O Sessão Pipoca de hoje traz um filme tão bom quanto empoderador, especialmente para as mulheres. Selecionado pela Suíça para o Oscar 2018 e dirigido e roteirizado por Petra Biondina Volpe, Mulheres Divinas (The Divine Order/Die göttliche Ordnung) se passa na Suíça de 1971 e conta a história de Nora (Marie Leuenberger), uma jovem dona de casa que vive com o seu marido, seus dois filhos e o sogro em uma pequena aldeia. Sua vida é bem pacata e com uma rotina tradicional: arrumar a casa, lavar a louça e as roupas, fazer as compras, ajeitar as mochilas dos filhos para irem à escola, preparar o lanche do marido, entre outros afazeres, sem que nada quebre esse ciclo chato e cansativo. Um dia, Nora vê o anúncio de uma vaga de emprego em uma empresa onde já trabalhou e estudou e cogita a possibilidade de trabalhar fora de casa a fim de aumentar a renda da família. Mas tanto seu marido, quanto o sogro e os filhos enxergam a ideia como algo estúpido, afinal lugar de mulher é dentro de casa, enquanto os homens vão para a rua trabalhar e trazer a comida à mesa todos os dias. Com as grandes revoltas sociais e o movimento de 1968, Nora adere à campanha pelo direito de voto das mulheres, uma vez que a região onde mora é praticamente a minoria onde ainda rege regras sexistas e pensamentos machistas.
Com um roteiro bem estruturado e um desenvolvimento gradativo, Mulheres Divinas conquista o público não só pelo envolvimento de uma história maravilhosa, como aguça os nossos sentimentos em lutar pelos direitos iguais de homens e mulheres. Não é só o fato de querer voltar a trabalhar que faz Nora engajar no movimento feminista. Ver sua cunhada Theresa (Rachel Braunschweig) passar por maus bocados com o marido na fazenda e sua sobrinha sendo presa em uma espécie de instituição para mulheres pelo fato de querer a sua própria liberdade, são atitudes revoltantes que faz com que qualquer uma se rebele a fim de mudar essas atitudes egoístas.
Assim que Nora conhece Vroni (Sibylle Brunner) e Graziella (Marta Zoffoli), as três iniciam um movimento informativo na cidade que reúne várias mulheres a fim de não só de conseguir o direito do voto feminino, como também descontruir alguns pensamentos e regras machistas, já que, nessa época, o casamento dava o poder de o homem mandar na mulher. O filme mostra e questiona o porquê só as mulheres fazem todos os deveres da casa, quando essas atividades poderiam ser divididas com o marido, filhos e outros parentes que vivem sob o mesmo teto. Mas também o longa mostra o outro lado desconcertante e injusto: homens se rebelando para que suas mulheres retornem às suas casas para fazer as tarefas que lhe são impostas desde outros tempos e, até mesmo, mulheres que são contra o voto feminino e os direitos iguais entre os sexos, uma vez que já adquiriram poder na sociedade e não querem que outras mulheres de nível inferior tenham a mesma voz que as suas. Há algumas cenas que chegam a irritar, como quando o sogro de Nora não ajuda em absolutamente nada, é completamente machista e ainda provoca a todos dizendo que Nora não faz nada direito e que o marido precisa corrigi-la.
A fim de contrariar ainda mais os homens, as mulheres aderem a outro tipo de poder: a da vagina. A cena em que elas participam de um workshop para conhecer melhor suas partes íntimas para ficarem cientes do grande poder que elas têm é simplesmente sensacional! Assistam, porque é muito boa essa parte.
Claro que toda a essa luta tem um saldo positivo em meio a alguns pontos tristes e algumas perdas. Assim que as mulheres da aldeia mostram que não estão de brincadeira e se rebelam de uma vez por todas, os homens percebem o quão ruim é a ausência de sua esposa dentro de casa, assim como notam o quanto elas fazem pela família. Além de ter que aguentar o preconceito e as provocações no trabalho, Hans (Max Simonischek) passa a fazer as tarefas do lar, enfatizando o árduo trabalho da mulher no dia a dia e o quão importante é dividir as tarefas com todos.
Mas depois de tanto sacrifício, provocações, perdas, manifestações e discussões, será que Nora, Theresa, Vroni, Graziella e todas as mulheres conquistaram os seus direitos? Ou tudo foi por água abaixo? Só assistindo para vocês saberem.
Mulheres Divinas chega sorrateiramente pelo fato do filme ser o escolhido para concorrer ao Oscar pela Suíça, mas chama a atenção com uma história divertida, leve, bem construída, importante e muito empoderadora para as mulheres (e para os homens também) especialmente nos dias de hoje. Vale a pena conferir essa trama que, para mim, é formidável.
Ficha Técnica
Mulheres Divinas
Direção: Petra Biondina Volpe
Elenco: Marie Leuenberger, Max Simonischek, Rachel Braunschweig, Sibylle Brunner, Marta Zoffoli, Bettina Stucky, Peter Freiburghaus, Therese Affolter, Ella Rumpf, Nicholas Ofczarek e Sofia Helin.
Duração: 1h36min
Nota: 8,5