Tenho que admitir que aprecio cinebiografias, mas não sou fã número um. A história precisa ter força e aguçar a minha curiosidade para que eu possa assistir (ou ler se for um livro). Trumbo: Lista Negra, de Jay Roach, é um dos filmes que conseguiu me conquistar só de ler a sinopse, além de apresentar um time fantástico de atores. Mas, afinal, essa cinebiografia é sobre o quê ou quem? Baseado no livro de Bruce Cook, o filme conta a história de Dalton Trumbo (Bryan Cranston), um dos grandes roteiristas de Hollywood que possui uma história singular. No período da Segunda Guerra Mundial, em meados dos anos 1940, os estúdios hollywoodianos abriram as portas às ideias políticas divergentes. Dentro do meio artístico, muitos atores e atrizes tomaram partidos diferentes, mas um grupo de roteiristas famosos e premiados, entre eles, Trumbo, era a favor ao partido comunista. Por causa disso, eles se tornaram suspeitos de serem infiltrados da União Soviética nos EUA, com o intuito de semear a ideologia comunista através do cinema.
Ao se recusar a cooperar com o Comitê de Atividades Antiamericanas do congresso, Dalton Trumbo foi condenado a onze meses de prisão e tornou-se o primeiro nome da lista negra de Hollywood. Junto com mais nove roteiristas, Trumbo ficou impossibilitado de voltar a trabalhar, porém, o protagonista dá a volta por cima e retorna ao mercado de trabalho da maneira mais formidável possível.
A narrativa se divide em dois atos (me corrijam se eu estiver errada): no primeiro ato, acompanhamos, mais a fundo, o desenrolar das ideologias políticas e como cada um tomou uma posição diante dessa situação. O mais interessante é que o filme retratou como Hollywood era naquela época: fria, dura, paranoica e inflexível ao se deparar com tais divergências. Por mostrar uma parte histórica, os diálogos são mais densos, apresentando informações ricas, mas um pouco arrastada e cansativa. Quem gosta muito de História, vai adorar; quem não gosta, vai se cansar mais rapidamente. Mas, peço para que não se deixem levar pelo cansaço, pois além dos fatos históricos serem instigantes, o segundo ato é maravilhoso de se acompanhar, pois é aqui que Dalton Trumbo arregaça as mangas e mostra como ele voltou e se tornou o melhor roteirista de Hollywood da época.
Além dos excelentes diálogos, o cenário, a fotografia e o figurino são impecáveis e dignos de Oscar. Aqui, os espectadores são transportados para dentro do filme e vivem cada momento da década de 40 e 50.
Personagens
Pra começar temos Bryan Cranston (da série de sucesso Breaking Bad) na pele do excêntrico Dalton Trumbo. Posso dizer que ele está formidável neste filme! Além dos perfeitos traços e trejeitos, Cranston transborda uma caracterização impressionante, pois o atoe retrata um Trumbo bem articulado, com opiniões fortes, respeitando sua ideologia sem se deixar influenciar por nada e ninguém. Mesmo passando por dificuldades, ele e sua família nunca deixaram de ter do bom e do melhor e, apesar de apresentar uma personalidade forte e não muito fácil de lidar, o personagem consegue manter a química com os demais e, nenhum momento, o espectador fica contra ele.
As cenas mais memoráveis do filme são quando Trumbo escreve roteiros enquanto toma banho de banheira (o espectador sente a rotina do personagem); quando passa a escrever roteiros anonimamente e começa a dar a volta por cima; o roteirista ganha o Oscar de Melhor Roteiro Original com os filmes The Brave One (1956) e Exodus (1960), com a ajuda do ator Kirk Douglas (Dean O’ Gorman); os diálogos com sua filha mais velha, Niki (Elle Fanning); por fim, quando Crasnton dá um show de interpretação na cena em que ele dá uma entrevista para a televisão.
Quem também não fica para traz é Helen Mirren na pele Hedda Hopper, ex-atriz que deixa o meio artístico ao tomar partido contra os comunistas. Ela passa a trabalhar como colunista de um jornal, onde usa sua classe inglesa, finesse e língua afiada para acabar com aqueles que estão contra o Comitê de Atividades Antiamericanas. Mirren é uma vilã marcante, inescrupulosa, que não mede esforços para ver a derrota do protagonista. Sua caracterização é forte a ponto de deixar o espectador com raiva da antagonista.
Diane Lane é Cleo Trumbo, esposa de Dalton Trumbo, mãe de três filhos e dona de casa. Aparentemente, sua personagem parece não ter grande importância, mas não se deixe levar por isso, pois Cleo é quem traz Trumbo de volta à realidade, no momento em que ele fica obcecado por seu trabalho a ponto de dar patadas nos filhos e deixar a família de lado. Sua interpretação é leve e forte quando precisa ser. Quem também faz isso é Niki, interpretado por Elle Fanning. A filha mais velha bate de frente com o pai, mostrando, em alguns momentos, ser igual a ele. Mas, assim como a mãe, Niki também mostra que a vida vai além dos roteiros. Mesmo a família toda ajudando Trumbo a retornar a Hollywood, eles não deixam o protagonista mergulhar de uma vez na obsessão em escrever.
Considerações finais
Não espere plots twists ou cenas surpreendentes em Trumbo: Lista Negra. Mas espere por uma ótima cinebiografia que te conquista pelos bons diálogos e pelas excelentes interpretações feitas por um elenco de primeira linha. Infelizmente, o filme só teve apenas uma indicação ao Oscar (melhor ator). Mesmo assim, ela é super válida, pois Bryan Crasnton deu o melhor de si e nos apresentou um personagem forte e formidável. Trumbo: A Lista Negra, com certeza é um filme que vale a pena assistir.
Ficha Técnica
Trumbo: Lista Negra
Direção: Jay Roach
Elenco: Bryan Crasnton, Helen Mirren, Diane Lane, Elle Fanning, Michael Stuhlbarg, John Goodman, John Getz, Louis C.K, David Maldonado, Dean O’Gorman e David James Elliott.
Duração: 2h4min
Nota: 9,0