Após o estrondoso sucesso de Big Little Lies e uma forte programação aos domingos – com a exibição de Game of Thrones e/ou Westworld, a HBO aposta em mais uma nova adaptação literária, desta vez, da autora Gillian Flynn e estrelada por Amy Adams (A Chegada, Animais Noturnos). A convite do canal, assisti aos dois primeiros episódios (Vanish e Dirt) e posso dizer que Sharp Objects (Objetos Cortantes) é uma minissérie de oito episódios que promete ser um thriller psicológico instigante, que convida o telespectador a juntar as peças de um caso brutal e o passado sombrio da protagonista.
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Na nova produção original da HBO, a repórter Camille Preaker (Adams) retorna à sua cidade natal para cobrir as notícias do provável assassinato de duas jovens pré-adolescentes. Enquanto tenta construir um quebra-cabeça psicológico sobre seu próprio passado, Camille se identifica com as jovens vítimas.
Sharp Objects já mostrou que não será uma série que entregará uma trama fácil, muito menos previsível. Com uma narrativa não-linear, o roteiro desenvolve uma história que se mescla entre passado e presente que se conecta bem com o arco principal, no caso, o assassinato na cidade de Wind Gap, Missouri, onde Camille cresceu. O episódio logo começa com um flashback que retrata a adolescência difícil da protagonista, uma época marcada pela amizade e cumplicidade com sua irmã mais nova, Marian, mas também por uma tragédia, dor, tristeza e relacionamentos familiares conturbados. Aliás, há pontos interessantes desse passado que podem contribuir com a atual investigação na cidade, um fato que merece sua atenção. Já no presente, acompanhamos o retorno de Camille à Wind Gap para cobrir o desaparecimento de duas garotas. Logo de cara, nota-se uma forte conexão da repórter com o caso, pois ela não só passa a relembrar forçadamente de um passado que quer esquecer, como também de certas descobertas que fez nessa época.
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Assim como Camille precisa montar o quebra-cabeça dessa investigação, Sharp Objects convida o público a juntar as pistas de toda uma trama bem desenhada e que não tem a pretensão de entregar nada superficial. Os dois primeiros episódios situam o telespectador dentro da história e faz uma breve apresentação dos personagens. O roteiro apenas insinua o que pode ter acontecido no passado e o que está prestes a acontecer por meio de objetos, expressões faciais e elementos visuais. A série utiliza menos do diálogo e mais da imagem e técnicas para nos mostrar o que está querendo dizer.
Não vou negar, o ritmo é lento, porém progressivo e obscuro, tornando-o ainda mais atrativo especialmente para quem curte o gênero thriller. As cenas ganham tons avermelhados, amarelados e azulados que contrastam com o preto. Pode até incomodar por atrapalhar um pouco para enxergar os personagens ou o cenário (como me incomodou em alguns momentos), mas o uso dessa paleta de cores é proposital por apontar que tanto a trama quanto os personagens são rodeados pelo bem e mal, inocência e vulgaridade; coragem e vulnerabilidade, ou seja, há um lado bom, mas existe um lado obscuro pela qual vamos mergulhar com mais profundidade. Quando vocês assistirem vão perceber o quão nítida é essa técnica e o quanto ela tem a nos dizer.
Personagens
Os dois primeiros episódios apresentam poucos materiais, mas o suficiente para dar os primeiros palpites sobre alguns personagens. Amy Adams entrega com rica sutileza uma Camille perturbada pelos demônios do passado que são despertados ao ser forçada relembrar de momentos perturbadores. Nitidamente nota-se a sua fraqueza pelo álcool, além da extensão de cicatrizes pelo seu corpo que impacta à primeira vista. Ainda não se sabe a razão dessas marcas, mas a série revela como elas são feitas e aponta para a possível razão da personagem apresentar esse problema. Camille apresenta um passado ainda borrado, sem saber o peso que a personagem leva nas costas, mas acredito que em breve a série nos dará uma resposta.
Patricia Clarkson entrega uma Adora Crellin fina, respeitada e admirada, além de ser conhecida como rainha da alta sociedade de Wind Gap. Mas ela também possui um passado cheio de dor, além de ter uma relação bastante desconfortável com sua filha e a ‘mania’ de arrancar os cílios, talvez um ato desenvolvido após um forte estresse traumático. Seria pela tragédia pela qual passou? Ou será que há mais coisas entre as paredes de sua casa que ainda não sabemos? Além disso, ela é superprotetora com Amma (Eliza Scanlen), meia-irmã de Camille, que promete dar dor de cabeça à família, uma vez que ela banca o ‘anjo e o diabo’ pela cidade.
Os demais personagens ainda não ganharam tanta profundidade, mas acredito que a série mostrará as camadas de cada um. Mas já é possível ver quem merece atenção daqui pra frente, como o detetive Richard Willis (Chris Messina); Amma; Jackie (Elizabeth Perkins), amiga de Camille, conhecida por ser vulgar e viciada em álcool; e Bob Nash (Will Chase), pai de uma das vítimas e um dos principais suspeitos da investigação. Esperava mais de Allan Crellin (Henry Czerny), marido de Adora. O ator entrega um personagem calmo demais, um pouco submisso à esposa e que passa o tempo todo em seu escritório ouvindo música. Espero que a série dê um bom plot ao personagem.
Considerações finais
Sharp Objects é um thriller psicológico um pouco lento, mas progressivo, intenso, denso, dramático na medida certa, sombrio e cru, apresentando um grau violento ainda sutil (pode ser que aumente). A série não tem pretensão de entregar uma história previsível, simplesmente mastigando tudo nos diálogos. Por isso, preste atenção nas cenas, no que a imagem e os detalhes têm a dizer, pois Sharp Objects mostra ser uma história fria, minuciosa e impactante. E espero que seja até o último episódio.
OBS: Por não ter lido o livro, não fiz nenhum comparação da série com a obra.
Ficha Técnica
Sharp Objects
Adaptação: Objetos Cortantes, de Gillian Flynn
Direção: Jean Marc Valée
Elenco: Amy Adams, Patricia Clarkson, Sophia Lillis, Chris Messina, Henry Czerny, Eliza Scanlen, Will Chase, Elizabeth Perkins, Matt Craven, Miguel Sandoval, Taylor John Smith e Madison Davenport.
Duração: 8 episódios (60 min. aprox.)
Nota: 8,0 (dois primeiros episódios)