Simples, saudosista e nostálgico, Chocante chega para levar o público a curtir novamente o ritmo das boy bands dos anos 80 e 90. O filme tinha tudo para dar errado e ser mais uma galhofada, mas é aí que o espectador se surpreende, pois além de ser divertida, a comédia relembra os bons momentos dessa época com cenas emocionantes, dramáticas e personagens engraçados que farão o público se identificar com os seus aspectos de vida.
Após 20 anos do sucesso meteórico do grupo Chocante com o hit ‘Choque de Amor’, Téo (Bruno Mazzeo), Tim (Lúcio Mauro Filho), Tony (Bruno Garcia) e Clay (Marcus Majella) se reencontram e lembram do sucesso, comparando com um presente nada promissor. Com saudades do que eles eram antes, o grupo resolve se reunir novamente com a ideia de fazer um novo show, o que deixa a eterna líder do fã club Quézia (Debora Lamm) extremamente feliz. Orientados pelo prestigiado empresário Lessa (Tony Ramos), os amigos retornam os ensaios com o novo integrante Rod (Pedro Neschling), vencedor de um decadente reality show. O resgate do grupo trará situações divertidíssimas e uma nova fã para o pedaço: Dora (Klara Castanho), filha de Téo.
O que faz o filme ser divertido é o roteiro simples e bem desenvolvido que conta uma história na qual muitos rebobinarão a mente e dizer “nossa, eu lembro daquela época, daquela banda e daquela música”. Chocante chega para prestar uma homenagem as boy bands que fizeram muito sucesso (e ainda fazem) com um ou mais hits da parada, como é o caso do grupo Menudo, Dominó, New Kids On The Block, Backstreet Boys, N’Sync, Westlife, entre outros. Com algumas cenas no formato documentário, o espectador se depara com o grupo Chocante em vários programas de televisão, como o antigo Domingo Legal, com direito ao Pintinho Amarelinho e o famoso desafio na banheira (quem desse quadro?). Além disso, Téo guarda vídeos gravados da época em que a banda fazia suas turnês pelo Brasil, relembrando os bons momentos, mas também as fases mais difíceis sobre faze sucesso, afinal, dividir o tempo e o espaço com pessoas que, até então eram desconhecidas, pode ser um pouco difícil não é mesmo? Estou dizendo isso, pois naquela época (e talvez isso aconteça até hoje), os empresários e agentes desse ramo encontravam suas pupilas pelo país para formar um grupo musical. Até esse momento, os integrantes são completamente estranhos e, com o passar do tempo, é que eles acabam formando uma família.
Para voltar ao mundo musical, os rapazes se reúnem novamente, mas com a ausência do integrante Tarcísio devido a uma fatalidade que lhe ocorre. Com essa reunião, o público irá se divertir com as discussões, os ensaios e as confusões para agendar um show de retorno da banda. Todos os personagens brilham e divertem com suas personalidades, com destaque para Clay, Téo e o empresário Lessa, em que Tony Ramos interpreta com excelência, nos dando um agente agitado, nervoso e com a língua afiada na medida certa. Isso sem contar com o visual extravagante de cada um deles seja no passado e, até mesmo, nos dias atuais.
Mas Chocante não é só diversão. O filme também faz um retrato da frustração dos rapazes com suas vidas pacatas e nada promissoras, principalmente quando comparadas ao que eles eram 20 anos atrás. Por exemplo, Clay trabalha em um supermercado; Téo trabalha com filmagens de casamentos; Tim é oculista e Tony é motorista. Acredito que o público irá se identificar com essas cenas, afinal, quem é que nunca se sentiu frustrado por algo ter dado errado no passado e não conseguir retomar o projeto no presente? Quem é que nunca ficou insatisfeito com o emprego que tem? Quem é que luta para conseguir algo e, às vezes, não obtém o que tanto deseja? Mais tragicômico, Chocante apresenta o “Lado B” de uma vida que poderia ter sido um sucesso total, mas contratempos impediram disso acontecer.
A nostalgia carregada no filme bate de frente com a famosa ‘Geração Y’, representada pelos personagens Rod e Dora. Enquanto Dora tenta aprender mais sobre a antiga geração do pai e quais bandas ele curtia, além de descobrir sobre a banda Chocante, Rod entra para o grupo e traz um conteúdo totalmente desconhecido para antiga geração, mas que, para nós, já é mais do que normal. Ex-integrante de um reality show, Rod faz sucesso nas redes sociais, postando tudo sobre sua vida, desde um ensaio da banda até a frustração do dia, tudo isso só para dividir os seus momentos com os fãs. Acredito que muitos já viram isso, afinal o que não falta são youtubers e instagrammers dividindo a vida na internet com pessoas desconhecidas. Com esses exemplos, o filme ganha mais um ponto positivo por colocar na balança duas gerações completamente diferentes e o choque desse encontro.
Considerações finais
Pensou em um final feliz? Chocante não vem para trazer de volta o sucesso da banda e, sim, para relatar o auge e a decadência de um boy band, além de mostrar as vidas atuais de seus integrantes e como eles lidam com suas frustrações. Nostálgico, divertido, emocionante e um pouco dramático, Chocante tinha tudo para ser um filme para se torcer o nariz, mas a trama choca o público por trazer uma boa história saudosista de uma época que, até hoje, é sucesso e alegria para muitas pessoas.
Ficha Técnica
Chocante
Direção: Johnny Araújo e Gustavo Bonafé
Elenco: Bruno Mazzeo, Bruno Garcia, Lúcio Mauro Filho, Marcus Majella, Pedro Neschling, Debora Lamm, Klara Castanho, Tony Ramos, Renata Gaspar e Priscila Assum.
Nota: 7,5