquecendo-o no tatame.
Mas o campeonato Sekai Takai é apenas um pano de fundo para um novo acerto de contas, que resulta em mais confusão. Em primeiro lugar, vemos que enquanto a mestre Kim tenta seguir as regras à risca do torneio e manter os alunos nos eixos, Kreese usa da situação para atingir o Myagi-Do, com foco em Johnny e Daniel.
Porém, a reviravolta inesperada (pelo menos para mim) é o rápido retorno de Terry Silver, que consegue sair da cadeia e arquivar as acusações na justiça, mais uma facilidade do roteiro. É ele quem contrata o sensei Wolf para liderar o seu mais novo dojo, afim de destruir Cobra Kai e Myagi-Do, mesmo que isso signifique que todos possam ir ao fundo do poço juntos, afinal, Terry já perdera sua reputação.
Assim como Kreese, a soltura de Terry Silver também é justificada por uma justiça corrupta, que camufla os crimes e invalida provas e testemunhos, dando a oportunidade do vilão se vingar daqueles que o colocaram na cadeia.
Daniel e Johnny
Mesmo se tratando de Cobra Kai e da antiga rivalidade entre Daniel e Johnny, esperava-se que ambos já tivessem superado essa briga para equilibrar as ideias e os conceitos no dojo.
Tanto o público quanto os próprios personagens se enfurecem com as constantes briguinhas entre os dois que, consequentemente, também abalam o emocional dos alunos dentro e fora do torneio, o que alimenta esta espiral de intriga. Pelo menos, Miguel, Samantha e Chozen fazem os dois perceberem que o egoísmo estava cegando seus reais objetivos naquele momento.
Por falar em Chozen, o personagem retorna de Okinawa magoado por Kumiko estar com outra pessoa. No entanto, isso não deve passar de um grande mal entendido que, talvez, seja explicado na última parte da série.
Em compensação, Chozen acaba se envolvendo “romanticamente’ com a mestre Kim, uma parceria improvável, mas funcional no timing certo, pois eles é quem descobrem sobre o retorno de Terry Silver.
Adicionando outro plot que precisa ser encerrado o quanto antes é o fato do Daniel em não aceitar que, talvez, o Sr. Myagi não tenha sido uma pessoa perfeita. Ao ir atrás de informações sobre o passado do sensei, Daniel é até sequestrado, um plano arquitetado por Silver para assustá-lo, usando um dos pontos fracos de Daniel para atacá-lo.
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Como chave de ouro, Silver faz questão que Daniel descubra que houve uma morte durante o torneio Sekai Takai em que o Sr. Myagi competiu. Seria ele o responsável por esta morte no campeonato? Ou tudo não passou de um grande acidente? Fico com a segunda opção, pois acredito que tal tragédia fez o Sr. Myagi compartilhar os seus conhecimentos sobre caratê para que futuros lutadores não tenham um destino trágico no tatame.
Final trágico
A reta final da parte 2 da 6ª temporada de Cobra Kai resulta em uma grande sequência de luta, maior que a briga na escola, uma das cenas mais emblemáticas da série.
Entre desclassificação por doping de um dos dojos e eliminações, o cobra kai vai e volta ao torneio em minutos, pronto para confrontar o Myagi-Do de uma vez por todas.
As disputas ocorrem normalmente para selecionar os finalistas, até que o sensei do dojo eliminado por doping retorna furiosamente, iniciando o maior caos e transformando o campeonato em uma arena desenfreada.
Todos saem na mão sem hesitar, com destaque para as brigas entre Robby e Kwon; Miguel e Axel por causa de Samantha (e ela não tem culpa de nada); Tory e Zara; Falcão, Dimitri e Samantha contra vários, entre outros.
Além disso, os próprios senseis entram na briga, com Chozen e Kim se unindo para bater nos demais, assim como Daniel e Johnny. No entanto, o foco está em Kreese, que vai atrás de Terry Silver para o tão aguardado acerto de contas. E nesta briga, Johnny fica do lado de Kreese, até porque ambos têm um inimigo em comum.
A tragédia acontece quando Kreese deixa sua faca cair no tatame e Kwon pega o objeto para atacar Axel, que estava defendo Samantha. Daniel tenta evitar, mas o pior acontece: com um único golpe que dá errado, Kwon cai em cima da faca que atinge no fundo do seu peito, matando-o instantaneamente. E todo o caos trágico é transmitido ao vivo na televisão, chocando quem está lá e quem assiste.
Tal destino de Kwon abre a possibilidade de teorizarmos que isso também tenha acontecido na época em que o Sr. Myagi participou do Sekai Takai. Será que tal morte também foi dessa forma? Será que foi por isso que o Sr. Myagi criou o método Myagi-Do para que tragédias como esta não se repetissem? Fica a se pensar.
Considerações finais
A parte 2 de Cobra Kai pode dividir os sentimentos e opiniões pela falta de foco e o excesso de dramas, sendo alguns importantes e outros que se arrastam até se tornarem desnecessários.
No entanto, a série volta aos eixos quando a determinação no torneio e a busca pela vitória voltam a ser essenciais, enquanto lidam com o retorno de inimigos, resultando em uma tragédia cujas consequências serão destrinchadas na última parte da série.
O que acharam da parte 2 da 6ª temporada de Cobra Kai?
Ficha Técnica
Cobra Kai
Criação: Jon Hurwitz, Hayden Schlossberg, e Josh Heald
Elenco: Ralph Macchio, William Zabka, Xolo Maridueña, Tanner Buchanan, Mary Mouser, Martin Kove, Thomas Ian Griffith, Yuji Okumoto, Jacob Bertrand, Courtney Henggeler, Peyton List, Gianni DeCenzo, Vanessa Rubio, Rose Bianco, Lewis Tan, Alicia Hannah-Kim, Brandon H. Lee, Patrick Luwis, Rayna Vallandingham, Joe Seo, Aedin Mincks, Owen Morgan, Hannah Kepple, Griffin Santopietro, Sean Kanan, Dallas Dupree Young e Oona O’Brien.
Duração: (6ª temporada – 5 episódios – parte 2)
Nota: 3,4/5,0