13 Reasons Why (Os 13 Porquês) chegou à Netflix quebrando paredes e trazendo assuntos extremamente fortes, impactantes e que muitos sentem dificuldades em lidar. Falar sobre assédio sexual, estupro, violência psicológica e física, depressão e suicídio não são tópicos fáceis de transformar em palavras diretas e objetivas, e a série conseguiu fazer isso a ponto de ser motivo de discussão em redes sociais, escolas e entre profissionais, justamente também por se tornar um gatilho aos mais sensíveis a esses problemas. Mesmo já tendo lido o livro de Jay Asher, a 1ª temporada me pegou de surpresa, impactou, me deixou angustiada, mas também abriu meus olhos para muitas coisas que nós mesmos deixamos passar, acreditando que não passa de uma simples bobagem. A história de Hannah Baker foi contada, mas e as consequências? Quem vai pagar por isso? Existe realmente alguém para culpar?
É com essas e outras perguntas que 13 Reasons Why retorna em sua 2ª temporada, desta vez com avisos, alertas e indicações de que há cenas fortes. A trama retrata as consequências da morte de Hannah e a difícil jornada dos personagens rumo à recuperação. A nova temporada tem como pano de fundo o julgamento da garota vs a Escola Liberty. Junto ao caso, os telespectadores acompanham a recuperação dos alunos sobre tudo o que aconteceu anteriormente, sem contar com o fato de que precisam lidar com alguém que tenta impedir a todo custo que a verdade sobre a morte de Hannah venha à tona. Além disso, acrescentam-se os grandes arcos de Bryce e a espera de sua condenação; a volta por cima de Jessica; e o desenvolvimento complexo de Tyler.
Um dos questionamentos era como a série traria a personagem Hannah (Katherine Langford) de volta. A forma como ela é introduzida na série não é muito convincente, dando a sensação ao telespectador que nada aconteceu, que ela não está morta. No começo não curti muito essa ideia, mas na reta final é possível se emocionar com o adeus definitivo de Hannah.
O julgamento
Não vou negar: eu amei a 1ª temporada e gostei da 2ª temporada, porém há várias ressalvas que preciso citar para vocês. 13 Reasons Why retorna com um roteiro inchado, tornando os tradicionais episódios longos mais arrastados do que estamos acostumados de assistir. Para esse retorno, eu teria reduzido a temporada em oito episódios de 50 minutos, no máximo.
Desta vez, o julgamento é o cenário principal da série, trazendo depoimentos contra e a favor de Hannah. Muitos deles ganharam episódios inteiros e merecedores, como é o caso do depoimento de Zach (Ross Butler), que traz informações novas e reveladoras; do conselheiro Kevin Porter (Derek Luke) que traz emoção forte e densa diante do peso na consciência por não ter feito mais pela garota; e, é claro, de Jessica que traz consigo outro arco importante à série: a cultura do estupro e a recuperação dolorosa da vítima. Para mim, são os depoimentos mais fortes e emocionantes que movem a série e vão mexer com o telespectador.
Crítica da 1ª temporada de 13 Reasons Why
No entanto, há depoimentos que não mereciam um episódio exclusivo e fiquei me perguntando a razão dos roteiristas terem feito isso. Neste caso, entra os depoimentos de Ryan (Tommy Dorfman), Clay, Tony e Courtney (Michele Selene). Apesar de serem cenas até pertinentes, não havia necessidade de um episódio único para esses casos isolados. Por exemplo, eu gostei muito da redenção de Courtney, mas alguns minutos seriam suficientes. No mínimo, poderiam ter reunindo esses depoimentos em um único episódio (é apenas a minha opinião).
Com essa enrolação, a 2ª temporada começa sem fôlego, com a história caminhando estagnada nos primeiros episódios. A série engata somente no sexto episódio, enquanto o oitavo dá força e faz a trama crescer e impactar. Assista e descubra.
O que importa nesta temporada
Um dos arcos mais densos de acompanhar é o da personagem Jessica, interpretada por Alisha Boe. Além de ser muito importante, a história de Jessica engata e conecta ao arco de Bryce e oferece uma possível solução ao caso de Hannah. Mas, mais do que isso, é muito interessante ver a transformação densa e a recuperação dolorosa de Jessica. É fato: o estupro torna-se a sua história, mas não define quem ela é. Tal ato muda sua vida, mas não a destrói. Impacta o telespectador pela simples ideia de que, infelizmente, muitas pessoas passam por isso e não conseguem justiça. Para mim, Alisha Boe teve uma ótima atuação e Jessica é um dos grandes destaques dessa nova temporada.
Tyler é outro personagem que não deve ser esquecido, afinal o seu arco também é extremamente forte e, para mim, um dos mais complexos e bem desenvolvidos desde a 1ª temporada. O personagem de Devin Druid mostra o quanto o bullying pode ser letal para o psicológico e físico. À medida que o personagem é brutalizado e sofre consequências até injustas, o público se depara com o trauma, a angústia, raiva, ódio, tristeza e vingança calejarem o personagem, depreciando a sua identidade e transformando-o em algo ruim.
O retorno de Justin demora um pouco para acontecer, mas ganha força no momento certo. Brandon Flynn encarna o personagem derrotado, quase destruído. É triste e impactante vê-lo dessa forma. Mas ele tenta se recuperar a fim de ajudar Jessica, já que ele não fez isso na 1ª temporada. Porém, o que fica a desejar são as cenas de ‘desintoxicação’ de Justin. A situação torna-se bem amadora e difícil de acreditar, ao mesmo tempo em que é engraçado ver o tanto de trabalho que ele dá aos amigos.
O que fica a desejar…e muito!
Um dos arcos mais esperados dessa temporada é a condenação de Bryce (Justin Prentice) e a esperança de que a justiça seja feita. Se ela é feita ou não, cabe a você assistir e descobrir, mas o que posso dizer é que a série enrola e dá crédito demais a um personagem asqueroso. Mas depois de pensar a respeito, entendi que um dos propósitos da série é realmente mostrar o que acontece na vida real. E isso é doloroso de assistir.
Como um dos personagens principais, Clay fica bastante a desejar nesta temporada. Dylan Minnette tem uma boa performance e o público entende o seu sofrimento após a morte de Hannah e o fato de ter que lidar com o julgamento e uma nova ameaça no seu caminho. Porém o excesso de raiva, as dúvidas e os medos tornam Clay chato demais. Mesmo com o seu senso de justiça e força de vontade em querer ajudar, o personagem irrita ao ter opiniões e pensamentos precipitados e machistas com relação à Hannah. Isso acontece na 1ª temporada e, agora, se repete. Você até pode gostar do Clay, mas ele também vai irritar bastante.
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Com relação ao Tony (Christian Navarro), por mais que eu goste dele, achei o seu arco fraco. A verdade é que sua trama é desenvolvida apenas para estabelecer uma conexão mais pertinente com a história de Hannah. Ainda assim, não tem como se decepcionar tanto devido à empatia do personagem.
Interpretado por Miles Heizer, um dos arcos mais esperados é o de Alex, afinal o personagem termina a 1ª temporada entre a vida e morte, sem a gente saber realmente o que aconteceu. A verdade é que ele tenta se matar (ninguém atirou nele como eu havia suspeitado), porém a forma como ele retorna à série é confusa. Mas depois é possível compreender a proposta em querer mostrar a vida de uma pessoa que tenta o suicídio e não consegue.
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Sem dúvida, um dos piores arcos desta temporada de 13 Reasons Why é dos pais. É algo lamentável de acompanhar! A série retrata uma geração de ‘pais nutella’, que são bobos, burros e completamente cegos por não enxergarem o que estão acontecendo com os seus filhos. Enquanto a mãe se faz de sonsa ao afirmar que tudo está bem, o filho demonstra que necessita de ajuda; há pais que querem que os filhos dividam os problemas, mas não escutam o pedido de socorro; há outros que simplesmente enxergam, não punem e se fazem de bestas diante de situações perigosas. Professores, orientadores e diretor são negligentes ao tentarem encobrir as tragédias na escola, como se um pequeno incidente tivesse acontecido. Dá muita raiva ver tanta estupidez dos adultos nesta temporada. Talvez a série tenha feito isso de propósito? Talvez, mas é um caminho delicado e difícil de engolir se não for bem desenvolvido.
Kate Walsh tem uma ótima atuação e entrega uma Olivia Baker devastada por sua perda, decepcionada com a falta de sensibilidade alheia e culpada por não ter feito mais por sua filha. Ela é quem mais aguenta toda a situação de cabeça erguida. Ela recebe o apoio de sua amiga Jackie (Kelli O’Hara) durante o julgamento, mas achei a personagem completamente inútil. Entrou e saiu de cena sem fazer diferença alguma. Já o pai, Andy Baker (Brian d’Arcy James) é um completo covarde e inútil. Apenas digo isso.
Considerações finais
O último episódio traz uma cena emocionante de depoimentos de vítimas do assédio e estupro. Além disso, o desfecho traz outra cena que é bastante dolorosa de assistir, levando a história para um caminho forte e muito impactante. No entanto, a série recua com a ideia, perdendo um pouco da sua força.
Infelizmente, a 2ª temporada de 13 Reasons Why não é melhor que a primeira, tem grandes ressalvas, um roteiro inchado, plots que poderiam ter sido menores, personagens irritantes e desfechos que podem ser frustrantes para alguns. No entanto, a temporada não decepciona completamente, pois cresce e impacta a tempo, entregando outros personagens emocionantes, com histórias importantes para contar e assuntos que, novamente, merecem espaço e precisam ser transmitidas e discutidas por todos.
Ficha Técnica
13 Reasons Why
Baseado na obra de Jay Asher
Criação e Produção: Brian Yorkey e Selena Gomez
Elenco: Katherine Langford, Dylan Minnette, Christian Navarro, Kate Walsh, Brian d’Arcy James, Brandon Flynn, Alisha Boe, Justin Prentice, Miles Heizer, Ross Butler, Devin Druid, Amy Hargreaves, Derek Luke, Ajiona Alexus, Tommy Dorfman, Steven Silver, Michele Selene Ang, Josh Hamilton, Keiko Agena, Uriah Shelton, Jake Weber, Brenda Strong, Meredith Monroe, R.J Brown, Anne Winters, Bryce Cass, Chelsea Alden, Allison Miller, Brandon Butler, Samantha Logan, Kelli O’Hara e Ben Lawson.
Duração: 13 episódios
Nota: 6,6 (2ª temporada)
Fotos: Netflix