Ícone dos quadrinhos, admirada e adorada por milhares de fãs, alguma vez você já se perguntou a verdadeira origem da Mulher-Maravilha? Como e quando a heroína foi desenhada pela primeira vez? Acredito que muitos conheçam a versão repaginada de Diana Prince, mas será que alguém já ouviu falar ou até leu o primeiro quadrinho? É essa história que a diretora Angela Robinson nos conta em Professor Marston e as Mulheres-Maravilhas. Mais do que a criação da heroína, a trama vai nos relatar uma história peculiar, um triângulo amoroso que rendeu várias situações e descobertas que, há 30 ou 40 anos atrás não era tão bem vista pela sociedade.
O filme conta história de William Moulton Marston (Luke Evans), professor de teoria do comportamento humano, criador do polígrafo e do teste psicológico DISC. Ele é casado com Elizabeth Marston (Rebecca Hall), psicóloga e inventora que, juntos, iniciam uma pesquisa sobre como o corpo e as reações emocionais respondem às mentiras, criando, assim, o detector de mentiras. Em meio a tudo isso, eles conhecem Olive Byrne (Bella Heathcote), aluna da Harvard Radcliffe, que junta a eles nessa pesquisa. Mas esse relacionamento vai para outro patamar, transformando a relação de professor e aluna em uma relação de amor polígama que, junto com os ideais feministas essenciais, criam a personagem Mulher-Maravilha.
O roteiro apresenta uma narrativa não linear, em que logo acompanhamos o professor sendo interrogado pela Presidente do Conselho de Quadrinhos (Connie Britton) em razão de ele usar um forte erotismo no quadrinho da Mulher-Maravilha. A partir daí, a história retorna ao passado nos contando passo a passo de como tudo começou.
Não espere uma história detalhada do começo ao fim sobre a origem da heroína, pois esse é apenas um adendo interessante na história. O foco principal desse filme é a história de poli amor e aceitação em uma época hostil em que as pessoas consideravam esse tipo de relacionamento ilegal. Mais do que isso, o relacionamento leva o espectador ao conhecimento do sexo, da dominação e da submissão. Pode ser que alguns achem um absurdo a forma como esse triângulo amoroso é visto e rejeitado, mas entendam que a época e a sociedade eram completamente diferentes do que são hoje. Assim, não leve a ferro e fogo tal rejeição.
Aliás, além de ser o foco da trama, o triângulo amoroso rende as cenas mais bonitas, interessantes e excitantes do filme, especialmente quando os três se rendem à paixão. Não quero ficar dando tantos detalhes, pois o que vale é assistir e conferir com os seus próprios olhos essa experiência prazerosa e, até mesmo, engraçada, uma vez que a narrativa também apresenta um tom cômico e sarcástico em vários momentos.
Referências da Mulher-Maravilha
Assim que compreendemos o significado de poli amor, tal relacionamento nos leva à criação da Mulher-Maravilha. E sim, é isso mesmo que você está pensando: a heroína é fruto de um triângulo amoroso, do sexo, do prazer, da dominação e da submissão. Chocados? Eu também fiquei, mas o filme consegue nos contar tudo isso sem pesar a mão. O mais interessante é como a história consegue conectar perfeitamente os detalhes e as situações à criação de cada elemento da personagem. Por exemplo, o detector de mentiras criado pelos Marston levou à origem do laço da verdade; o figurino da Mulher-Maravilha foi criado a partir de uma fantasia grega visto em um “sex shop”. Agora, a criação tanto da Mulher-Maravilha quanto da sua identidade secreta, Diane Prince, surge a partir das personalidades das esposas do professor Marston, o que torna essa construção ainda mais magnífica, rendendo bonitas cenas e uma fotografia linda.
O que o público poderá indagar (eu também indaguei) é a razão do professor Marston em enfatizar tanto o erotismo no quadrinho voltado ao público infantil. Daí que entra a autoridade interpretada por Connie Britton, pois o que ela realmente quer saber e evitar é o tom pesado do sexo e do sadomasoquismo nas leituras para as crianças, o que deixa o professor perplexo, uma vez que ele quer que os outros entendam, desde pequeno, o significado do amor, sua dor e suas diferentes raízes.
O triângulo amoroso
O título do filme traz o personagem de Luke Evans como o principal, mas quem se destaca e comanda a história são as suas esposas. De um lado temos Rebecca Hall interpretando uma Elizabeth astuta, personalidade forte, sarcástica, feroz e repleta de brilho. Ela representa a mulher independente que não precisa de um homem para se apoiar e sobreviver. Sim, ela é casada, mas porque ela quer e porque ela o ama. Em nenhum momento ela deixa de ser quem ela é de verdade, muito menos minimiza a sua personalidade. Pelo contrário, muitas (e muitos) irão se identificar com essa força da personagem.
Do outro lado temos a delicadeza de Bella Heathcote nos entregando uma Olive meiga, ingênua, carinhosa e amorosa. Mas assim que ela conhece o casal e se apaixona por eles, tal ingenuidade diminui e a descoberta da sexualidade floresce na personagem. Tais combinações opostas geram a mulher perfeita, criando, assim, a Mulher-Maravilha.
Mas não se preocupe, pois Luke Evans não fica atrás em nenhum momento e nos entrega um professor inteligente e decidido em defender a forma como criou a personagem e a razão de não querer mudá-la, mas principalmente por defender a forma de amor que ele vive com suas esposas.
Considerações finais
O final nos mostra não só o destino desse triângulo amoroso como também o que realmente acontece com a Mulher-Maravilha, como a personagem é resgatada anos depois, tornando-se um fenômeno até hoje e, é claro, quem são as três pessoas na vida real que viveram esse poli amor.
Professor Marston e as Mulheres-Maravilhas é um filme bonito e bem construído, que não só revela e choca sobre a origem da Mulher-Maravilha, como também conta a primeira história de um triângulo amoroso que marcou a história dos quadrinhos, desenvolvendo bem os prazeres sexuais, a aceitação e, é claro, o amor, sua dor e suas diferentes raízes. Esse é um filme que não merece passar despercebido.
Ficha Técnica
Professor Marston e as Mulheres-Maravilhas
Direção: Angela Robinson
Elenco: Luke Evans, Rebecca Hall, Bella Heathcote, Connie Britton, Oliver Pratt, JJ Feild, Alexa Havins, Allie Gallerani, Chris Conroy, Tom Kemp e Pamela Figueiredo.
Duração: 1h49min
Nota: 8,0