A grande aposta da Netflix foi criar a primeira série brasileira que se passa numa época futurística, em um mundo pós-apocalíptico com duas divisões: o miserável e devastador Continente; e a ilha paradisíaca Maralto, onde apenas 3% são selecionados por ano para morar lá. Assim, o público conhece o famigerado Processo, que testa os limites físicos e psicológicos dos candidatos, trazendo à tona o lado primitivo, sombrio e ruim, mas também o lado digno, honesto e leal de cada um.
Na 2ª temporada conhecemos o Maralto e o público toma consciência de que o lugar não é tão paradisíaco como se imagina, com regras irreversíveis (como a esterilização) e consequências drásticas como a prisão, memória apagada ou morte. Aqui, conhecemos novos personagens como a Glória (melhor amiga de Fernando), André (irmão da Michele) e o trio de fundadores do Maralto que, mais tarde, se torna apenas uma dupla, discorrendo sobre o destino da terceira integrante, além de novos detalhes sobre o grupo da Causa e a nova antagonista da trama, a comandante Marcela.

Eis que 3% chega em sua 3ª temporada e pode se dizer que os novos episódios apresentam uma ótima evolução da série, com o elenco original mais maduro, novos personagens que dividem opiniões, novos cenários, mais detalhes sobre o passado, boas reviravoltas e imprevisibilidade que conquistam a atenção e instigam o telespectador a assistir um episódio atrás do outro.
Primeiras impressões da série 3%
A história se desdobra no mundo meritocrático, se aprofundando no jogo de emoções, na manipulação, no abuso do poder, desespero, na resistência e falha humana. Novamente a série entrega uma narrativa não-linear que transita entre passado e presente no intervalo de um ano, além de voltar 100 anos para retratar mais um pouco sobre a fundação do Maralto. O ponto de encontro entre esses tempos é a Concha, criada após os eventos da 2ª temporada. O local é construído como alternativa mais justa, onde a recepção é para todos, oferecendo comida, água, energia, trabalho e um teto para dormir.

A nova temporada não perde tempo e o primeiro episódio entrega três plots que determinam o tom de como a história irá caminhar. O primeiro fator surpresa é a morte de Fernando que, por ser um dos protagonistas, choca antes mesmo de assistir, uma vez que essa informação está declarada no material de divulgação. O roteiro discorre as razões que levam o personagem a um destino triste.
Por estar no deserto, a Concha passa por uma grande tempestade de areia, deixando o local à mercê de alimentos, água e energia. Tais prejuízos fazem a líder Michele retornar o seu passado, instaurando o processo na Concha com o objetivo de deixar apenas 10% dos habitantes para reconstruir o local. A partir destas informações é possível notar os primórdios de uma jornada que retorna às origens da 1ª temporada, trabalhando melhor as emoções e o amadurecimento dos personagens, além de acrescentar novas camadas à trama.
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Este novo processo traz o significado cru de justiça sob vários pontos de vista, pontua falhas, inicia um bom jogo de manipulação, separa os fracos, primitivos e resistentes diante da perda e do ganho, além dar a largada a um confronto em que o caráter e a lealdade são colocados à prova.

A 3ª temporada passeia mais pelo passado para entregar novos detalhes sobre o casal fundador, as decisões racionais para levar o Maralto ao estado de evolução absoluta, enquanto a cidade é levada à destruição total e uma divisão injusta para todos. Além disso, o público toma conhecimento de uma boa revelação sobre o grupo da Causa.
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No quesito cenário, 3% não fica a desejar e entrega uma ambientação linda, seca e agressiva com os seus habitantes, indicando vazio e esperança para um recomeço.
Personagens

Novamente temos Bianca Comparato como destaque nesta temporada, em que o novo propósito de Michele é liderar e trazer o que há de mais justo para todos. No entanto, ela também representa a falha do ser humano ao mostrar que o processo é feito de escolhas difíceis sob um único ponto de vista, fazendo-a balançar na corda da justiça.

Joana (Vaneza Oliveira) tem os seus grandes momentos por se tornar o emblema da Causa e injetar novos planos para acabar com o Maralto. Mas é a Concha que a fortalece, reconhecendo seus erros, trabalhando melhor sua personalidade e ganhando uma roupagem emocional mais forte. Suas atitudes e a forma de encarar os problemas a transforma em uma das favoritas da série.

Rafael (Rodolfo Valente) está mais contido, mais relapso em seu cotidiano na Concha, a fim de se proteger e manter a segurança de seu irmão mais novo. Mas são as circunstâncias que provam a boa progressão do personagem que, por sinal, tem plots bem construídos.

Outros que ganham uma nova varredura e boas reviravoltas são Glória (Cynthia Senek) e Marcos (Rafael Lozano), que trazem um mix de emoções que varia entre raiva, dúvidas e inseguranças. Os flashbacks ajudam a entender melhor as motivações de ambos nos dias atuais.
Há a introdução de novos personagens, com destaque para Xavier que representa inocência e sonho de viver em um mundo que pode melhorar. Mas confesso que há momentos em que o rapaz irrita um pouco.

Marcela (Laila Garin) e André (Bruno Fagundes) incorporam o lado ácido da oposição, do autoritarismo, da opressão e traição.
Considerações finais
A 3ª temporada de 3% chega de forma positiva e evolutiva à série, entregando uma trama mais consistente e instigante, um cenário cru e deslumbrante, personagens amadurecidos diante de suas falhas, além de reviravoltas que não deixam o telespectador parar de assistir. Caso seja renovada, a 4ª temporada tem tudo para ser ainda melhor, pois uma grande missão está prestes a eclodir.
Ficha Técnica
3% (3 Por Cento)
Criação: Pedro Aguilera
Elenco: Bianca Comparato, Vaneza Oliveira, Rodolfo Valente, Rafael Lozano, Cynthia Senek, Laila Garin, Bruno Fagundes, Fernanda Vasconcellos, Thais Lago, Silvio Guindane, Zezé Motta, Júlio Silvério, Rita Batata
Duração: 8 episódios (45min. Apróx.)
Nota: 8,5 (3ª temporada)