Hoje em dia é comum encontrar conteúdos que criticam e avaliam a forma como a mídia explora o sensacionalismo para alcançar a tão sonhada audiência, ultrapassando até mesmo os limites da ética e do bom senso. Quantas vezes somos vítimas de notícias “click baits” que aguçam a curiosidade para, no fim, apresentar um conteúdo simples e até irrelevante? Quantas vezes não vimos programas de televisão que transformam uma situação delicada e difícil em um caos com o intuito de subir no ranking para ficar em primeiro lugar no horário nobre? Quantas vezes acompanhamos realities shows em que observamos a vida dos candidatos, desde uma ida ao banheiro até uma discussão agressiva? E ainda torcemos e votamos para sua saída ou permanência para ver “o circo pegar fogo”. Estou falando tudo isso para poder comentar sobre Esta é a Sua Morte – O Show (This Is Your Death), um filme que chega aos cinemas com o intuito de alfinetar explicitamente a forma como essas mídias exploram o sentimento humano a fim de obter sucesso.
Dirigido por Giancarlo Esposito (Breaking Bad), o filme aborda o universo dos realities shows, mostrando como o público de hoje tornou-se “apaixonado” por assistir à degradação dos outros na televisão e na internet, transformando esta a principal fonte de entretenimento. A trama começa com o final de um reality show ao estilo The Bachelor, em que o homem decide com qual candidata ele irá dividir o resto de sua vida. O que era para ser um final feliz torna-se uma grande tragédia devido à pressão colocada nas candidatas. Conturbado pelo o que aconteceu, Adam Rogers (Josh Duhamel) não quer mais saber de programas que exploram os sentimentos e a saúde mental das pessoas. Mas, devido a uma season finale sangrenta e uma declaração nua e crua, Adam recebe uma proposta um tanto quanto inusitada: apresentar um programa em que as pessoas arriscam suas vidas pela chance de ganhar dinheiro. Por não querer um programa mesquinho e sem fundamento, Adam vai mais além e sugere que o programa dê a oportunidade das pessoas darem a vida delas por algo que realmente vale a pena; ou seja, que elas cometam suicídio por uma grande causa. Assim, nasce o programa This Is Your Death. Mas o apresentador quer mais: Adam deseja que o reality seja o número 1 no ranking de audiência e ele não vai parar por nada até chegar lá, mesmo que isso signifique perder a sua humanidade.
Assim que o filme engrena é possível imaginar que a história seja um exagero de violência e agressividade. No entanto, a ideia é mostrar explicitamente como é explorar a condição humana a fim de obter audiência. O roteiro desenvolve pontos importantes dentro do cenário do reality show. O primeiro é a fragilidade do ser humano. Cada candidato está ali para dar a sua vida a uma causa. O segundo ponto e, acredito que seja o principal, é a plateia que acompanha o programa. As pessoas que estão assistindo, seja em casa ou na própria gravação do reality, simplesmente não se importam com o candidato ou o sofrimento que o fez decidir morrer publicamente. O que importa é como aquele ato irá alcançar uma grande audiência, revelando um lado sádico que muitos têm. Por mais que o filme mostre manifestações contra o programa, Esta é a Sua Morte tem como objetivo retratar o egoísmo que uns tem com os outros, ao ponto de vermos uma pessoa aplaudir a morte de outra.
A “empatia” pelo outro vai ao contrário do significado da palavra: o público se solidariza por algo ou alguém que está dando mais audiência e não o seu sofrimento em si, e o filme exemplifica muito bem isso. No início, vemos o público admirar um Adam traumatizado pela tragédia em seu último programa; Logo, vemos o público gritar fervorosamente por um Adam egoísta e completamente desumano, que retorna para si quando o pior atinge sua irmã Karina (Sarah Wayne Callies), revelando um Adam arrependido, mas já totalmente perturbado.
Se de um lado o filme mostra o sadismo e o sensacionalismo de um programa de televisão, do outro, a trama apresenta a construção da fragilidade humana que será explorada. O espectador acompanha a jornada de Mason Washington (Giancarlo Esposito) que passa por momentos desesperadores a ponto de levá-lo a se inscrever no reality show. O roteiro mostra o passo a passo que o leva a um ato drástico, revelando os dramas de perder o emprego e não conseguir outro por causa do preconceito contra a idade e a falta de experiência para determinado cargo; a ausência de gentileza e empatia diminui a esperança de Mason, que teme em deixar sua família em péssimas condições de vida; e, é claro, o conflito interno do personagem que luta para decidir se sua morte valerá a pena ou não.
Além disso, o roteiro também dá espaço para mostrar quais posições cada personagem toma dentro da trama. De um lado temos a produtora Ilana Katz (Famke Janssen) que não mede esforços para colocar o reality show no ar, aceitando as ideias malucas de Adam e ultrapassando qualquer limite do bom senso. Do outro, temos a produtora Sylvia (Caitlin Fitzgerald) que, mesmo coordenando o programa, é totalmente contra a ideia e tenta a todo custo mostrar o quão errado pode ser. Sylvia é também responsável por tentar resgatar o pouco de humanidade que resta em Adam.
Com relação às cenas do reality show, as mortes são pontuais e bastante violentas. O público irá se deparar com suicídios que vão desde uma injeção letal até uma flechada na cabeça. São cenas rápidas, porém perturbadoras.
Considerações finais
O desfecho do filme é bruto e direto, mas não poderia ser de outro jeito. Esta é a Sua Morte não é apenas um filme sobre um reality show sangrento. A trama faz uma crítica mórbida sobre o sensacionalismo da mídia e a forma como as pessoas que comandam essas plataformas midiáticas exploram a condição e a fragilidade humana. Mais do que isso, o filme retrata também o egoísmo e a falta de empatia daqueles que apreciam o sofrimento alheio que dá mais audiência. Esta é a Sua Morte é um filme que atinge a curiosidade do espectador e o surpreende até o fim.
Ficha Técnica
Esta é a Sua Morte
Direção: Giancarlo Esposito
Elenco: Josh Duchamel, Giancarlo Esposito, Famke Janssen, Caitlin Fitzgerald, Sarah Wayne Callies, Chelah Horsdal, James Franco, Chris Ellis, Matthew Kevin Anderson, Milo Shandel e Sean Tyson.
Duração: 1h44min
Nota: 8,0