Como o próprio nome já diz, Todo Clichê do Amor vai relatar da forma mais comum os tipos de amor que existe. No entanto, o longa dirigido por Rafael Primot surpreende pela narrativa, a forma como a trama é desenhada em quadros que, em determinado momento, se cruzam sutilmente. O público acompanha histórias justapostas e intercaladas: a madrasta que tenta conquistar a enteada no velório do marido; o rapaz que comete um assassinato como prova de amor a uma garçonete comprometida; a garota de programa que decide ser mãe; o marido que briga com sua mulher deficiente visual, mas que sabem que um não vive sem o outro.
Sessão Pipoca: De Encontro com a Vida
Dentro do filme, você encontra quatro histórias contadas pelos próprios personagens que acompanham determinada trama em diferentes veículos: a enteada conhece uma das histórias assistindo ao filme; a garçonete acompanha pelo formato mais antigo que é a novela de rádio; o esposo lê um romance bonito e triste em um livro de banca de jornal. A narrativa é dinâmica e bem planejada, a ponto de fazer o espectador esquecer que são histórias simples e até batidas. Em um dado momento, elas se cruzam (nem todas), o que poderá fazer alguns se lembrarem do filme Idas e Vindas do Amor (2010) ou Noite de Ano Novo (2011). Quem já assistiu sabe do que estou falando.
Todo Clichê do Amor também traz algumas lembranças do longa Um Beijo Roubado (2007), especialmente pelo jogo de cores e luzes usado nos cenários em que se passam as histórias. Há tonalidades de rosa, vermelho e amarelo que sinalizam qual será o tom da trama e dos personagens que vamos acompanhar.
Muito mais que um clichê
Que o amor é brega e clichê isso todo mundo já sabe, porém o filme vai muito mais além para retratar algumas formas de afeto: amor maternal; amor reprimido; amor não correspondido; amor entre amigos; amor carnal e o amor ‘da boca pra fora’. Cada tipo de amor tem o seu peso e significado que varia para quem está vivendo essa situação. Além disso, o longa faz questão de enfatizar o grau de importância ao dizer as três palavras mágicas: EU TE AMO.
Todo Clichê do Amor também discute alguns assuntos pertinentes que nem sempre a sociedade leva a sério, como a linguagem dos sinais retratada de forma sentimental na cena em que Helen expressa aquilo que ela não consegue colocar em palavras. Além disso, o filme faz questão de mostrar a objetificação da mulher, relatando suas camadas e mostrando um retrato feminino repleto de sonhos, amor e desejos.
Personagens
Todos, sem exceção, trazem uma ótima atuação e até bem caricata. Maria Luisa Mendonça e Amanda Mirásci apresentam uma atuação mais teatral e até um pouco mais enrustida e robótica, mas que se encaixa bem no filme.
Débora Falabella, Rafael Primot e Gilda Nomace têm ótima química e trazem uma performance mais novelesca, misturando ousadia, mistério, inocência e amor puro. Você não condena o personagem Léo por ter cometido um assassinato e torce para que o seu final seja feliz que, por sinal, torna-se até poético.
Um dos destaques é Marjorie Estiano (Entre Irmãs) que incorpora uma prostituta sadomasoquista divertida pela língua bem afiada. No entanto, assim que suas camadas se transparecem, a personagem revela ser uma mulher apaixonada, desejada e com o sonho de ser mãe. Diferente dos demais, a atuação da atriz tem uma atmosfera mais cinematográfica.
Considerações finais
Mais do que clichê, Todo Clichê do Amor traz de forma sublime os significados do amor e ainda discute outros assuntos que são bastante pertinentes. O acerto do filme não está na escolha do tema e, sim, na forma como ela é contada, sob uma ótima direção de Primot e um elenco de ponta.
Ficha Técnica
Todo Clichê do Amor
Direção: Rafael Primot
Elenco: Maria Luisa Mendonça, Débora Falabella, Marjorie Estiano, Rafael Primot, Amanda Mirásci, Gilda Nomace, Eucir de Souza, Clarissa Kiste, João Baldasserini, Julio Silverio e Otávio Pacheco II.
Duração: 1h23min
Nota: 8,0