Assim como o protagonista, Um Completo Desconhecido (A Complete Unknown) é aquele filme que desperta curiosidade não sobre qual será a história, e sim, como ela será contada. A surpresa? Tal recorte específico traz informações sobre a história real de um dos maiores cantores e compositores da música Folk, mas ainda permanece enigmática, fazendo jus ao título que o filme recebe. Vale a pena assistir não só pela trama, mas pelo elenco e a excelente atuação de Timothée Chalamet.
Com direção de James Mangold, Um Completo Desconhecido é ambientado no cenário musical nova-iorquino dos anos 1960, que passava por uma agitação cultural e política. É neste período que conhecemos Bob Dylan, um jovem de 19 anos, de Minnesota, que chega ao West Village com o seu violão e um talento nato, destinado a mudar o curso da música americana.
Ao conhecer pessoalmente o cantor Woody Gunthrie (Scooty McNairy) – já debilitado em um hospital – Bob Dylan é apresentado também ao cantor e compositor Pete Seeger, que lhe estende a mão, levando Bob em direção ao universo Folk, onde o protagonista ascende à fama e chacoalha o movimento diante de suas frustações e resistência a ser limitado. Tudo isso acontece em um cenário político e cultural tenso e caótico nos Estados Unidos, mudando o olhar de Bob, que toma decisões controversas, o que repercute em todo o mundo.
Junto a imersão na carreira de Bob Dylan, o público acompanha uma fração da vida pessoal do protagonista, os amores e dissabores, marcados por traições, escolhas e certo egoísmo.

Este é praticamente um resumo de Um Completo Desconhecido, pois é exatamente isso que verá na tela, apenas com detalhes a mais de reforço. O primeiro ponto positivo do filme é a forma como a narrativa estabelece o recorte da história real do cantor, partindo de um cenário de fundo político e cultural sem se tornar o ponto central da história.
O diretor opta em retratar esta época que acompanhamos por meio dos noticiários na televisão e nos jornais, assim como as reações dos cidadãos na rua diante da Guerra do Vietnã comentada no filme, além da trágica morte do presidente John F. Kennedy, assassinado em 1963.
E tais acontecimentos marcam e movimentam a carreira de Bob Dylan que, em um dado momento, incorpora influências políticas e sociais em suas letras, não só movimentando a música Folk, que estourou na época, junto ao sucesso de Dylan, como reforçou a postura do protagonista em não querer se limitar na música.
Outro ponto interessante que, talvez, deixe a desejar ao público, é o background do seu personagem principal. Um Completo Desconhecido faz jus ao título que recebe, afinal, Bob Dylan sempre fora um artista enigmático, revelando apenas o que é necessário sobre si (o que é muito pouco). Assim, não espere para saber detalhes sobre suas origens e relações familiares, pois não há. Cria-se certa expectativa para receber estas informações, mas assim como os demais personagens coadjuvantes, o espectador também ficará sem estas respostas minuciosas.

O que Um Completo Desconhecido entrega é a ascensão de sua carreira, assim como mudanças na postura de Bob Dylan, que inicia como um jovem promissor da música, que vai atrás do que quer, abraça as oportunidades, se apaixona, frustra e bate de frente para mostrar que pode ir além do movimento folk. Mas também, o público se depara com um Bob Dylan meio babaca, que fuma, bebe, compõe e trai as namoradas. Uma verdade nua e crua bem transposta na tela, mas que o espectador ainda pode questionar se isso realmente fez parte de sua história real.
Mas sabe o que faz Um Completo Desconhecido também ser aquele filme que dá gosto de assistir? É a atuação do ator Timothée Chalamet que, mais uma vez, entrega uma excelente performance em um papel exigente. Não importa se ele não é exatamente igual ao Bob Dylan, apesar de estar bem parecido com a versão jovem do cantor, Timothée confirma que sabe fazer a lição de casa com maestria. Ele canta de verdade, toca violão e gaita, deixando o nível de veracidade das cenas musicais lá no topo.
É impossível não ficar hipnotizado seja nas cenas dos festivais, cantando solo ou ao lado da cantora Joan Baez, outro grande destaque do movimento Folk.

Mas é nos relacionamentos que torcemos um pouco o nariz para o protagonista, que divide opiniões diante de sua personalidade nada fácil. É quase impossível não ser conquistado com o talento natural e forte rebeldia, mas tal admiração se quebra por suas atitudes nas relações, seja com a namorada Sylvie (Elle Fanning), uma mulher mais pé no chão diante da realidade que vive, querendo estabelecer uma vida estável, mas ciente de que não será possível fazer isso ao lado de Bob.

A atriz Monica Barbaro entrega uma performance muito bonita na pele da figura real Joan Baez, especialmente no vocal. Ela tem boa química com Chalamet no palco, que ora se destrói, ora é reconstituída diante das ações babacas do protagonista. Assim como a Joan, o espectador também se vê na mesma posição que a personagem enquanto assiste e fica dividido com Bob.
Outra parceria interessante é de Bob Dylan com Pete, interpretado por Edward Norton, que tenta limitar Dylan dentro do movimento folk, uma vez que está funcionando e agradando o público. E isso gera conflitos entre eles, o que faz o cantor resistir em seguir por este caminho, abrindo portas para suas novas canções que chacoalham o folk.
Considerações finais

A reta final de Um Completo Desconhecido se desenrola exatamente neste conflito final, em que Bob Dylan quebra as barreiras para ir além deste movimento da música, revelando ser um artista que desafia as convenções da música e cultura dos anos 60.
Um Completo Desconhecido é um filme para comtemplar uma fração da história real de um dos maiores artistas da cultura popular há mais de 50 anos. O elenco é maravilhoso, mas é Timothée Chalamet quem realmente fisga e conquista a atenção do público com sua excelente atuação, cuja indicação ao Oscar está mais do que justificada.
Ficha Técnica
Um Completo Desconhecido
Direção: James Mangold
Elenco: Timothée Chalamet, Edward Norton, Elle Fanning, Monica Barbaro, Scoot McNairy, Dan Fogler, Boyd Holbrook, Eriko Hatsune, Joe Tippett, Peter Gray Lewis, Lenny Grossman, David Wenzel e Alaina Surgener.
Duração: 2h21min
Nota: 3,9/5,0