Dept Q é o mais novo título da Netflix que vem chamando a atenção no catálogo e conquistou o seu posto no TOP 10 com uma ótima história de mistério e investigação encabeçada por um elenco de ponta.
Deixe a preguiça ou qualquer dúvida de lado e dê o play nesta nova produção que sabe prender a atenção do começo ao fim com uma trama sem firulas. Vale a pena assistir e vou te dizer o porquê.
Dept Q. é uma série de suspense policial baseado na saga dinamarquesa O Guardião das Causas Perdidas, do autor Jussi Adler-Olsen. Escrita e dirigida por Scott Frank (O Gambito da Rainha) e Chandni Lakhani, os responsáveis decidem tornar esta produção escocesa, encabeçada pelo ator Matthew Goode, cujo papel principal foi desenvolvido pensando exatamente nele para interpretar.
Na trama de Dept Q, conhecemos o detetive Carl Morck, um detetive brilhante em ler de decifrar os enigmas de uma investigação. No entanto, o que afasta quase todo mundo é a sua personalidade quase insuportável, desde o sarcasmo ofensivo, até as palavras dolorosas que saem de sua boca em uma única frase. Mesmo com o seu mau humor dos deuses, Morck é o tipo de mentor na qual muitos detetives gostariam de aprender com ele.
No entanto, Carl carrega um trauma há meses. Durante uma averiguação em uma cena do crime, ele é surpreendido por um atirador, que deixou um policial morto e seu parceiro, o detetive James Hardy (Jamie Sives), paralisado, enquanto ele também carrega as cicatrizes traumáticas desta emboscada.

Meses depois, e sob as ordens para participar de sessões de terapia, Carl Morck retorna ao trabalho, mas é designado a comandar uma nova unidade: o departamento Q, dedicado a resolver casos não solucionados, seja de homicídios ou desaparecimentos. A princípio, Carl é o único membro, mas logo ele conta com a ajuda do novo assistente Akram Salim, cuja experiência no ramo é formidável; e a detetive Rose, afastada por problemas de saúde mental, mas que, agora, se encontra preparada para voltar as investigações.
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E o primeiro caso do departamento Q é sobre o desaparecimento de Merritt Lingard, uma renomada promotora que desapareceu há quatro anos. Merritt é conhecida por ser uma mulher reservada na vida pessoal e focada e exigente no trabalho, alcançando ótimos méritos ao fazer justiça nos tribunais. Porém, seu último caso a coloca contra parede, quando o réu é absolvido pelo assassinato da esposa, enquanto as provas dizem o contrário. Após tal frustração, Merritt passa a receber mensagens anônimas ameaçadoras, sem entender sobre o que se trata.
Dentro de casa, Merritt deixa um pouco de lado a vida profissional para cuidar do irmão William que, na adolescência, sofreu um ataque, que lhe deixou com traumatismo craniano, impossibilitando de falar direito, muito menos de ter uma vida normal. Na tentativa de ter apenas um dia pacífico, Merritt e William saem em um passeio de balsa, indo em direção a cidade natal. No entanto, a promotora desaparece repentinamente, deixando o irmão sozinho.
Quatro anos depois, o caso de Merritt é reaberto, uma vez que há vários furos, perguntas sem respostas e suspeitos a volta. O que aconteceu com Merritt na balsa? Como uma pessoa some em alto mar com testemunhas ao redor?

À primeira vista, Dept Q dá a entender que seguirá o mesmo estilo da produção ‘Cold Case’, ou seja, um caso por episódio, mas tal impressão desaparece quando o 1º episódio apresenta uma narrativa não-linear inicialmente e introduz as três subtramas principais que o público irá acompanhar ao longo dos nove episódios.
De um lado, o espectador acompanha o trauma de Carl com relação ao tiroteio, enquanto ele, o detetive encarregado e a chefe geral do departamento da polícia, Moira (Kate Dickie), segue as pistas para identificar o culpado e a razão para tal tragédia ter acontecido.
Do outro lado, acompanhamos os dias atuais de Carl retornando ao trabalho, enquanto tenta equilibrar a dor da culpa nas sessões de terapia, o seu novo cargo, além das dificuldades para lidar com o recente divórcio e o comportamento de seu enteado, na qual ele é o responsável.
Por fim, o público acompanha os últimos acontecimentos de Merritt Lingard, e a surpresa vem ao descobrir que tais fatos ocorreram quatro anos atrás, tornando-a no caso arquivado que Carl irá investigar. E a cereja do bolo se encontra ao final do episódio quando descobrimos que Merritt foi sequestrada e está viva este tempo todo.
A partir daqui Dept Q entrega um ótimo desenvolvimento da história, que não se apressa – muito menos enrola – em destrinchar as pistas, contar a história de Merritt, enquanto acompanha não só a investigação, mas também como Carl está lidando com a sua própria mente pós-traumática. Adiciona-se o fato de dar um bom espaço aos personagens coadjuvantes que se destacam merecidamente.
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Se você é uma pessoa que deseja ver a trama ser contada ligeiramente, Dept Q não é a melhor opção. Talvez você torça o nariz por conta disso, mas é a ansiedade pelas respostas que está atrapalhando de acompanhar uma boa história que, por sinal, não enrola, apenas tem o cuidado de entregar um desenvolvimento plenamente satisfatório.

E se a história é boa, muito se deve também ao ótimo elenco que encabeça a série. O ator Matthew Goode está excelente neste papel que, por sinal, foi desenvolvido pensando exatamente neste ator para protagonizar.
Matthew entrega um Carl já conhecido pelo seu lado nada carismático, mal-humorado, sarcástico, levemente ofensivo, um mentor desagradável para conviver, mas que tem muito a ensinar com sua inteligência nata.
Mas a ironia da construção do protagonista está justamente em sua personalidade insuportável, em que ele usa o lado desprezível de escudo para encarar as situações difíceis do trabalho, além das situações cotidianas. Vamos combinar que qualquer um ficaria até pior que o Carl ao ter que lidar com certas pessoas, pensamentos ou atitudes, né? Eu passo pano para o Carl sim.
De um lado, temos um Carl detetive que lida com uma investigação que exige paciência, uma leitura afiada das pistas e pressão dos superiores. É graças ao seu temperamento difícil que faz com que a investigação tenha o progresso que vemos.

Do outro lado, temos um Carl que carrega o fardo da culpa pelo tiroteio, tanto pelo parceiro de trabalho que levou a pior, quanto pelo peso na consciência em estar no lugar na hora errada. Por fim, o espectador ainda acompanha a tentativa do Carl de ser um pai meramente correto para seu enteado. O mais interessante é que o público acompanha esta relação crescer e melhorar.
E se o Carl conseguiu progredir psicologicamente é graças a rede de apoio que ganha, desde a psicóloga Rachel (Kelly Macdonald) que o tira da zona de defensiva sobre o seu trauma; a excelente assistência de Akram e Rose.
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Aliás, Akram (Alexej Manvelov) é uma grata surpresa em Dept Q. Refugiado da Síria e preocupado em dar conforto e sustento à sua família, Akram não desiste até conseguir um cargo na polícia. Sua experiência não é nada amadora e as artimanhas que ele utiliza durante a investigação são formidáveis, ao ponto do próprio Carl tirar o chapéu. Akram é sensato, levemente frio quando precisa ser, olhar afiado, deduções certeiras, inteligente, tornando-o no melhor assistente que qualquer um poderia ter.

Já Rose (Leah Byrne) é aquela detetive cujas observações são impecáveis, indo a lugares que a maioria iria ignorar. A mentoria de Carl e James foram fundamentais para torná-la boa no que faz. Mesmo com a saúde mental em recuperação, ela não desiste da profissão que escolheu.
Quem é Merritt Lingard?

Ao longo da 1ª temporada de Dept Q, a grande pergunta a ser respondida é: Quem é Merritt Lingard? Afinal, este é o pressuposto para entendermos o real motivo do seu sequestro.
E quem dá vida à Merritt é a atriz Chloe Pirrie, que entrega uma personagem dúbia aos olhos do espectador, devido ao seu lado reservado e frio, seja como advogada, irmã e mulher. O último caso que ela liderou no tribunal é o que paira em nossas cabeças e faz a gente duvidar e ficar instigado até o último minuto.
Mas o passado de Merritt também chega aos poucos para entendermos sua relação com o pai e o irmão, como a ausência da figura materna lhe afetou emocionalmente, além da vontade de ter uma vida nova e longe da ilha Mhor, onde mora. Além disso, conhecemos outras pessoas que fizeram parte de sua vida, figuras que, aparentemente, não demonstram importância até, de fato, chamar a sua atenção.
Além disso, o público até fica surpreso ao ver Merritt se relacionar amorosamente com Sam Haig – um misterioso jornalista investigativo – devido a sua personalidade gélida, um ponto que também não passa despercebido.
Aliás, preciso ressaltar a boa caracterização da personagem neste período do sequestro, desde os cabelos compridos, a pele suja, o corpo maltratado, mas o psicológico ainda mantido com certeza firmeza e frieza para entender o real motivo de estar presa todos esses anos.
A partir daqui o que for contado será spoiler, então só assista Dept Q para entender como a história de Merritt Lingard é solucionada. Você não vai se arrepender.
Considerações finais
A reta final de Dept Q entrega ótimas reviravoltas que, talvez, não tenham passado por sua cabeça, costurando as pistas formidavelmente com a excelente linha de raciocínio de Carl, com a ajuda de Akram, Rose e James.
Os dois últimos episódios são incríveis, amarrando bem as pontas do caso de Merritt Lingard. Já sobre o caso do ataque a Carl e aos outros policiais, ainda sem mantém aberto, apesar de termos um bom encaminhamento sobre os suspeitos.
Além disso, o espectador também recebe respostas sobre o último caso liderado por Merritt na justiça e o que a procuradoria-geral escondia sobre isso. E tal feito é mérito de Carl e Akram.
Dept Q é uma série policial que entrega um suspense sofisticado e uma história de mistério e investigação bem destrinchada, sem pressa e enrolação, sob a ótima performance de um elenco de ponta, liderado pela excelente atuação de Matthew Goode.
Dept Q é uma ótima dica para quem quer ver uma série policial que não se apressa em contar uma boa história.
******CONTÊM SPOILERS******
Final explicado: quem sequestrou Merritt Lingard?

A série Dept Q faz o espectador acreditar que o réu do caso do assassinato da esposa esteja envolvido no sequestro de Merritt Lingard. No entanto, quando o passado da personagem é contado e figuras que fizeram parte de sua história são apresentados, é aqui que o mistério é nitidamente desenhado aos olhos do público.
Na adolescência, Merritt se envolve com Harry Jennings. Planejando ir embora da ilha, Merritt indiretamente revela que só conseguirá partir se colocar as mãos nas joias da mãe, que está sob a responsabilidade do pai.
Assim, Harry planeja entrar na casa para roubar as joias e ambos fugirem. No entanto, ele não contava com a presença de William, irmão de Merritt, que se assusta e acaba acertando Harry com um bastão. Ao ver que era Harry, William pede desculpas e até tenta ajudá-lo, mas é atacado covardemente por Lyle, irmão de Harry, que o espanca brutalmente.
Com isso, descobrimos que o responsável pelo traumatismo de William é Lyle. Infelizmente Harry morre ao tentar fugir da polícia, ao levar a culpa pelo irmão.

Lyle ressurge anos depois com o objetivo de vingar a morte do irmão. Com a ajuda da mãe, Ailsa, os dois sequestram Merritt, prendendo-a em uma câmara hiperbárica. A ideia veio do fato de Harry e Lyle receberem este mesmo tipo de castigo dado pela mãe.
E para chegar até Merritt, Lyle usa da sua psicopatia para se aproximar e matar Sam Haig, que atuava como jornalista investigativo e tinha a escalada como hobby. Os dois se conheceram na época do reformatório e Sam chegou a oferecer ajuda para Lyle, como pedido de desculpas pela surra que deu no rapaz. Novamente usando a covardia e psicopatia, Lyle mata e joga Sam do alto do penhasco, assumindo sua identidade para se aproximar de Merritt. E vemos o plano obter sucesso.
Ao final, Carl e Akram juntam todas as pistas e encontram o paradeiro de Merritt em uma oficina abandonada, que é da família Jennings. Quando finalmente encontram Merrit presa na câmara, Carl e Akram são encurralados por Lyle, que não hesita em atirar. Carl fica na frente de Akram e leva um tiro na região do ombro. Akram age rapidamente, jogando uma faca no pescoço de Lyle e, logo seguida, lhe dá um tiro certeiro. Lyle finalmente morre.
Encurralada, Ailsa tira a própria vida diante da polícia para evitar de ser presa. Já Merritt finalmente é resgatada, mas como viveu os últimos anos em um local sob enorme pressão, ela precisou ser retirada com a ajuda de uma câmara de descompressão móvel.
Três meses se passam e Merritt recupera sua vida, volta a cuidar do irmão e decide dar um tempo no trabalho e voltar para a ilha Mhor para se reaproximar do pai.
Já Carl pede ao procurador-geral (ex-chefe de Merritt) que lhe dê mais verba para o seu departamento. Em troca, ele não vai revelar e nem denunciar que a promotoria foi chantageada pelo réu absolvido pelo assassinato da esposa. Na verdade, a filha do procurador foi ameaçada e, por isso, ele aceitou a chantagem.
Akram é promovido e, agora, é oficialmente da polícia, comandando o Departamento Q ao lado de Carl, Rose e James, que retorna ao trabalho.
Ficha Técnica
Dept Q
Criação: Scott Frank e Chandni Lakhani
Elenco: Matthew Goode, Chloe Pirrie Alexej Manvelov, Leah Byrne, Kate Dickie, Tom Bulpett, Kelly Macdonald, Steven Miller, Jamie Sives, Alison Peebles, Aron Dochard, Sanjeev Kohli, Catriona Stirling, Aron Dochard, Bobby Rainsbury, Christopher McPhillips e Mark Bonnar.
Duração: 1ª temporada (9 episódios)
Nota: 4,5/5,0