Bel-Air é a nova produção que chega ao catálogo do STAR Plus e que pode agradar pela história, o elenco e um fundo nostálgico ao trazer a releitura de uma série muito querida pelos fãs. Mesmo com algumas observações, Bel-Air apresenta um novo olhar sobre ser um remake com perspectivas de uma história já conhecida, engatando em sua proposta que garante uma 2ª temporada já confirmada. Vale a pena assistir e vou te dizer o porquê.
A nova série Bel-Air é criada por Andy Borowitz, Susan Borowitz e T.J Brady, mas sua inspiração oficial veio a partir de um trailer produzido por Morgan Cooper, grande fã de Um Maluco no Pedaço que reinventou a série como se fosse um drama contemporâneo. Com a viralização do vídeo, o ator Will Smith demonstrou interesse em transformar tal ideia em uma série de televisão que, agora, se tornou realidade no streaming Peacock nos Estados Unidos.
Com 10 episódios de 50 minutos, a 1ª temporada de Bel-Air traz a mesma premissa da série de comédia: a trama acompanha Will Smith, um jovem que vive com a mãe na Filadélfia. Ao ter problemas envolvendo brigas e a polícia, o rapaz é enviado para Bel-Air, em Los Angeles, para viver com os tios ricos Phill e Vivian e seus primos: Carlton, Hilary e Ashley. Acostumado a ter uma vida simples e conectada às suas raízes, Will terá o desafio de se adaptar ao ambiente burguês e classista seja em casa, na escola, iniciando novas amizades e relacionamentos. Esta união fará Will quebrar algumas regras, aprender coisas novas, mas também relembrar a família a essência e quem eles são de verdade.
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É preciso ter em mente que Bel-Air tem como proposta fazer uma releitura em um tom bem mais dramático da série de comédia dos anos 90. Sendo assim, não espere dar risadas ou ver vários momentos de humor, uma vez que este não é o objetivo, certo? Obviamente, a nova produção traz referências a obra original, seja nos nomes dos personagens e situações semelhantes que, aqui, ganhará uma abordagem mais aprofundada e mais densa diferente da comédia que, em certos momentos, o drama era injetado e também bem feito, sem ser a abordagem principal. Entendem o que quero dizer? Digamos que Bel-Air é o inverso de Um Maluco no Pedaço, em que o drama fala mais alto.
Ainda assim, gostaria de ressaltar que ao assistir a série, não procure por muitas fidelizações, já que a atmosfera é outra. Há referências, inclusive há participações especiais de alguns atores do elenco original (não vou dizer quem são) e é normal lembrar da comédia, mas tente separar as propostas, pois assim, a nova produção será melhor apreciada e a conexão e a compreensão sobre os personagens será melhor.
Em termos de roteiro, a série apresenta uma narrativa linear sem firulas ou complexidades no entendimento, introduzindo bem cada personagem, seus respectivos arcos e como se conectam dentro da história gerando discussões e reviravoltas interessantes. De um lado, a trama faz questão de manter um certo ar de mistério em algumas subtramas que faz o espectador duvidar se tal situação realmente foi resolvida ou irá retornar mais para frente, o que gera curiosidade e faz com que o público continue assistindo.
Do outro lado, caso algumas destas situações realmente tenham sido resolvidas, talvez crie a sensação de uma resolução precoce. Ao mesmo tempo que há este clima mais misterioso de fechar alguns arcos, há momentos em que o roteiro despeja várias situações sem freios, sem ter a chance de se aprofundar melhor em cada assunto, perdendo a oportunidade de criar problemáticas que renderiam ganchos mais fortes para a 2ª temporada, enquanto a 1ª temporada se aprofundaria melhor na adaptação do protagonista nesta nova ambientação.
Dentro destas situações, Bel-Air faz questão de trazer temáticas relevantes como representatividade, sexualidade, trabalho, racismo, machismo, política e divergências entre conceitos e opiniões, especialmente quando Will passa a morar com os tios e viver em um cenário completamente o oposto ao seu, o que faz ele desafiar os tios e os primos, e vice-versa, a aproveitar as novas oportunidades e a relembrar as origens.
Quem é Will Smith?
Enquanto a comédia deixa implícito o motivo de Will se mudar, Bel-Air se aprofunda neste assunto ao relatar o que realmente aconteceu com o protagonista: após uma briga envolvendo o melhor amigo Trey, a polícia e uma figura perigosa da Filadélfia, Will é ameaçado e, por conta disso, é obrigado pela mãe a ir morar com os tios do outro lado do país, deixando tudo para trás em busca de um recomeço.
Desta vez, Will é interpretado por Jabari Banks que, na minha opinião, se encaixou muito bem no papel ao trazer boa dose de carisma, jovialidade e personalidade forte. Mesmo não enfatizando tantos elementos divertidos, Will injeta humor na forma como fala e age dependendo da situação, seja para tornar o momento mais agradável ou ajudar alguém, assim como ele também sabe elevar o tom dramático especialmente ao se adaptar a esta vida luxuosa, como as pessoas vão enxergá-lo, o segredo por trás da sua mudança para outra cidade, seu relacionamento com os tios e primos, os novos amigos e amores.
Assim como em Um Maluco no Pedaço, a relação com os tios é forte por conta do histórico familiar envolvendo a mãe Viola (April Parker Jones) e a tia Vivian, além do tio Phill que, agora está envolvido no mundo político. As interações com os primos também são relevantes, especialmente com o Carlton, que é um dos pontos altos da série.
No quesito amizade, Will imediatamente conhece o Jazz (Jordan L. Jones) cuja conexão é natural e instantânea, porém a história não aproveita para explorar tanto esta amizade como gostaria, criando uma proximidade maior entre o Jazz e a Hilary que, no fim das contas, surpreende positivamente.
Já a amizade com Trey (Stevonte Hart) é forte, justamente por ser apresentada de uma forma complexa no início, que logo sofre um grande abalo por contas das mudanças na vida de cada um. Mesmo criando afeição por Trey, nota-se que ele não foi compreensivo com as decisões tomadas por Will, ao mesmo tempo que é possível entender a sua mágoa ao ver o melhor amigo distante, especialmente depois de tudo o que eles passaram. Mas tenho plena certeza de que este assunto retornará na 2ª temporada com mais força.
Além disso, Will logo se interessa pela Lisa (Simone Joy Jones), que conhece na escola, no entanto, tal aproximação traz impasses e agitações na história que afeta tanto os dois quanto outras pessoas ao redor.
No geral, posso dizer que a introdução do Will nesta 1ª temporada de Bel-Air tem potencial e é satisfatória. No entanto, a série poderia ter se importado em se aprofundar mais na adaptação do Will e deixar dramas familiares mais específicos para a 2ª temporada, pois assim, teríamos uma base mais sólida do protagonista. Sugiro que assistam a temporada completa para tirar uma conclusão mais concisa.
Família Banks
Em Bel-Air, a família Banks não fica a desejar e ganha introduções bem feitas, seguindo a mesma problemática de ter certos dramas exagerados ou menos aprofundados. No geral, todos os personagens conquistam e criam um mix de sentimentos que muda no decorrer da temporada.
De um lado, temos o tio Phill (Adrian Holmes), um grande advogado que, agora, engata no mundo político, um ponto que gera discussão justamente por ele ser um homem negro e rico. Afinal, mesmo tendo adquirido um status superior com esforço, trabalho e dedicação, Phill é capaz de proteger e trazer direitos, justiça e igualdade à sua comunidade? Este é um debate que acontece na série tanto dentro da família, uma vez que isso afeta a esposa e os filhos, quanto fora pela forma como as pessoas o enxergam. A chegada de Will faz com que Phill tenha novas percepções sobre quem ele quer ser como político, advogado, marido, pai e homem.
Assim como Phill, a tia Vivian (Cassandra Freeman) também vê sua vida mudar com a chegada do sobrinho que a faz ter uma nova percepção de sonhos que foram deixados para trás, como sua carreira de pintora. O mundo da arte é um dos grandes amores de Vivian, um ponto que a série faz questão de aprofundar neste resgate da personagem. Além disso, Vivian é uma ótima mãe, mas que também tem problemas ao lidar com certas situações com cada um deles, uma vez que ela fala na lata o que pensa, seja com a personalidade de Carlton, a vida profissional de Hilary, o que se passa com Ashley, a adaptação de Will e como a carreira política de Phill afeta a vida pessoal de todos.
Dos filhos, cada uma ganha uma roupagem nova e bem diferente do que conhecemos na série de comédia. Se você se divertia com Carlton, em Bel-Air prepare-se para passar raiva com o personagem em vários momentos. Carlton (Olly Sholotan) é um personagem difícil de lidar, que coloca suas emoções acima dos outros, o que pode até sufocar. Por sempre se mostrar como o filho perfeito ou aluno exemplar, isso alimenta sua extrema ansiedade que o faz sofrer bastante, descontar nos outros e ter atitudes erradas que vão gerar raiva e repulsa no espectador.
A relação de Carlton e Will começa com rivalidade e grandes atritos, uma vez que Will é espontâneo e defende seus conceitos e suas origens, enquanto Carlton se camufla em uma sociedade preconceituosa, na qual ele mesmo é agredido com palavras e abaixa a cabeça, apenas para se sentir encaixado e enturmado. Entende o que quero dizer?
Além disso, Carlton tem ciúme e inveja do Will pela facilidade em conquistar as pessoas, enquanto ele se esforça ao máximo sem surtir o mesmo efeito. É normal ter um mix de sentimentos pelo personagem, mas a compreensão com relação à sua personalidade vem aos poucos à medida que ele e Will passam a se entender melhor, assim como as camadas de Carlton se tornam mais vulneráveis especialmente ao final da 1ª temporada. Para mim, Carlton é um dos personagens mais bem construídos até o momento e que tem muito a descobrir e oferecer à história.
Já Hilary (Coco Jones) é uma das gratas surpresas em Bel-Air. Ainda seguindo o mesmo estereótipo de patricinha e mimada, a personagem sai desta bolha como influenciadora digital no ramo da gastronomia, depois que larga a faculdade. Hilary cozinha muito bem e, agora, deseja levar a sua cultura, os costumes e as raízes aos outros através da comida, o que é ótimo. O mais interessante é que vemos pela perspectiva de Hilary que, mesmo sendo rica, não é fácil crescer e lidar com a internet e, às vezes, se submeter a algo ou as regras impostas por alguém são difíceis, levando para um caminho que não traduz quem você é de verdade. Aliás, as brigas que ela tem com a mãe com relação à carreira e independência financeira nutrem a relação e faz uma aprender melhor com a outra.
Dos três filhos, a Ashley (Akira Akbar) é quem tem o espaço reduzido na série e traz um arco com temática relevante, porém mal aproveitada até o momento. A personagem é defensora do ativismo das mudanças climáticas e, agora, se encontra em uma fase de autodescoberta com relação a gostos e amizades. Apesar dos assuntos serem interessantes, a personagem fica de escanteio em vários momentos e, quando aparece, o assunto em pauta é jogado de forma aleatória na trama. Há potencial, mas a construção do arco da personagem necessita de uma atenção melhor.
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Dentro do núcleo familiar, outra grande surpresa é o Geoffrey (Jimmy Akingbola) que ganha uma versão moderna de mordomo ao estilo ‘007’. Ele é o braço direito da família Banks, especialmente de Phill seja no apoio na política e nos assuntos familiares, na qual Geoffrey mantém contatos fortes para conseguir informações precisas e soluções práticas à família. É um personagem muito interessante, apesar da participação reduzida. Espero que na 2ª temporada ele seja melhor explorado e aproveitado.
Considerações finais
O final deixa várias pontas soltas para a 2ª temporada já confirmada. No geral, Bel-Air mostra força e potencial que garantem mais um ano de vida na televisão. O elenco é muito bom e a introdução é satisfatória, apesar de algumas ressalvas, seja no aproveitamento reduzido de alguns personagens, temáticas menos exploradas ou subtramas que poderiam ser introduzidas futuramente.
Ainda necessitando de mais lapidações, Bel-Air te conquista por trazer uma releitura dramática forte de uma série de comédia de sucesso, apresenta personagens bons e alguns mais complexos e boas reviravoltas a cada episódio que prende a atenção do espectador. Bel-Air é uma série que vale o play e o seu tempo.
Ficha Técnica
Bel-Air
Releitura dramática de Um Maluco no Pedaço
Criação: Andy Borowitz, Susan Borowitz, Morgan Cooper e T.J Brady
Produção executiva: Will Smith, Quincy Jones, Benny Medina
Elenco: Jabari Banks, Adrian Holmes, Cassandra Freeman, Olly Sholotan, Coco Jones, Akira Akbar, Jimmy Akingbola, Simone Joy Jones, Jordan L. Jones, April Parker Jones, Joe Holt, Stevonte Hart, Jon Beavers, Michael Ealy, Charlie Hall, Tyler Barnhardt, Duane Martin, Wendy Davis, Ben Cain, Benita Krista Nall, Scottie Thompson e Dorian Harewood.
Duração: 1ª temporada (10 episódios 50min)
Nota: 3,0/5,0