Considerada um marco na televisão, The Handmaid’s Tale prova mais uma vez porque é uma das melhores séries da atualidade. Se o primeiro ano impactou com uma história pesada a ponto de pensarmos que isso pode se tornar uma realidade (espero que NUNCA aconteça), neste segundo ano, a trama ganha mais peso e traz um clima ainda mais sombrio, de tensão, angústias, medos, mas também de revoltas e rebelião por parte das aias. Não nego: foi difícil assistir alguns episódios e digerir diálogos densos, complexos e muito bons, mas reconheço o quão importante o programa é e o que ele tem a nos dizer. Quer saber o que rolou nesta 2ª temporada? Continue lendo.
Fuga de June
Os primeiros episódios foram marcados com a fuga de June/Offred, afinal, nossa protagonista teve a chance de sair do panorama macabro de Gilead e respirar um pouco da sua liberdade. Mas será que ela conseguiu mesmo essa tal libertação? Infelizmente não. Com a ajuda de Nick, June fica três meses em esconderijos, enquanto acompanhamos a evolução de sua gravidez. Por estar nessas condições, achei que a personagem conseguiu fazer muita coisa, enfrentou situações solitárias, teve que lidar com o próprio medo e insegurança sem poder contar com ninguém e, mais do que isso, aproveitou para saber sobre tudo o que aconteceu para surgir um governo totalitário horroroso em que ela vive. Na cena em que June fica escondida em um antigo galpão onde era uma redação, ela encontra recortes de jornais e monta uma linha cronológica de tudo o que aconteceu. Além disso, ela também cria uma espécie de ‘altar’ para homenagear as pessoas que morreram por resistirem a ir para Gilead. Claro que o tempo de fuga estava esgotando e, assim, June volta à cidade, trazendo um pouco de frustração aos telespectadores. Mas é compreensível isso, pois por ser a protagonista, é necessário que ela pertença ao núcleo de Gilead para nos contar o que está acontecendo por lá. Seria muito fácil ela conseguir fugir tão rápido assim e logo no começo da temporada. No entanto, ela volta diferente e promete dificultar as coisas.
Torturas psicológicas
O que mais dificultou em assistir aos episódios de The Handmaid’s Tale foi o investimento na tortura psicológica. Após retornar à Gilead, June passa por uma ‘lavagem cerebral’ aumentando ainda mais o peso da culpa pela fuga e, pior, a culpa pelas pessoas que pagaram o preço com a vida por terem lhe ajudado. É muito interessante e impiedosa a forma como a série consegue separar quem é June e quem é Offred, quem tem culpa e quem não tem, tornando tudo ainda mais angustiante dentro da cabeça da personagem. Com relação a essas torturas psicológicas, há três momentos que enfatizam isso: a cena em que as aias são levadas à forca e ameaçadas de morte; a cena do rapaz que ajuda June na fuga e é encontrado morto e pendurado no muro da cidade; e as próprias cenas nas colônias, onde as mulheres trabalham arduamente para trazer a fertilidade de volta a terra. Isso não só é torturante, como fatal a elas.
Primeiras impressões de Sharp Objects
Além disso, a série utiliza das técnicas de câmera plongée e contra-plongée para enfatizar ainda mais a superioridade do governo totalitário e a inferioridade das pessoas, especialmente das mulheres. A cena em que Offred retorna para casa e se ajoelha diante do Comandante Waterford pedindo uma nova chance é o melhor exemplo dessa técnica. Por fim, temos também a paleta de cores pastel, fechadas e sombrias nas cenas, trazendo uma cinematografia exuberante à série. A cor vermelha é o que ganha mais destaque aqui, já que representa a prisão, a dor, o sofrimento das mulheres ao ter que vestir essa cor novamente. Outra cena que mostra isso é quando June é mantida acorrentada na cama e Tia Lydia traz o vestido novamente, remetendo o retorno da personagem ao seu tradicional encarceramento.
Flashbacks e o outro lado do mundo
A série faz questão de apresentar flashbacks da antiga vida de June, fazendo ótimas comparações com sua atual realidade, especialmente nas cenas dela com sua filha Hannah, sempre lembrando que ela tem um motivo muito forte para continuar viva e enfrentando tudo o que acontece em sua volta.
Para que o governo totalitário não desmorone, Gilead precisa manter boas relações com os demais países. Assim, o Comandante Waterford e Serena viajam para o Canadá para conseguir apoio. Porém, o que eles não esperavam é que a rebelião começasse naquele momento. Assim que Nick entrega as cartas escrita por mulheres de Gilead para o marido de June, sem hesitar, Luke publica todas elas no jornal, denunciando as atrocidades de Gilead. Com isso, o governo canadense se recusa a oferecer qualquer tipo de ajuda e ainda ‘expulsam’ o casal do país por abominar o que eles fazem. É aqui também que a consciência de Serena começa a pesar e a ficar dividida, uma vez que ela mesma ajudou a mudar as leis que desfavorecem as mulheres. Em uma das cenas, Serena recebe a proposta de uma das autoridades para fugir de Gilead, mas ela acaba recusando. No entanto, nota-se que a personagem quase inclinou em aceitar a ideia. Será que com a exposição das cartas e as confissões de mulheres que conseguiram fugir, é possível iniciar a derrubada de Gilead?
Ninguém está salvo
Outro ponto torturante é que The Handmaid’s Tale prova que ninguém está salvo. Nem os soldados, as Marthas, muito menos as esposas dos comandantes. Na trama, os soldados são casados forçadamente com mulheres menores de idade. Nick se casa com Eden, uma garota de 15 anos, vinda de uma família do campo. Por ser muito nova, Eden é o verdadeiro retrato da jovem cujo desenvolvimento e a autodescoberta são interrompidos pela autoridade impiedosa de Gilead. Ela segue à risca os ensinamentos da Bíblia, tentando ser a esposa perfeita e uma excelente futura mãe. No começo, é possível ninguém ligar para ela e até achar a personagem chata que atrapalha a relação de Nick e June, no entanto, o seu arco sofre uma grande reviravolta quando ela se apaixona de verdade e foge com outro rapaz. Infelizmente, tal ato tem um desfecho trágico: a morte. Esse momento não é só uma dos mais tristes, como também prova que tudo que seja contrário às condições impostas por Gilead será visto como pecado e abominável. Não importa se você é soldado, aia, adolescente, martha, comandante ou esposa: você não está 100% livre do castigo.
Destaque de Serena
Serena é mais um forte exemplo de que ninguém se salva em Gilead. Antes de qualquer coisa, tenho que tirar o chapéu para Yvonne Strzechowski, que cresceu demais nesta 2ª temporada. Todas as suas cenas com Elizabeth Moss são cruas e formidáveis, em que o telespectador enxerga dois tipos de mulheres, dois tipos de mães e dois tipos de pensamento lutando para o melhor de seus filhos. Nessa temporada, Serena tenta mudar o jogo de Gilead a favor de tempos melhores, mas também vemos o declínio da personagem por lutar e ‘morrer na praia’. Prova disso são as cenas em que ela e June corrigem os textos das novas regras da cidade; o momento em que Serena apanha do marido; o clima de tensão quando Serena enfrenta uma sala cheia de homens autoritários (incluindo seu marido) para suplicar o direito de mulheres e crianças de aprenderem a ler e escrever; e, é claro, a cena em que ela é castigada por ter feito isso. Além de angustiantes, esses são os momentos mais icônicos e fortes da personagem e atriz.
Parto difícil
Um episódio que pode garantir um novo Emmy à Elizabeth Moss é o do parto. Aqui, a personagem June passa uma sequência de momentos fortes, emocionantes e horríveis, desde o novo estupro até o instante em que ela revê sua filha Hannah e fica sozinha em uma casa abandonada quando Nick é levado forçadamente por soldados. Neste tempo em que ela fica na casa, ela tenta vários jeitos de fugir, seja de carro, a pé, seja lá como for. Mas a aparição de Serena e Fred interrompem os seus planos, fazendo June cogitar em tomar uma atitude mais radical. A cena em que ela aponta a espingarda para eles é de deixar qualquer um sem ar. Mas uma nova fuga é descartada quando ela entra em trabalho de parto, o que rende a melhor cena da atriz nesta segunda temporada. Ao relembrar o nascimento de Hannah e o forte apoio de sua mãe, June dá à luz a uma menina que recebe o nome Holly, em homenagem à mãe de June. Por saber que não pode fugir e nem cuidar de uma criança naquelas condições, a aia chama as autoridades para resgatá-la. Os dias passam e June sai de casa devido ao ocorrido, mas Fred a leva de volta para amamentar e ficar perto do bebê.
A rebelião começou
A 2ª temporada de The Handmaid’s Tale é marcada também pelo início da rebelião das mulheres, com a explosão no palácio do governo, deixando vários mortos e feridos; e o ressurgimento da voz das mulheres para retomar a sua dignidade ao falar os seus verdadeiros nomes umas às outras.
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O ápice da série acontece quando Emily retorna para Gilead e passa pela primeira casa cujo comandante morre durante a cerimônia; e a segunda casa que pertence ao comandante interpretado por Bradley Whitford, um homem que dá a entender que luta a favor das aias. Além de não realizar a cerimônia, ele ajuda Emily a fugir quando ela finalmente ataca, esfaqueia e joga Tia Lydia escadas abaixo, registrando um dos momentos chocantes da season finale dessa temporada. Será que Tia Lydia sobreviverá?
Escolhas
Além do ataque brutal de Emily, a season finale é marcada por uma nova fuga de June, que recebe ajuda de Rita (martha dos Warterford) e Nick. Mesmo em grande sofrimento, Serena aceita que a filha não pode crescer em Gilead e deixa June levá-la embora. No entanto, o que mais choca os telespectadores é o momento em que June entrega a criança para Emily, mas não entra no carro, retornando à cidade. Óbvio que essa decisão é por conta de Hannah, afinal June jamais deixaria sua filha presa naquele lugar. Mas e agora? O que vai acontecer quando ela retornar? E Emily? Será que ela vai conseguir chegar ao Canadá sã e salva? Será que Tia Lydia vai morrer e será substituída por alguém ainda pior? Será que Nick será severamente castigado por impedir Fred de ir atrás de June?
O que vocês acharam da 2ª temporada de The Handmaid’s Tale? E quais são suas expectativas para a 3ª temporada? Deixem nos comentários!
Nota: 9,0
Fotos: IMDB e TV Spoiler