Sabe quando você assiste a um filme sem expectativas, acreditando que será mais um thriller previsível e sem graça? Mesmo com as tradicionais cenas clichês, O Acampamento (Killing Ground) chega rasteiramente e surpreende com uma trama simples e violenta, que instiga o espectador com uma história não linear, fazendo-o tirar suas próprias conclusões a respeito de princípios e escolhas. Você vai sair do cinema satisfeito e até surpreso por ter visto uma história que, aparentemente, não tem nada demais, mas tem momentos bem interessantes.
Dirigido e roteirizado por Damien Power, O Acampamento conta a história de Ian (Ian Meadows) e Samantha (Harriet Dyer), um casal que decide passar um final de semana longe da cidade, esperando que o contato com a natureza traga tranquilidade para eles. Assim que chegam ao local para acampar, eles percebem que há algo de estranho ali, uma vez que encontram uma barraca (com pertences dos ocupantes) e um carro abandonados. À medida que as horas passam, eles notam que as pessoas daquela tenda não retornam, aumentando a desconfiança sobre o que se passa naquele lugar. Dispostos a irem embora, uma série de incidentes acontecem, como um porco comer toda a comida e o pneu do carro furar, mas o mais estranho é quando o casal encontra um bebê machucado e desidratado vagando sozinho pela floresta, sem um sinal se quer dos pais.
No instante em que a criança é encontrada, o casal se depara com Chook (Aaron Glenane) e German (Aaron Pedersen), dois homens estranhos e misteriosos que, aparentemente, tentam ajudá-los. Porém, o que era para ser uma simples ajuda, se torna o maior pesadelo de Ian e Samantha, quando eles descobrem que essa dupla, na verdade, são caçadores de pessoas.
A história se passa em linhas temporais distintas que o espectador só vai perceber se estiver prestando bastante atenção, devido à sutileza como é apresentada. Enquanto acompanhamos as primeiras horas de Ian e Samantha no acampamento, paralelamente acompanhamos a trama da família da barraca ao lado. Aparentemente, o filme indica que tais tramas acontecem ao mesmo tempo, mas não é verdade. No instante em que o público nota que as barracas estão perto, mas as famílias não se encontram, percebe-se que as histórias estão em tempos diferentes até que elas se alinham e chegam às cenas do presente.
Mesmo com cenas clichês, como acampar em um local isolado e suspeito e aceitar a ajuda de dois homens com atitudes muito estranhas, o filme acerta ao construir um bom clima de suspense que não faz só o público ter medo do que está prestes a vir, como também faz os espectadores acreditarem em uma coisa quando, na verdade, a história segue outro caminho. O roteiro não se preocupa em explicar a razão desses homens caçarem pessoas e, sim, criar a tensão e o pavor quando eles ficam determinados a perseguir o alvo da vez. Para ser sincera, essa atmosfera é tão bem feita que você não sente tanta falta em saber o porquê daqueles homens serem tão descontrolados e impiedosos.
Todo o mistério e a forma como ele é resolvido estão por conta das ações do casal que, por sinal, surpreendem bastante. Por ser homem e médico, Ian é visto como o herói, aquele vai vencer os vilões, salvar a sua amada e ainda solucionar o mistério que envolve a criança abandonada na floresta. Só que não. Ian é covarde e logo sua primeira ação diante dos agressores causa muita raiva em quem está assistindo. Quem for assistir, vai entender o que estou falando.
Quem surpreende mesmo é Samantha que, a princípio, parece ser apenas uma moça alegre por passar um momento a sós com o namorado e completamente indefesa. Por um momento, achei que ela fosse ser eliminada da história logo de cara, mas, como disse, o filme leva o espectador a pensar de um jeito, enquanto a trama segue por outro. Samantha é muito mais forte do que se possa imaginar e suas atitudes mostram que o que não falta nela é coragem para enfrentar os psicopatas da floresta. Mais do que isso, as ações da garota questionam as escolhas do namorado, fazendo o público refletir quem é o herói de verdade da trama. Não vou falar mais do que isso, para não entregar a cereja do bolo, mas assistam para saber o que acontece.
O final do filme é aberto, mas não deixa o espectador completamente sem respostas. Pelo contrário, o desfecho é satisfatório e surpreende ao mostrar as verdadeiras máscaras de cada personagem, além de deixar no ar o que mais poderia ter acontecido naquela floresta. O Acampamento é um trillher simples que cria uma boa atmosfera de suspense, com cenas violentas e personagens agressivos que conseguem alimentar o medo e a desconfiança do público. Os protagonistas são bons e são os princípios e as atitudes que definem quem é quem nessa história, fazendo o público refletir e julgar as escolhas de cada um.
Ficha Técnica
O Acampamento
Direção: Damien Power
Elenco: Ian Meadows, Harriet Dyer, Aaron Glenane, Aaron Pedersen, Stephen Hunter, Maya Stange, Tiarnie Coupland e Mitzi Ruhlmann.
Duração: 1h28min
Nota: 7,0