Existem filmes que te conquistam pela sinopse, trailer e elenco, fazendo a gente acreditar que será uma história, no mínimo, divertida, relaxante e com uma leve dose de drama para dar aquela chacoalhada. O problema é quando tudo isso vai por água abaixo, fazendo o público sair bastante decepcionado do cinema. Foi assim que eu me senti ao assistir Alguém Como Eu. O filme tenta ser uma ‘dramédia’, mas no final das contas, ele perde a oportunidade de ter uma trama rica, com a possibilidade de até ter uma reviravolta surpreendente ao entregar uma história rasa e muito mal aproveitada.
Dirigido por Leonel Vieira, a história gira em torno de Helena (Paolla Oliveira), uma mulher bem de vida e independente que, em termos materiais, não tem do que reclamar. Porém, no quesito coração, Helena sai perdendo. Solteira, ela não consegue engatar em bons relacionamentos e quando acha que vai dar certo acaba levando um ‘bolo’ do pretendente. Um dia, ela recebe a oferta de trabalhar em uma agência em Portugal e lá ela tenta mudar a sua vida por completo. Já em Lisboa, ela conhece Alex (Ricardo Pereira), um rapaz bonito, advogado e também de bem com a vida. Ao engatar o romance, os dois passam por várias fases diferentes ao longo do relacionamento. Após alguns meses de estagnação da rotina da relação, Helena passa a ter dúvidas sobre o namoro e começa a imaginar como seria se Alex tivesse os mesmos gostos, carinho e atenção que ela. Porém, sua obsessão em tornar o parceiro perfeito faz com que Helena enxergue Alex como uma mulher, confundindo sua cabeça e atrapalhando ainda mais o relacionamento.
Não vou negar: a trama é interessante e traz uma boa mistura de comédia com drama que poderia dar muito certo, mas infelizmente não dá. O roteiro fica bastante a desejar, entregando uma história que apresenta os problemas amorosos da personagem e a dificuldade em aceitar as diferenças do parceiro, mas que não se aprofunda direito. O primeiro ato enrola até engrenar na fase em que Helena está em Portugal pronta para conhecer seu namorado e, quando finalmente isso acontece, o filme simplesmente esquece de aproveitar a chance de mergulhar na relação e, o principal, no plot que dá o gás na trama.
Quando o desejo de Helena se realiza e ela passa a enxergar Alex como uma mulher, o filme entrega poucas cenas sobre esse plot twist (que não é spoiler) tornando a trama sem ritmo, fraca e chata. O roteiro não aproveita o momento para entregar tanto cenas divertidas quanto situações problemáticas que poderia colocar a protagonista em enrascadas que dariam uma dinâmica completamente diferente ao filme. Muito menos, aprofunda direito a relação de Helena com a versão feminina de Alex. Tudo fica vazio, supérfluo e sem graça. Fico triste em dizer essas coisas de um filme que tinha grande potencial para dar certo.
Um ponto mal aproveitado é que boa parte do filme se passa em Lisboa, uma cidade linda e que tem muito que mostrar. O filme poderia ter aproveitado a nova fase de vida da protagonista para explorar a cultura portuguesa, mostrar pontos turísticos e paisagens até desconhecidas da cidade. Mas nada disso acontece.
Alguém Como Eu utiliza do recurso da narração feita pela protagonista, mas que polui demais o filme. As cenas e as atitudes dos personagens já são autoexplicativas, dispensando uma narração que pode atrapalhar o que o próprio espectador já entendeu. Sabe quando a cena mostra o que está acontecendo, mas uma voz insiste em contar o que estamos vendo? Além disso, os diálogos, que por sinal ficam a desejar, também enfatizam essa problemática, deixando tudo ainda mais redundante.
O elenco é bom e eu gosto de todos, mas infelizmente as atuações também ficam bem superficiais. Paolla Oliveira interpreta uma Helena descrita com uma mulher astuta e independente. A personagem chega a ter todas essas características, no entanto, o seu drama é tão chato e suas confusões sobre enxergar a versão feminina de Alex são tão mal aproveitadas que torna a personagem um pouco sem graça. Não consegui me conectar muito bem, muito menos me identificar com ela. Além dos diálogos não ajudarem muito, dá a sensação de que a atriz está lendo, sem naturalidade nenhuma. Pode ser exagero da minha parte, mas foi o que senti.
Ricardo Pereira tem uma boa interpretação, mas que é prejudicada pelo mau aproveitamento do plot twist, do roteiro e diálogos fracos. A química dele com Paolla funciona muito bem. No entanto, senti que o personagem não foi aprofundado. Sabemos pouco sobre sua vida, o que ele pensa e deseja, tanto na profissão quanto na sua vida amorosa.
No elenco também temos a presença ilustre de Júlia Rabello, Arlindo Lopes e Sara Prata, mas que ficam superficiais na história, fazendo apenas pequenas participações. Júlia poderia ter dado um toque especial no lado cômico do filme, mas nada disso acontece. Uma pena.
Considerações finais
Alguém Como Eu tem um elenco bom, mas que fica a mercê de um roteiro mal aproveitado e diálogos fracos. O filme perde a chance de engatar um plot twist que poderia surpreender, além de não explorar a cultura portuguesa e o cenário lindo de Lisboa. O longa poderia ser uma dramédia interessante, mas entrega apenas um drama que não empolga.
Ficha Técnica
Alguém Como Eu
Direção: Leonel Vieira
Elenco: Paolla Oliveira, Ricardo Pereira, Júlia Rabello, Arlindo Lopes e Sara Prata.
Duração: 1h27min
Nota: 4,0