A Dreamworks acertou em cheio ao adaptar a história literária de Como Treinar o Seu Dragão para os cinemas. Após 15 anos do lançamento da animação original – que virou uma trilogia – o público revive a jornada de Soluço e Banguela na versão live-action que é uma grande e grata surpresa.
Como Treinar o Seu Dragão traz um respeito singelo à obra original. Emociona e diverte o espectador com uma trama que desenvolve a fundo o que já é conhecido; envolve os nossos olhares com a conexão cativante e levemente cômica dos personagens que, por sinal, são todos adoráveis; e um CGI satisfatoriamente bem feito, desde cenários até o desenho incrível dos dragões. Prepare a carteira e os lenços, pois temos mais um live-action no cinema para adorar e vou te dizer o porquê.
Dean DeBlois retorna na direção e não poderia ser outra pessoa a não ser o responsável pela animação original. Quem já assistiu ao desenho, dispensa explicações, mas para não deixar os demais que não viram o filme a ver navios, segue um resumo sobre a história. Como Treinar o Seu Dragão se passa na Ilha de Berk, onde vikings e dragões não se misturam e são inimigos há gerações. Os vikings acreditam que tais criaturas são mortais e desejam apenas a comida e a destruição total da aldeia.
Mas no meio desta guerra, conhecemos Soluço, um jovem aprendiz ferreiro, engenhoso, atrapalhado e de bom coração. Seu sonho é se tornar em um viking forte e corajoso, capaz de matar dragões e trazer o tão esperado orgulho para seu pai, Stoico, chefe da aldeia.

No entanto, durante um embate entre humanos e dragões, Soluço conhece Banguela, o temido Fúria da Noite. À medida que o rapaz se aproxima do dragão e cria uma conexão singela, os dois iniciam uma amizade doce e divertida em que Soluço passa a enxergar a verdade sobre os dragões, questionando as crenças enraizadas da sociedade viking. Para mostrar que é possível viver em harmonia com tais criaturas, ele terá que encontrar força e coragem para provar isso à sua comunidade, especialmente ao seu teimoso pai.
Como Treinar o Seu Dragão: curiosidades sobre a animação
Ao se tratar de live-action, é normal criar uma expectativa receosa sobre o grau de fidelização à obra original e os efeitos especiais quando se trata de uma história fantasiosa. Mas posso dizer que Como Treinar O Seu Dragão segue estes e outros requisitos com competência, desde cenários, dragões, desenvolvimento dos personagens até a trilha sonora que imerge o público totalmente em Berk.
O primeiro ponto positivo do filme é a adaptação ter o respeito à essência da animação. Há pequenas modificações, mas que não afetam em nada na história, e o público só lembra dessas diferenças se assistir ao desenho novamente e fazer a comparação. E ainda assim, o nível de fidelidade se mantém ao máximo.
Junto a isso, o live-action segue o mesmo ritmo e a dinâmica da história, aproveitando a oportunidade para se aprofundar em sequências já existentes na animação. Ou seja, não há uma cena nova adicionada, pelo contrário, o filme explora o material que já tem, o que faz o espectador se conectar mais com o universo e os personagens.

De exemplo, toda a introdução do encontro de Soluço e Banguela segue o mesmo da animação, mas tem mais tempo tela a fim de que possamos adentrar melhor nessa conexão. O live-action também trabalha satisfatoriamente bem a sequência inicial do filme (que é igual ao da animação), as cenas do treinamento dos recrutas com a mentoria do Bocão (Nick Frost); e as batalhas na aldeia, no mar e no ninho dos dragões.
E tal trabalho recebe uma carga alta de efeitos especiais na ambientação e nas criaturas envolvidas nas cenas. O CGI está bem executado, não somente na textura perfeita dos dragões, como também no entrosamento do elenco com os animais selvagens que não estão ali em carne e osso na atuação.
Soluço e Banguela são a alma do filme e Como Treinar o Seu Dragão respeita e eleva o nível de emoção nesta amizade improvável, se aprofundando na conexão entre os dois, os aprendizados que o protagonista adquire ao conhecer e observar o dragão, desde o tipo de peixe que Banguela não gosta, o defeito na cauda até as análises dos voos, entre outras coisas. Consequentemente, Banguela cria um elo emocional ao rapaz, que cresce conforme o respeito às diferenças e o conhecimento sobre os dragões se destaca na tela.
Claro que o live-action fica ainda melhor graças ao elenco que se encaixa com perfeição neste universo fantasioso. O ator Mason Thames já havia chamado a atenção no terror O Telefone Preto. Agora, ele conquista totalmente o público como o perfeito Soluço, desde o jeito atrapalhado, a ondulação da voz (igual do personagem animado), os trejeitos físicos e a personalidade doce, teimosa, assustada e corajosa.

Soluço é desacreditado por sua essência, sempre rebaixado por ser considerado fraco e desprovido de coragem, força e brutalidade para ser um viking. Mas diferente de sua comunidade, ele abre a mente para entender a rivalidade entre homens e dragões, usa a inteligência para aprender técnicas e a emoção para se conectar com uma criatura altamente feroz. Soluço tem a força no cérebro, troca a brutalidade pela empatia em compreender o outro lado e usa da coragem para ser o primeiro viking a se aproximar de um dragão e até montá-lo. E o ator consegue transpor tudo isso na tela.
Outro grande acerto de Como Treinar o Seu Dragão é o ótimo desenvolvimento do relacionamento de pai e filho, que se inicia distante e com uma expectativa ilusória sobre quem o Soluço quer ser e sobre quem ele realmente é.

O ator Gerard Butler está excelente como Stoico, não só na caracterização, como também na essência do personagem, desde o chefe respeitado da aldeia, um homem de mente fechada, um pai frustrado por não ter um herdeiro igual a ele, mas que se enche de orgulho ao ver que Soluço é perfeito à sua maneira, unindo humanos e dragões e quebrando velhas crenças que já não cabem mais. Thames e Butler têm uma química linda e cômica na tela na medida certa.
Claro que nossa Astrid não fica para trás e a atriz Nico Parker faz jus à personagem do começo ao fim ao entregar uma viking forte, astuta e excelente guerreira. Ela é bronca e durona, mas justa ao ver a essência verdadeira de Soluço, a conexão com Banguela e a verdade em torno dos dragões. A parceria de Astrid e Soluço não tem defeitos e é até melhor que na animação. Confesso que a personagem merecia até mais tempo de tela no live-action.

Outra grata surpresa deste elenco são os atores que compõe o grupo de guerreiros liderado por Astrid, que conquista o público com suas personalidades peculiares, divertidas e iguais ao da animação, sendo que alguns são até melhores do que da obra original.
Melequento (Gabriel Howell) diverte com o entrosamento grudento com Astrid, além das tentativas de dar orgulho ao pai, que sempre o ignora; a inteligência do Perna de Peixes (Julian Dennison), que usa do seu conhecimento sobre dragões na hora certa; e o lado cômico dos irmãos Cabeçaquente (Bronwyn James) e Cabeçadura (Harry Tevaldwyn). Todos irritam em algum momento, mas o público se apaixona por todos eles logo em seguida.
Como Treinar o Seu Dragão ainda entrega uma trilha sonora ao estilo viking que faz o espectador mergulhar de vez neste universo e se sentir ainda mais próximo dos personagens.
Considerações finais

A reta final traz o emblemático embate no ninho dos dragões em uma sequência formidável de boas coreografias de lutas, com personagens voando em seus dragões ou pendurados na grande criatura Rainha, dando aquele gosto de assistir uma cena bem feita. E claro que a emoção toma conta e o público fica com um nó na garganta na cena final que muitos já conhecem da animação.
Como Treinar o Seu Dragão é mais um acerto de live-action em 2025, que respeita a obra original, tem a mesma excelente direção, se aprofunda na história já conhecida, sem criar firulas, explora a dinâmica e a conexão dos personagens e apresenta ótimo CGI.
Como Treinar o Seu Dragão resgata o encanto apresentado 15 anos atrás, agradando o público veterano e atraindo uma nova geração a conhecer e se apaixonar por Soluço e Banguela.
Animação vs Live-action

Como Treinar o Seu Dragão apresenta pouquíssimas diferenças da animação e vou citar algumas delas.
– Na animação, o Soluço leva o Banguela até a aldeia em uma noite e Astrid quase flagra. No live-action isso não acontece.
– No live-action, Melequento tenta agradar e dar orgulho ao pai em suas tentativas de ser um ótimo guerreiro viking, mas o patriarca ignora o filho, até vê-lo lutando contra a Rainha Dragão. Na animação, o pai nem existe, mas o Melequento luta até o fim.
– Na animação, Stoico e os guerreiros vikings saem de barco para a encontrar o ninho dos dragões e se depara com algumas criaturas, iniciando um ataque. Mas o ataque em si não é mostrado, revelando apenas o retorno do chefe à aldeia. No live-action, o ataque é parcialmente mostrado.
– Na animação, Soluço e Banguela descansam na areia e aparecem dragões ‘Terrível Terror’ com fome. Soluço alimenta um deles e o dragão deita ao seu lado agradecendo pela comida e o carinho. Soluço conclui que os homens não sabem nada sobre dragões. No live-action não tem essa cena.
– Na animação, prestes a matar o seu primeiro dragão na frente da aldeia toda, Soluço pede para Astrid cuidar do Banguela, caso aconteça algo com ele. No live-action, Soluço pede para que Astrid não se envolva, caso alguma coisa dê errado com ele após este desafio. Ele pede isso, pois Stoico gosta muito da Astrid. Mas a garota diz que vai se envolver e ajudá-lo.
Crítica: Missão Impossível – O Acerto Final
– No live-action, na cena final para derrotar a Rainha Dragão, Astrid fica presa entre os dentes da grande criatura e até quebra alguns, até o momento em que ela cai e é salva por Banguela e Soluço (ela fica pendurada pela cauda do dragão). Na animação, ela não fica presa na boca do dragão, cai e é salva.
Ficha Técnica
Como Treina o Seu Dragão
Direção: Dean DeBlois
Elenco: Mason Thames, Gerard Butler, Nico Parker, Nick Frost, Julian Dennison, Gabriel Howell, Bronwyn James, Harry Trevaldwyn e Ruth Codd,
Duração: 2h5min
Nota: 4,9/5,0