Thelma foi destaque do Festival de Toronto, Festival do Rio e da programação do 25º Festival Mixbrasil de Cultura da Diversidade. Além disso, o filme foi indicado pela Noruega para o Oscar 2018 na categoria de melhor filme estrangeiro. Já deu para notar que o filme não é fraco. O que chama a atenção no longa é que o diretor Joachim Trier transforma uma simples história sobre uma adolescente em uma grande e lenta alegoria. Mas afinal, qual é a trama?
Thelma (Eili Harboe) é uma jovem e tímida garota que acaba de deixar a casa dos pais para estudar em Oslo. A partir daqui, a jovem passa a ter as suas primeiras descobertas sobre si mesma, além de viver o seu primeiro amor. Seu relacionamento logo é afetado pela intromissão opressiva de sua família que, com suas crenças religiosas fundamentalistas, conseguem abalar a vida da jovem. Quando Thelma fica chateada ou passa por uma emoção muito forte, coisas estranhas acontecem e esses fenômenos sobrenaturais só aumentam. Enquanto busca respostas sobre esses poderes que ela não consegue controlar, seus pais religiosos se preparam para o pior.
O filme segue uma narrativa bem lenta, que pode incomodar os mais impacientes. Não vou negar: em alguns momentos fiquei um pouco entediada (não assista se estiver cansada(o) ou com sono), mas nem por isso o filme deve ser desmerecido em nenhum momento. Após assistir Thelma, precisei de um tempo para pensar sobre o filme e separar os pontos positivos e negativos sem que um ofusque o outro.
A verdade é que o diretor consegue pegar uma trama simples e moldá-la em uma obra de arte. Thelma nada mais é do que a história de uma adolescente que inicia a autodescoberta em vários campos de sua vida: independência, estudos, amor, sexualidade, homossexualidade, o corpo, a mente e, é claro, a religião. A descoberta do amor e do primeiro contato corporal é com Anja (Kaya Wilkins), sua amiga de faculdade. O tema, os diálogos e a química das atrizes é feito com delicadeza, dando aquele contorno suave à história.
Mas, ao mesmo tempo em que o público se envolve e encanta com esse relacionamento, os mesmos mergulham no clima sombrio. Ao lidar com as dúvidas, o medo de contrariar os pais e debater com o seu lado cristão, Thelma passa a desenvolver poderes sobrenaturais a fim de lidar com os seus conflitos e eliminar os obstáculos para, finalmente, ser feliz. A partir daqui, o filme se torna alegórico, utilizando cenas simbólicas para representar o sexo, o pecado, a repressão, a complexidade e a culpa. Quando Thelma inicia uma investigação sobre os seus misteriosos ataques epilépticos e a relação com os seus pais, o filme ganha um tom de thriller psicológico. Tais aspectos sombrios e bonitos faz o espectador até pensar que está vendo um filme de terror, lembrando-se de obras de Stephen King, como Carrie, A Estranha.
Personagens
Eili Harboe traz uma Thelma inocente, delicada e ingênua que inicia a sua autodescoberta recheada de amor com o seu lado sombrio. De acordo com Trier, a atriz se entregou ao papel agindo com cobras, fazendo treinamento extensivo subaquático e acrobacias. Além disso, ela teve que se comportar para fazer as convulsões e cãibras que chegam a ser bastante reais. Ela também aprendeu a fazer esses ataques desencadeados por ela mesma.
Kaya Wilkins interpreta uma Anja amiga e sutil, representando a luz, o amor e a sexualidade na vida de Thelma. Gostei da personagem que faz um grande e ótimo complemento à protagonista.
Considerações finais
No terceiro ato, admito que achei que o desfecho se estende mais do que o necessário, abusando um pouco das cenas alegóricas. Uns 15 minutos a menos teria ficado bem melhor. Thelma traz uma premissa simples que é explorada de forma simbólica e fantasiosa. O filme nada mais é do que o descobrimento de uma adolescente que deixa, pouco a pouco, a inocência de lado para conhecer os seus sentimentos e ainda lidar com os seus conflitos internos. O longa é bom? Apesar da lentidão, é bom sim e não é a toa que está concorrendo para uma posição em uma grande premiação.
Ficha Técnica
Thelma
Direção: Joachim Trier
Elenco: Eili Harboe, Kaya Wilkins, Henrik Rafaelsen, Ellen Dorrit Petersen, Grethe Eltervag, Marte Magnusdotter Solem, Anders Mossling, Vanessa Borgli, Steinar Kloumann Hallert, Ingrid Glaever, Oskar Pask, Vibeke Lundquist e Ludvig Algeback.
Duração: 1h56min
Nota: 7,0