O primeiro contato que tive com a história foi quando li a resenha do livro escrito por Jay Asher. Além de falar sobre o que se trata Os 13 Porquês, o autor(a) do texto afirmava que não era justo a protagonista colocar a culpa nos outros pelo seu ato final. Aquela frase me fez ler a obra o mais rápido possível, pois queria saber se tal afirmação era pertinente. Depois de ler e, agora, assistir a série, eu percebi o quão errada soou aquela frase. E eu vou explicar os porquês.
Criado por Brian Yorkey e produzido pela cantora e atriz Selena Gomez, 13 Reasons Why é uma série pesada e impactante que todos deveriam assistir. Como disse, a trama é baseada na obra de Asher que conta a história de Hannah Baker (Katherine Langford), uma garota de 17 anos que comete suicídio em pleno auge da adolescência. Antes de cometer essa tragédia, ela grava sete fitas (lado A e lado B) explicando os 13 motivos que a levaram a tirar a vida. As regras são simples e diretas. Primeiro: se a pessoa está ouvindo é porque é tarde demais. Segundo: se a pessoa está sob a posse dessas fitas é porque ela é um dos motivos. Terceiro: depois de ouvir tudo, a pessoa precisa passar o material para o próximo até que o último escute. Quarto: se essa corrente for quebrada ou alguém revelar o conteúdo dessas fitas, haverá consequências.
A sinopse já prende a atenção por revelar um conteúdo triste e misterioso, afinal, que motivos são esses que fizeram Hannah desistir de viver? O que realmente aconteceu na vida dessa garota? Quem fez parte de tudo isso? No momento em que a série começa a explicar e mostrar, não tem jeito: o espectador vê um episódio atrás do outro sem respirar, e fica totalmente absorvido na trama que é incrivelmente bem desenvolvida, argumentativa, com diálogos profundos, intensos e, alguns, até difíceis de ouvir. Isso sem falar no desenvolvimento dos personagens e a forma como a complexidade de cada um é explorada de forma fascinante e perturbadora.
Acompanhamos a narração por meio de Clay Jensen (Dylan Minnette), um garoto tímido que recebe as fitas em casa e se vê obrigado a escutá-las. A narrativa não é só igual a do livro, como o seu desenrolar é muito bem estruturado e até vai mais além do que vemos na obra. Cada episódio revela um motivo, cujas cenas se mesclam entre o presente e o passado em que o público consegue diferenciar os tempos através do machucado na cabeça de Clay e a forma como o personagem observa as ações ao seu redor. Aliás, o detalhe do corte na testa é uma sacada minimalista e inteligente dos roteiristas.
Por que todos deveriam assistir?
A grande pergunta que não quer calar é: porque todos deveriam assistir 13 Reasons Why? Simples. A série vai muito mais além do que apenas mostrar as crises existenciais no auge da adolescência. Com um formato jovem adulto, a trama trata de assuntos pesados e polêmicos como bullying, estupro, drogas, violência física e psicológica, depressão e, é claro, suicídio, tópicos pertinentes que a sociedade questiona, discute e sofre nos dias atuais. A história consegue pontuá-las e diluir todos os fatos que levaram Hannah à morte. Até que ponto uma palavra, uma atitude, uma ação e reação podem atingir uma pessoa? Qual é o nível de sensibilidade dela? Será que a pessoa que comete o suicídio é uma pessoa egoísta? Dramática? Culpada por ter feito essa escolha? Ou ela só queria chamar a atenção? Não sabemos. Mas sabemos que uma série de fatores desagradáveis podem SIM contribuir para que alguém siga o pior caminho. O pior de tudo é que NÃO dá para saber 100% o que se passa dentro da cabeça de alguém que pensa em se matar. Por mais que ela dê os sinais (que, aliás, precisam ser vistos com muita atenção), é quase impossível saber o que aquela pessoa está sentindo quando os seus sentimentos são reprimidos e não há um ombro amigo para apoiar, chorar, desabafar e pedir socorro.
Todos esses pontos são desenvolvidos através dos personagens que fizeram Hannah sofrer. De um lado, o telespectador vê aqueles que fazem a ação e sofrem pelas consequências como é o caso de Clay, Alex (Miles Heizer), Zach (Ross Butler), Sheri (Ajiona Alexus) e Ryan (Tommy Dorfman). Do outro, há aqueles que usam a negação para acobertar, mas sabe exatamente o que fez, já que a consciência pesada fala mais alto, como é o caso de Jessica (Alisha Boe), Justin (Brandon Flynn), Marcus (Steven Silver) e Courtney (Michele Selene Ang). Há também aqueles que simplesmente não estão nem aí. Sabe o que fizeram e não ligam para o sofrimento alheio. Mesmo com sua parcela de culpa, esses personagens vão sensibilizar com suas histórias de vida que também não são nada fáceis.
A série consegue mostrar como o suicídio afeta todos em sua volta, não só aqueles que são considerados “culpados”, mas também aqueles que amavam a pessoa. É o tal “efeito borboleta”, ou seja, como um ato trágico reflete nas pessoas e verdades vêm à tona. Isso é visto a partir do ponto de vista dos pais de Hannah, Olivia (Kate Walsh) e Andy Baker (Brian d’Arcy James), outro acerto magnífico da série.
Kate Walsh (Grey’s Anatomy e Private Practice) está formidável na pele de Olivia e ela reflete uma mãe devastada que se vê de mãos atadas tentando entender os motivos que levaram a filha a tirar a vida e como ela não conseguiu enxergar isso a tempo de impedir o pior.
Quem me incomodou um pouco foi Mr. Porter (Derek Luke), o conselheiro da escola. Em muitos momentos, achei o personagem apático à situação e a série confirma isso. Queria ter visto mais atitude do conselheiro, ele correndo atrás da verdade e interrogando os alunos com profundidade. Mas tudo o que vemos do ponto de vista dele é superficial. Isso incomoda bastante e infelizmente é mais uma realidade escancarada aos nossos olhos.
Personagens
Katherine Langford faz um trabalho impecável no papel de Hannah Baker. O público acompanha o declínio da personagem até o momento fatal através do seu olhar, suas expressões faciais minimalistas, lágrimas derrubadas, sustos e pancadas recebidas por todos os lados. Muitas vezes, a vontade que dá é dar a mão e dizer “Você não está sozinha”; “Eu vou te ajudar”, “Me diz o que você está sentindo”; “Estou te ouvindo”.
Dylan Minnette não fica para trás em nenhum momento e traz um Clay tímido, introvertido, um garoto do ensino médio com poucos amigos, um rapaz recatado que troca uma festa por um videogame em um sábado à noite. Ele fica bastante perturbado com tudo o que está acontecendo. No começo, é normal se irritar com o personagem, pois ele é bastante lento, não consegue compreender a atitude de Hannah rapidamente e, por um momento, a julga precipitadamente. Mas, no instante em que ele passa a entender as razões dela ter gravado as fitas, ele se coloca no lugar dela e passa a sofrer exatamente o que ela sofreu. Clay é um personagem que também vai mexer com suas emoções do começo ao fim, pois ele é o melhor exemplo que temos do tal efeito borboleta.
Outro personagem que aparece sorrateiramente no começo da série e conquista seu espaço merecidamente é Tony (Christian Navarro). Tony é aquele amigo que muitos deveriam ter. Ele é o exemplo de amigo que estende a mão, dá o ombro pra você chorar, dá bronca quando precisa e deixa você xingar o mundo para aliviar a sua dor. No entanto, Tony também carrega um grande fardo nas costas e, assim que descobrimos o que é, entendemos perfeitamente o seu papel na série e na vida dos personagens.
Considerações finais
13 Reasons Why é uma série que vai te abalar durante 13 episódios. Há três episódios surpreendentes e dois deles foram muito difíceis de assistir devido ao seu impacto. Inclusive, eles vêm com um aviso alertando os telespectadores sobre as cenas fortes que serão exibidas. O final desta primeira temporada amarra a trama abordada, mas deixa algumas pontas soltas para o desenrolar de uma ótima história para uma segunda temporada (estou torcendo para que tenha). A série pesa e impacta ao tratar de bullying, estupro, drogas, violência, assédio, depressão e suicídio, tópicos que muitos passam por eles e poucos falam. 13 Reasons Why acerta em cheio na narrativa, no desenvolvimento dos personagens, na incrível trilha sonora, no desfecho da trama e, é claro na lição que todos precisam aprender:
– A vida é essencial e importante demais para não se importar mais;
– Há muito mais coisas que vão além da adolescência. Seja forte e procure ajude se precisar;
– Não seja a vítima;
– Mas também não seja O PORQUÊ na vida de alguém;
– Seja sensível e compreensível com os outros; você NÃO sabe o que aquela pessoa está sentido, pensando e passando no momento.
– Não ignore um pedido de ajuda; Principalmente, não ignore aquele que dá o alerta de que vai desistir de tudo.
E aí, o que acharam dessa série maravilhosa? Deixem nos comentários!
Trilha sonora de 13 Reasons Why
Only You – Selena Gomez
The Only Exception – Paramore
Heroes (1999 Remastered Version) – David Bowie
A 1000 Times – Hamilton Leithauser + Rostam
Human – The Killers
Asleep (2008 Remastered Version) –The Smiths
Don’t You (Forget About Me) – Simple Minds
Could It Be Another Change – The Samples
Stand by Me – Oasis
Dançando – Agridoce
I Follow Rivers (The Magician Remix) – Lykke Li
Yellow – Coldplay
Gypsy – Lady Gaga
A Thousand Years – Christina Perri
Everybody Hurts – R.E.M
Ficha Técnica
13 Reasons Why (Os 13 Porquês)
Baseado na obra de Jay Asher
Criação e Produção: Brian Yorkey e Selena Gomez
Elenco: Katherine Langford, Dylan Minnette, Christian Navarro, Kate Walsh, Brian d’Arcy James, Brandon Flynn, Alisha Boe, Justin Prentice, Miles Heizer, Ross Butler, Devin Druid, Amy Hargreaves, Derek Luke, Ajiona Alexus, Tommy Dorfman, Steven Silver, Michele Selene Ang, Josh Hamilton, Keiko Agena e Uriah Shelton.
Duração: 13 episódios
Nota: 10 (1ª temporada)
Fotos: Netflix